Ferrovia Norte-Sul se conecta ao Porto de Santos em 2025

A Ferrovia Norte-Sul, que foi desenhada para se tornar um verdadeiro coração logístico do Brasil, finalmente chegou a um ponto crucial. Após mais de 30 anos de obras e correções, essa ferrovia agora se conecta ao Porto de Santos. No entanto, a realidade do dia a dia mostra que, apesar desse marco, o impacto desejado ainda enfrenta alguns desafios.

Embora a ferrovia chegue ao seu destino, ela não consegue operar com toda a sua potência. Problemas antigos, como a incompatibilidade de trilhos e o congestionamento nas linhas de São Paulo, ainda atrapalham essa artéria vital do transporte no Brasil, que se vê forçada a desaguar em pequenos canos congestionados.

Um projeto de 30 anos: A longa e controversa saga da “espinha dorsal” do Brasil

A história da Ferrovia Norte-Sul começou em 1987, durante o governo de José Sarney, com a ambição de conectar o norte ao sudeste do país. A ideia era integrar a nova fronteira agrícola do Cerrado aos principais portos do Brasil. Contudo, o projeto se arrastou por décadas, enfrentando uma série de barreiras como instabilidade econômica e investigações de irregularidades.

A partir de 2007, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a construção ganhou novos impulsos. Em 2019, a Rumo Logística ganhou o leilão para finalizar os trechos Central e Sul, investindo R$ 4 bilhões. Finalmente, em junho de 2023, o trecho final que liga Goiás ao Porto de Santos foi inaugurado.

A conexão final: O desafio de levar a carga até o Porto de Santos

O ponto onde a Ferrovia Norte-Sul se torna um corredor de exportação é em Estrela d’Oeste, São Paulo, onde se conecta à Malha Paulista, também da Rumo. Essa malha é crucial para levar os produtos do agronegócio até o Porto de Santos.

A Rumo tem investido bilhões para melhorar a capacidade dessa malha, com trens que podem transportar até 135 vagões. Mas, há um problema: todo esse volume de carga acaba em um funil. O acesso ferroviário ao Porto de Santos já está quase saturado, e não acompanha o ritmo do que chega de longe.

Os grandes obstáculos no meio do caminho: Bitola e o conflito em São Paulo

Ademais, dois problemas estruturais limitam o potencial da Ferrovia Norte-Sul. O primeiro é a diferença de bitola. Enquanto a Ferrovia foi construída em bitola larga (1,60 m), cerca de 75% da malha ferroviária do Brasil é de bitola métrica (1,00 m). Isso dificulta a movimentação dos trens entre as ferrovias, exigindo operações de transbordo que aumentam custos e atrasos.

Além disso, há o congestionamento na Região Metropolitana de São Paulo. Os trens de carga precisam dividir os trilhos com os trens de passageiros da CPTM, limitando a circulação de cargas a horários específicos, geralmente à noite. Essa situação cria um verdadeiro engarrafamento na logística. O projeto do Ferroanel de São Paulo, que poderia solucionar essa questão, é discutido há décadas, mas ainda não saiu do papel.

O impacto na economia: Reduzindo o “Custo Brasil” apesar dos entraves

Apesar dessas dificuldades, a Ferrovia Norte-Sul já está mostrando sinais de impacto positivo. O transporte de grãos e outras mercadorias por trilhos é muito mais eficiente e econômico comparado ao rodoviário. Estudos mostram que o frete ferroviário pode ser até 40% mais barato em longas distâncias.

Essa redução de custo torna os produtos do agronegócio brasileiro mais competitivos no mercado internacional. Em 2022, mesmo antes da conclusão total da obra, os trechos centrais da ferrovia contribuíram para um aumento de 25% nas exportações do estado de Goiás, evidenciando a demanda por um transporte mais eficiente.

A Ferrovia Norte-Sul é a solução ou um projeto incompleto?

A Ferrovia Norte-Sul é, sem dúvida, uma obra de infraestrutura que tem o potencial de transformar bastante a logística no Brasil. Porém, ainda há muito a ser feito para que ela possa operar totalmente. A imagem que se desenha em 2025 é a de uma "artéria de alta capacidade que deságua em capilares congestionados".

A conclusão do eixo principal é uma grande vitória, mas a batalha pela eficiência logística vai além disso. O futuro da Ferrovia Norte-Sul, e o seu impacto real na economia, dependem de quebrar os gargalos históricos que ainda afetam a malha ferroviária do Sudeste, dando prioridade à construção do Ferroanel de São Paulo.