Qual a diferença entre Alzheimer e demência: veja como identificar

O envelhecimento traz consigo uma série de transformações naturais, e pequenas falhas de memória ou de raciocínio são frequentemente vistas como parte desse processo. Contudo, quando esses lapsos se tornam persistentes e começam a interferir nas atividades diárias, eles podem sinalizar uma condição mais complexa.

Nesse cenário, os termos “demência” e “Alzheimer” surgem com frequência, muitas vezes utilizados como sinônimos, o que gera confusão. Embora estejam relacionados, eles não significam a mesma coisa. Compreender a distinção entre eles é fundamental para um diagnóstico correto e para o manejo adequado da condição.

A demência é um termo abrangente que descreve um conjunto de sintomas, enquanto a doença de Alzheimer é a causa mais comum por trás desses sintomas. A falta de clareza sobre essa diferença pode levar a interpretações equivocadas sobre o quadro clínico, o prognóstico e as formas de cuidado necessárias.

O esclarecimento sobre as definições de cada termo, as principais diferenças, os sintomas associados e os caminhos para o diagnóstico é, portanto, essencial. A informação correta se torna a principal ferramenta para que familiares e pacientes possam lidar com os desafios impostos por essas condições de forma mais consciente e preparada.

O que é demência e como ela afeta o cérebro

Demência é um termo genérico, como um “guarda-chuva”, usado para descrever uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas que resultam de um declínio progressivo da função cerebral. Ela não é uma doença específica, mas sim a consequência de diversas doenças que afetam o cérebro, causando a degeneração e a morte de neurônios.

Essa deterioração cerebral afeta múltiplas habilidades cognitivas. As mais conhecidas são a memória, a capacidade de raciocínio e o pensamento lógico. Contudo, a demência também pode comprometer a linguagem, a orientação espacial, a capacidade de julgamento e a habilidade de realizar tarefas complexas do dia a dia.

Para que um quadro seja classificado como demência, o declínio cognitivo deve ser suficientemente severo a ponto de interferir na independência e na autonomia da pessoa. Em outras palavras, as dificuldades devem ser tão pronunciadas que a pessoa passa a precisar de ajuda para realizar atividades que antes fazia sozinha, como gerenciar as próprias finanças ou se locomover.

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Entenda o que caracteriza o Alzheimer

A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência, representando entre 60% e 80% de todos os casos. Trata-se de uma doença neurodegenerativa progressiva e, até o momento, incurável. Ela se caracteriza pelo acúmulo anormal de duas proteínas no cérebro: a beta-amiloide e a tau.

O acúmulo da proteína beta-amiloide forma placas nos espaços entre os neurônios, o que gera um processo inflamatório e danifica as células cerebrais. Esse dano, por sua vez, leva a uma desregulação da proteína tau, que forma emaranhados tóxicos dentro dos neurônios, causando a morte celular e a interrupção da comunicação entre as áreas do cérebro.

Esse processo patológico geralmente começa na região do hipocampo, a área do cérebro responsável pela formação de novas memórias. É por essa razão que o sintoma inicial mais característico da doença de Alzheimer é a dificuldade em reter informações recentes, como esquecer conversas que acabaram de acontecer ou eventos do mesmo dia.

Diferenças principais entre Alzheimer e outras demências

A principal diferença é conceitual: demência é a síndrome (o conjunto de sintomas), enquanto o Alzheimer é uma das doenças que causam essa síndrome. Dito de outra forma, toda pessoa com Alzheimer tem demência, mas nem toda pessoa com demência tem Alzheimer, pois a causa pode ser outra.

Outra diferença importante está nos sintomas iniciais. No Alzheimer, a perda de memória de curto prazo é quase sempre o primeiro sinal. Em outros tipos de demência, os sintomas iniciais podem ser diferentes. Na demência frontotemporal, por exemplo, as primeiras alterações costumam ser no comportamento e na personalidade, com impulsividade e apatia.

A demência vascular, a segunda causa mais comum, é provocada por problemas no fluxo sanguíneo para o cérebro, como múltiplos pequenos AVCs. Seus sintomas podem variar muito dependendo da área do cérebro afetada, podendo se manifestar como lentidão de raciocínio ou confusão geral. Já a demência por corpos de Lewy frequentemente apresenta alucinações visuais e sintomas motores semelhantes aos do Parkinson.

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Quais são os primeiros sintomas de cada condição

No caso da doença de Alzheimer, o primeiro sintoma a ser notado é, na grande maioria das vezes, a dificuldade em memorizar fatos novos. A pessoa começa a repetir as mesmas perguntas, esquece recados importantes e tem dificuldade para lembrar de eventos recentes, embora consiga se recordar com clareza de fatos antigos de sua vida.

Na demência frontotemporal, os sinais iniciais são comportamentais. O indivíduo pode se tornar mais desinibido, fazendo comentários inadequados, ou apático e desinteressado pelas atividades que antes gostava. Mudanças na preferência alimentar e comportamentos compulsivos também são comuns nesta fase inicial.

