Usar IA no trabalho pode dar demissão por justa causa? Entenda as regras

Hoje em dia, o uso da IA está presente em qualquer tarefa, seja no trabalho ou nos estudos, o que pode gerar complicações

A IA transformou radicalmente a forma como empresas e profissionais lidam com tarefas do cotidiano. Plataformas como ChatGPT, Gemini Google e Microsoft Copilot já fazem parte de diversos setores, otimizando processos e aumentando a produtividade.

No entanto, essa tecnologia também exige responsabilidade, pois seu uso inadequado dentro das corporações pode gerar sérias consequências. À medida que as ferramentas se popularizam, crescem as dúvidas sobre limites éticos, legais e trabalhistas no ambiente profissional.

Questões sobre segurança de dados, propriedade intelectual e transparência se tornam cada vez mais urgentes. Por isso, compreender o papel da inteligência artificial nas relações de trabalho é essencial para evitar conflitos, proteger informações sensíveis e garantir o cumprimento das normas vigentes.

Se você ua IA no trabalho, veja se pode dar problema.
Se você usa IA no trabalho, veja se pode dar problema. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / pronatec.pro.br

Uso de IA pode levar à justa causa?

O avanço da IA trouxe inúmeras vantagens, mas também abriu espaço para novas formas de conduta inadequada nas empresas. Segundo especialistas, o uso de ferramentas de inteligência artificial sem autorização da companhia pode gerar demissão por justa causa.

Isso ocorre especialmente quando envolve quebra de confiança ou violação de políticas internas. Mesmo sem uma lei específica que trate diretamente do tema, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) já possui dispositivos que permitem enquadrar esse tipo de comportamento.

O artigo 482, por exemplo, cita hipóteses de indisciplina, mau procedimento e violação de segredo profissional como justificativas para dispensa imediata. O enquadramento depende do contexto, na verdade, por isso tudo varia.

Se o funcionário inserir dados sigilosos em plataformas externas, compartilhar documentos internos sem autorização ou usar IA para gerar relatórios sem informar o gestor, a empresa pode interpretar o ato como falta grave.

Além disso, o risco aumenta em ambientes que lidam com informações estratégicas ou dados pessoais de clientes. O uso desautorizado de IA nesses casos pode violar regras de confidencialidade e até comprometer a segurança da organização.

Saiba mais: Faça isto para aumentar sua aposentadoria até o teto do INSS

Quando a IA vira problema no serviço?

A confiança é a base de qualquer relação de trabalho e, segundo especialistas, o mau uso da IA pode comprometer esse vínculo. Quando o colaborador utiliza uma ferramenta de inteligência artificial fora das regras definidas pela empresa, a situação pode ser enquadrada como quebra de confiança.

Isso se aplica tanto a companhias com políticas internas formalizadas quanto àquelas que ainda não definiram regras específicas. Mesmo sem diretrizes escritas, o uso abusivo ou imprudente pode justificar uma demissão por justa causa, principalmente se causar prejuízos financeiros ou expor dados.

O problema não está no uso da IA em si, mas na forma como ela é utilizada. Inserir informações corporativas, manipular relatórios ou utilizar respostas automáticas sem revisão são exemplos de comportamentos que podem prejudicar a empresa e configurar mau procedimento.

A confiança entre empregador e empregado é frágil e pode ser rompida por atitudes que revelem descuido, desonestidade ou falta de transparência. Por isso, compreender as normas internas e pedir autorização antes de utilizar qualquer ferramenta é essencial para manter uma relação profissional.

Outro ponto que merece atenção é a proteção de dados. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também se aplica ao uso de IA. Inserir informações de clientes, contratos ou projetos estratégicos em plataformas abertas pode violar a lei e expor a empresa a riscos jurídicos.

Além disso, muitas ferramentas utilizam os dados fornecidos pelos usuários para aprimorar seus sistemas, o que retira da organização o controle sobre essas informações. Por isso, as companhias devem priorizar o uso de sistemas corporativos seguros e evitar o compartilhamento de dados sensíveis.

Veja mais: Saiba quando o governo paga o Bolsa Família em novembro

O que o funcionário pode fazer em caso de demissão?

A demissão por justa causa é a penalidade mais grave prevista pela CLT e traz consequências diretas para o trabalhador. Nesse tipo de desligamento, o funcionário perde quase todos os direitos rescisórios, mantendo apenas o saldo de salário e eventuais férias vencidas com acréscimo de um terço.

Ele não recebe aviso-prévio, 13º proporcional, nem pode sacar o FGTS ou acessar o seguro-desemprego. Por isso, é fundamental compreender os motivos que levaram à dispensa e, se necessário, buscar orientação jurídica para avaliar a legitimidade da decisão.

A penalidade deve ser proporcional à falta cometida. O simples uso de uma ferramenta de IA, sem dolo ou prejuízo efetivo, não deve automaticamente resultar em justa causa. É necessário analisar o contexto, o grau de responsabilidade do trabalhador e se houve reincidência.

Caso o colaborador considere a demissão injusta, ele pode recorrer à Justiça do Trabalho e solicitar a reversão da penalidade. Por fim, os especialistas recomendam que empresas e funcionários adotem medidas preventivas.

As organizações devem criar políticas internas claras sobre o uso de IA, homologar ferramentas seguras e capacitar suas equipes sobre os riscos legais e éticos envolvidos. Já os trabalhadores devem revisar todo conteúdo gerado por IA antes de apresentá-lo e informar o gestor sobre o uso da tecnologia.

Veja outros: Quer começar a investir? Veja como a IA pode te ajudar nisso!