Alerta de Mudança na Herança: Projetos no Senado Querem Tirar Viúvos da Lista de Herdeiros

Duas propostas legislativas buscam retirar o cônjuge sobrevivente do rol de herdeiros necessários, abrindo caminho para que o falecido decida, via testamento, quem herda seus bens.

A forma como dividimos a herança no Brasil pode estar prestes a mudar radicalmente. Duas propostas no Senado colocam no centro do debate a situação de viúvos e viúvas na sucessão de bens.

Atualmente, o Código Civil coloca o cônjuge sobrevivente como um herdeiro necessário em várias situações. Isso garante uma parte mínima da herança, mesmo que não haja testamento.

Os projetos de lei de 2019 e de 2025 propõem retirar essa garantia automática. Em termos simples, isso significa que a pessoa que falece teria mais liberdade para decidir, via testamento, quem fica com o patrimônio.

Esta pauta é extremamente delicada porque mexe com a proteção familiar, o planejamento financeiro de casais e a validade dos regimes de bens. Mudar essa regra afeta diretamente a vida de viúvos, filhos e até dos pais do falecido.

O Que Exatamente Está em Jogo

A essência das propostas é permitir que o falecido possa excluir o cônjuge da sucessão legítima por meio de um testamento.

Hoje, se uma pessoa tem um testamento, ela só pode dispor de metade dos bens; a outra metade, a chamada “legítima”, é reservada aos herdeiros necessários, onde o cônjuge se encaixa. Com a mudança, essa blindagem pode desaparecer.

A ideia central dos autores das propostas é aumentar a autonomia privada. Eles argumentam que a lei atual, ao equiparar o cônjuge a filhos e pais, cria distorções.

Em muitos casos, o direito de herdar automaticamente frustra o planejamento patrimonial de casais, especialmente em segundas uniões ou quando há bens adquiridos antes do casamento.

Um projeto, o PL 3799/2019, nasceu de debates técnicos e busca igualar o tratamento entre cônjuge e companheiro, dando mais liberdade ao testador para tentar reduzir brigas e acelerar inventários.

O outro, o PL 4/2025, faz parte de um pacote maior para atualizar o Código Civil. Ele questiona qual deve ser o papel do cônjuge na herança em um Brasil com arranjos familiares cada vez mais diversos.

A meação e a herança são conceitos diferentes, e é fundamental entender isso. A meação garante ao cônjuge sobrevivente 50% do que foi adquirido durante o casamento, dependendo do regime de bens. Essa meação continua protegida.

A discussão acontece sobre a herança, que é a parte dos bens que pertencia somente ao falecido. É sobre essa parte que o cônjuge concorre com os descendentes ou ascendentes.

No regime de comunhão parcial de bens, onde existe meação, a mudança afeta a parte que excede os 50% garantidos. Se o cônjuge deixar de ser herdeiro necessário, o testamento poderia reduzir muito a parte dele.

Para quem se casou com separação total de bens, onde não existe meação sobre bens particulares, o impacto é ainda maior. O falecido poderia, por testamento, direcionar todo o patrimônio para os filhos, por exemplo, deixando o cônjuge sem nada da herança.

O Risco para Viúvos e Companheiros

Os projetos também buscam equiparar o tratamento de cônjuge e companheiro em união estável. Isso, na prática, pode reduzir as garantias automáticas para quem vive em união estável.

Sem um contrato de convivência sólido e um testamento, o risco de litígio aumenta muito. É preciso ter prova robusta da vida em comum para garantir qualquer direito.

Quem defende a mudança fala em liberdade de testar. Eles afirmam que não se deve forçar a divisão com o cônjuge em situações onde há filhos de outro casamento ou patrimônio antigo.

Por outro lado, os críticos alertam para a vulnerabilidade econômica de viúvos. Pense em um casamento longo onde um dependia financeiramente do outro.

Sem uma cota mínima garantida por lei, o risco é de o cônjuge sobrevivente ser obrigado a brigar na Justiça com filhos ou enteados. Isso pode aumentar a insegurança jurídica e a judicialização.

O Testamento Vira Item de Primeira Necessidade

Apesar da polêmica, a meação não muda e permanece resguardada conforme o regime de bens. Além disso, a discussão sobre o direito real de habitação (o direito de morar na casa da família) também ganha força.

Essa garantia de moradia é uma salvaguarda que pode evitar o desamparo total do sobrevivente. Ela precisa ser discutida em paralelo para garantir um piso mínimo de proteção.

Se essas propostas avançarem, o testamento deixará de ser um luxo ou uma opção e se transformará em uma estratégia de vida. Casais precisarão sentar e alinhar a forma como o patrimônio será dividido.

Sem um testamento muito claro e bem feito, o cenário de conflito será quase certo. Um documento claro e transparente ajuda a reduzir brigas e garante que a vontade do falecido seja respeitada, protegendo quem for mais vulnerável.