A demência vascular pode se apresentar de forma mais súbita ou em degraus, com pioras abruptas após cada evento vascular. Os sintomas dependem da localização do dano cerebral e podem incluir dificuldade de planejamento, lentidão no processamento de informações e problemas de atenção. A perda de memória pode não ser o sintoma predominante no início.

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O diagnóstico diferencial, realizado por um médico especialista, é fundamental para identificar a causa da demência e direcionar o tratamento correto – Crédito: freepik / Freepik

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer e demência

O diagnóstico de um quadro de demência é um processo clínico complexo, que deve ser conduzido por um médico especialista, como um neurologista, um geriatra ou um psiquiatra. Não existe um único exame que confirme o diagnóstico. Ele é feito com base na combinação de várias avaliações.

O processo começa com uma entrevista detalhada com o paciente e com seus familiares para coletar o histórico de saúde e entender o início e a progressão dos sintomas. Em seguida, são aplicados testes cognitivos e neuropsicológicos para avaliar as diferentes funções cerebrais, como memória, linguagem e raciocínio.

Exames de imagem, como a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada do cérebro, são solicitados para descartar outras causas para os sintomas, como tumores ou AVCs, e para identificar padrões de atrofia cerebral que possam sugerir um tipo específico de demência. Em alguns casos, exames mais específicos, como o PET scan, podem ser utilizados para detectar as proteínas associadas ao Alzheimer.

Existe cura ou tratamento para essas doenças?

Atualmente, não existe cura para a doença de Alzheimer nem para a maioria das outras demências neurodegenerativas. O tratamento disponível tem como objetivo controlar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores, mas não é capaz de reverter o dano cerebral já estabelecido.

O tratamento medicamentoso para o Alzheimer inclui fármacos que atuam na regulação de neurotransmissores, como os inibidores da acetilcolinesterase, que podem ajudar a melhorar temporariamente a função cognitiva e a memória. Recentemente, novas terapias que visam remover as placas de proteína beta-amiloide têm sido desenvolvidas, mas seu uso ainda é restrito.

Além dos medicamentos, o tratamento não farmacológico é fundamental. Terapias de estimulação cognitiva, fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia ajudam a manter a funcionalidade do paciente por mais tempo. O manejo de sintomas comportamentais, como agitação e depressão, também faz parte do plano de cuidados.

Quem tem mais risco de desenvolver Alzheimer ou demência

O principal fator de risco para o desenvolvimento da maioria das demências, incluindo o Alzheimer, é a idade avançada. A probabilidade de desenvolver a doença aumenta significativamente após os 65 anos. A genética também desempenha um papel, especialmente em casos de início precoce da doença de Alzheimer.

Fatores de risco cardiovasculares estão fortemente associados tanto ao Alzheimer quanto à demência vascular. Condições como hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto e obesidade na meia-idade aumentam o risco de desenvolver demência na velhice. O tabagismo e o consumo excessivo de álcool também são fatores de risco conhecidos.

Por outro lado, alguns fatores são considerados protetores. Manter um estilo de vida ativo, com a prática regular de atividades físicas, uma dieta equilibrada, como a dieta do Mediterrâneo, e o engajamento em atividades que estimulam o cérebro, como ler, aprender um novo idioma ou tocar um instrumento musical, podem ajudar a reduzir o risco.

Dicas para cuidar de alguém com Alzheimer ou outro tipo de demência

Cuidar de uma pessoa com demência é uma tarefa desafiadora que exige paciência, empatia e conhecimento. Uma das principais dicas é estabelecer uma rotina estruturada e previsível. Manter horários regulares para as refeições, o sono e as atividades diárias ajuda a reduzir a ansiedade e a confusão do paciente.

A comunicação deve ser adaptada. É importante falar de forma clara, com frases curtas e simples, e dar tempo para que a pessoa processe a informação e responda. Manter o contato visual e usar uma linguagem corporal calma e acolhedora também facilita a interação e transmite segurança ao paciente.

O ambiente da casa deve ser seguro e adaptado para prevenir acidentes. Isso inclui a remoção de tapetes, a instalação de barras de apoio em banheiros e a boa iluminação dos cômodos. É fundamental também que o cuidador busque apoio para si mesmo, seja por meio de grupos de suporte, terapia ou ajuda de outros familiares, para evitar o próprio esgotamento.

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Quando procurar ajuda médica ao notar os sintomas

A decisão de procurar ajuda médica deve ser tomada assim que os primeiros sinais de declínio cognitivo forem notados e começarem a gerar preocupação. Esquecimentos pontuais são normais, mas quando a perda de memória se torna frequente e afeta a capacidade de realizar tarefas do dia a dia, a avaliação de um profissional é indicada.

Mudanças de comportamento ou de personalidade que não têm uma causa aparente também são um motivo para buscar orientação. Se uma pessoa antes calma se torna irritadiça, ou se alguém antes sociável passa a se isolar, isso pode ser um sinal de alerta, especialmente em idosos.

Não se deve esperar que a situação se agrave para procurar um diagnóstico. Quanto mais cedo a causa da demência for identificada, mais cedo o tratamento e as estratégias de cuidado podem ser iniciados. O diagnóstico precoce permite um melhor planejamento para o futuro e melhora a qualidade de vida tanto do paciente quanto da família.