Ford encerra mega projeto no Brasil com cidade abandonada
Na década de 1920, um projeto ambicioso tomou forma na Amazônia: Fordlândia. Essa cidade, que fica às margens do Rio Tapajós, no Pará, foi criada por Henry Ford com o objetivo de produzir látex e diminuir a dependência do mercado europeu. A borracha era fundamental para a fabricação de pneus e peças da Ford Motor Company, e a ideia de Ford era não apenas garantir o suprimento dessa matéria-prima, mas também construir uma cidade autossustentável, que seguisse os padrões do modo de vida norte-americano.
A proposta era inovadora para a época e a localização. Fordlândia se apresentava como uma cidade-modelo, com hospital, escolas e casas projetadas no estilo suburbano dos Estados Unidos. Para criar um ambiente de entretenimento e lazer, até um campo de golfe e piscinas foram incluídos. Essa tentativa de importar um estilo de vida tipicamente americano para o meio da selva amazônica trouxe à tona vários desafios.
Infelizmente, a monocultura das seringueiras não conseguiu se estabelecer como esperado. Pragas, como o fungo Microcyclus ulei, e condições climáticas adversas dificultaram a produção. Além disso, as regras rígidas estabelecidas por Ford, que incluíam horários fixos para as refeições, chocavam com os costumes locais, gerando tensões.
A construção de uma cidade-modelo
Fordlândia surgiu como uma verdadeira cidade idealizada, mas isso não poupou o empreendimento de grandes dificuldades. As práticas de cultivo e as normas de vida impactaram negativamente a relação com os trabalhadores locais, que não se viam representados naquele cenário. Em 1930, a insatisfação culminou em uma revolta marcante, conhecida como “quebra-panelas”, onde muitos destruíram partes da cidade em protesto.
Com o avanço da borracha sintética nos anos 40, a relevância do látex natural caiu consideravelmente. Em 1945, já sob a direção de Henry Ford II, o projeto foi encerrado e Fordlândia acabou sendo devolvida ao governo brasileiro por um valor simbólico de aproximadamente 250 mil dólares.
Legado e futuro de Fordlândia
Apesar de ter sido um fracasso em termos financeiros, a história de Fordlândia ainda desperta interesse. Hoje em dia, a cidade abriga cerca de 1.200 pessoas, de acordo com estimativas de 2010. Há iniciativas em andamento para tornar o local um patrimônio histórico, preservando sua estrutura original e a narrativa fascinante desse ambicioso projeto.
Esses esforços atraem acadêmicos e turistas curiosos, mantendo viva a memória desse empreendimento audacioso no coração da Amazônia, que nos lembra das complexas interações entre culturas e economias.