Os anos finais do ensino fundamental, que vão do 6º ao 9º ano, marcam uma fase de transição importante na vida dos estudantes. Essa é uma etapa cheia de desafios, já que os alunos estão saindo da infância e entrando na adolescência. Para entender melhor as necessidades e sentimentos desse grupo, foi lançada uma pesquisa recentemente. Ela ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes em aproximadamente 21 mil escolas pelo Brasil. Os resultados mostram que, embora mais da metade dos alunos se sinta acolhida, menos de 40% deles valorizam e respeitam seus professores.
Essa pesquisa é resultado de uma colaboração entre o Ministério da Educação (MEC), a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e o Itaú Social. A coleta de dados aconteceu durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, um evento que envolveu cerca de 46% das escolas que oferecem essa etapa de ensino nas redes municipais, estaduais e distrital.
Durante o lançamento do relatório, a secretária da Secretaria de Educação Básica do MEC, Katia Schweickardt, destacou a importância de ouvir os adolescentes. Ela explicou que cada um aprende de uma maneira diferente e que esse conhecimento deve ser usado para adaptar o ambiente escolar. “É essencial preparar professores e a estrutura das escolas para atender a essa diversidade”, afirmou.
Pesquisa
Os alunos foram divididos em dois grupos: os mais novos, do 6º e 7º ano, e os mais velhos, do 8º e 9º. Mesmo com uma diferença de idade pequena, as respostas mostram contrastes notáveis. Em geral, os estudantes mais velhos têm uma visão menos favorável sobre a escola em comparação aos mais novos.
A pesquisa quis entender como os alunos percebem sua escola, as matérias que consideram importantes, suas formas de aprender e a convivência com os colegas. Curiosamente, os estudantes do 8º e 9º anos são mais críticos em relação ao ambiente escolar.
A superintendente do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, lembrou que, por muito tempo, o Brasil não teve políticas específicas para a educação nessa faixa etária. Desde 2023, com o projeto Escola das Adolescências, o MEC começou a dialogar com diferentes setores da sociedade para melhorar essa situação.
Acolhimento
Sobre o tema de acolhimento, 66% dos alunos do 6º e 7º anos afirmaram que se sentem bem acolhidos na escola, enquanto entre os do 8º e 9º anos, esse número cai para 54%. Apenas 75% dos mais novos confiam em pelo menos um adulto na escola, mas apenas 58% se sentem realmente acolhidos. Para os alunos mais velhos, esse percentual é de apenas 45%.
A pesquisa mostra que, nas escolas com estudantes mais vulneráveis, 69% sentem que a escola é um lugar acolhedor, versus 56% nas escolas com menor vulnerabilidade.
Socialização
Quando se trata de socialização, 65% dos alunos do 6º e 7º anos concordam que a escola é um bom lugar para fazer amigos, enquanto 55% dos mais velhos compartilham essa visão. Contudo, o respeito pelos professores é uma preocupação: apenas 39% dos mais novos e 26% dos mais velhos afirmam valorizar seus educadores.
Dandara Vieira Melo, uma aluna de 13 anos da rede pública de Rio Branco, compartilhou sua experiência positiva após o atendimento no Programa Travessia, do Unicef. Para ela, a escola se tornou um espaço de aprendizado e novas amizades.
Formação
Quando perguntados sobre o que consideram mais importante para seu desenvolvimento, os estudantes mais novos destacaram as matérias tradicionais (48%), seguidas por temas como saúde e bem-estar (31%). Habilidades voltadas para o futuro, como educação financeira, também foram citadas como relevantes.
No 8º e 9º anos, as disciplinas tradicionais ainda são prioridade, mas com uma menor porcentagem (38%). Os temas socioemocionais seguem na lista, assim como as habilidades para o futuro, que agora são mencionadas por 24% dos alunos.
Essa pesquisa traz à tona questões importantes sobre o que alunos dessa faixa etária pensam e sentem dentro das escolas, revelando a necessidade de um olhar mais atento para suas vivências e perspectivas.