Café descafeinado é mesmo seguro? Entenda os possíveis perigos para a saúde

Café descafeinado é opção para quem deseja evitar cafeína, mas gera dúvidas sobre segurança. Especialistas explicam os reais riscos à saúde

O café descafeinado tem ganhado espaço, principalmente entre pessoas sensíveis à cafeína. A bebida oferece uma alternativa para quem aprecia o sabor, mas prefere evitar efeitos como insônia e agitação. Ainda assim, sua produção levanta questionamentos sobre o uso de solventes químicos no processo.

Segundo o Centro de Pesquisa e Educação em Café da Universidade Texas A&M (coffee.tamu.edu), o interesse pelo produto aumentou nos últimos anos.

Dados mostram que, nos Estados Unidos, mais de 26 milhões de pessoas consomem café descafeinado com frequência. O número cresce à medida que preocupações com hipertensão, sono e saúde em geral se intensificam.

No entanto, parte dos consumidores ainda desconhece como ocorre a retirada da cafeína dos grãos. A maioria dos métodos envolve substâncias químicas, como cloreto de metileno e acetato de etila. A segurança desses compostos, portanto, virou foco de debates em órgãos de saúde e pesquisa.

Café descafeinado é mesmo seguro Entenda os possíveis perigos para a saúde
Café descafeinado pode apresentar mais risco à saúde que café comum – Crédito: freepik / Freepik

Técnicas industriais utilizam solventes químicos no processo de retirada da cafeína

Existem diferentes técnicas para remover a cafeína dos grãos de café, cada uma com particularidades. Dois métodos populares utilizam solventes: o cloreto de metileno e o acetato de etila. Ambos atuam dissolvendo a cafeína, que é retirada após o contato com os grãos já expandidos pelo vapor.

O processo começa com a vaporização de grãos verdes, que ainda não foram torrados. Isso faz com que os poros dos grãos se abram, facilitando a atuação dos solventes. Após a extração da cafeína, os grãos são novamente lavados, vaporizados e finalmente torrados.

Durante a torra, os solventes químicos evaporam quase completamente. Isso acontece porque a temperatura de ebulição do cloreto de metileno é de cerca de 40 °C e a do acetato de etila é de 77 °C. Com isso, os resíduos presentes nos grãos tendem a desaparecer antes da bebida chegar à xícara.

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Especialistas indicam que os resíduos presentes estão em níveis seguros para consumo

Embora a presença de produtos químicos possa soar alarmante, as quantidades residuais no café descafeinado são extremamente pequenas.

A Food and Drug Administration – FDA (fda.gov) estabelece que a bebida pode conter no máximo 0,001% de cloreto de metileno. Especialistas apontam que essa quantidade não representa risco.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (epa.gov) baniu o uso industrial do cloreto de metileno em diversas aplicações. No entanto, o uso em alimentos permanece permitido, desde que dentro dos limites legais.

A decisão tem como base estudos sobre a exposição ocupacional, que indicam risco apenas em contextos industriais.

O acetato de etila, por sua vez, ocorre naturalmente em frutas como maçã, goiaba e uva. Embora seja usado também em cosméticos e tintas, não há evidências científicas de que seu uso em processos alimentares ofereça riscos. A exceção são os casos de contato direto com olhos ou pele em níveis elevados.

Métodos sem solventes ganham espaço entre marcas que buscam diferenciação

Consumidores preocupados com a presença de produtos químicos podem optar por métodos alternativos. O Processo Swiss Water, por exemplo, utiliza apenas água e carvão ativado para remover a cafeína. Esse método é considerado mais natural e não emprega solventes industriais em nenhuma etapa.

Marcas que utilizam esse processo costumam identificá-lo no rótulo com termos como “Swiss Water Decaf” ou “Processo por Água”. A técnica mantém a integridade dos compostos antioxidantes e oferece segurança sem comprometer o sabor.

Além disso, o método é ambientalmente mais sustentável e atende consumidores com preocupações ecológicas. Como resultado, cresce o número de empresas que adotam essa técnica, principalmente nos mercados norte-americano e europeu.

Compostos benéficos à saúde permanecem mesmo após o processo de descafeinação

O café descafeinado conserva muitos dos compostos antioxidantes encontrados na versão tradicional. Estudos mostram que substâncias como ácidos clorogênicos permanecem presentes após o processo de descafeinação. Esses antioxidantes ajudam a combater inflamações e proteger células.

Uma meta-análise de 2014, publicada no Diabetes Care (diabetesjournals.org/care), concluiu que consumidores de café, incluindo os que optam pelo descafeinado, têm menor risco de desenvolver diabetes tipo 2.

O estudo avaliou 28 pesquisas e identificou uma relação entre o número de xícaras consumidas e a redução de risco.

Além disso, pesquisadores da Universidade do Texas (utexas.edu) indicam que o consumo de café, mesmo sem cafeína, pode reduzir o risco de doenças neurodegenerativas. As substâncias presentes nos grãos contribuem para a saúde cerebral e cardiovascular.

Evidências científicas mostram efeitos positivos mesmo em doenças cardiovasculares

Um estudo publicado em 2022 no European Journal of Preventive Cardiology (academic.oup.com/eurjpc) analisou 449 mil pessoas por mais de 12 anos.

Os resultados apontaram redução nos riscos de doenças cardíacas em consumidores de café, inclusive entre os que bebiam apenas a versão descafeinada. A principal exceção foi a relação com arritmias.

De acordo com especialistas, a cafeína pode exercer um papel específico na estabilidade do ritmo cardíaco. Por isso, o café comum demonstrou maior efeito nesse aspecto. No entanto, os demais benefícios foram observados em ambas as versões.

A American Heart Association (heart.org) já não recomenda que médicos restrinjam o café de forma generalizada. Ao contrário, defende que o consumo moderado pode integrar hábitos saudáveis. O café, seja com ou sem cafeína, continua sendo uma das bebidas mais estudadas e utilizadas em todo o mundo.

Estudos consideram que hábitos associados ao café podem interferir nos resultados

É importante destacar que o consumo de café frequentemente acompanha outros hábitos.

Pesquisas mostram que pessoas que adicionam açúcar ou cremes industrializados podem anular parte dos benefícios da bebida. Isso vale tanto para o café comum quanto para o descafeinado, segundo estudos nutricionais recentes.

Estudos observacionais indicam que fumantes, por exemplo, tendem a consumir mais café, o que pode distorcer conclusões sobre riscos associados. Por isso, ao analisar os efeitos do café, é essencial considerar o contexto geral da saúde e do estilo de vida de cada indivíduo.

A recomendação da FDA é limitar o consumo de cafeína a até 400 miligramas por dia. Para quem é sensível ou deseja evitar a substância, o café descafeinado representa uma alternativa segura e ainda benéfica.