O que acontece no seu corpo 10 minutos após tomar café? Entenda os efeitos

O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, um verdadeiro ritual para milhões de pessoas que buscam em uma xícara a energia necessária para iniciar o dia. A sensação de alerta e disposição que ele proporciona é familiar, mas os processos biológicos que ocorrem no corpo logo após a ingestão são complexos e surpreendentemente rápidos.

Para muitos, o efeito estimulante parece quase instantâneo. De fato, a ciência confirma que as primeiras reações do organismo à cafeína começam a se manifestar em questão de minutos, muito antes do que a maioria das pessoas imagina. Essa velocidade de ação é o que torna o café uma ferramenta tão eficaz contra o sono e a fadiga matinal.

Contudo, os efeitos da bebida vão muito além da mente. A cafeína, seu principal composto ativo, interage com múltiplos sistemas do corpo, influenciando desde a frequência cardíaca e a pressão arterial até o funcionamento do sistema digestivo. Cada gole desencadeia uma cascata de reações fisiológicas.

Compreender o que acontece no corpo em cada etapa após o consumo de café permite não apenas satisfazer uma curiosidade científica, mas também utilizar a bebida de forma mais consciente e saudável. Conhecer seus mecanismos, benefícios e riscos é fundamental para aproveitar o melhor que o café tem a oferecer.

Por que o café age tão rápido no organismo

A rapidez com que o café produz seus efeitos se deve principalmente às propriedades químicas da cafeína. Sendo uma molécula pequena e solúvel tanto em água quanto em gordura, a cafeína é absorvida de forma extremamente eficiente pelo sistema digestivo, começando a entrar na corrente sanguínea já pela mucosa da boca e do estômago.

A maior parte da absorção, no entanto, ocorre no intestino delgado. De lá, a cafeína é distribuída por todo o corpo e, devido à sua capacidade de atravessar barreiras biológicas com facilidade, chega rapidamente a diversos órgãos. A mais importante dessas barreiras é a hematoencefálica, que protege o cérebro.

Essa facilidade em cruzar a barreira hematoencefálica é o que permite que a cafeína comece a exercer seus efeitos estimulantes no sistema nervoso central em um intervalo de tempo muito curto. Os primeiros sinais de alerta podem ser percebidos por algumas pessoas em apenas 10 minutos após a ingestão.

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O que acontece no corpo 10 minutos após o consumo de café

Nos primeiros 10 minutos após o consumo, a cafeína que alcança o cérebro começa a atuar em um mecanismo fundamental: o bloqueio dos receptores de adenosina. A adenosina é um neurotransmissor que se acumula no cérebro ao longo do dia, promovendo a sensação de cansaço e sonolência ao se ligar a seus receptores específicos.

A estrutura molecular da cafeína é muito semelhante à da adenosina, o que lhe permite encaixar-se nos mesmos receptores, agindo como um antagonista. Ao ocupar esse espaço, a cafeína impede que a adenosina se ligue e exerça seu efeito relaxante. É por isso que a sensação de fadiga começa a diminuir rapidamente.

É importante notar que a cafeína não “cria” energia. Na verdade, ela mascara a sensação de cansaço ao enganar o cérebro, bloqueando os sinais de que é hora de descansar. Com os receptores de adenosina ocupados, outros neurotransmissores estimulantes, como a dopamina e a noradrenalina, aumentam sua atividade, contribuindo para a melhora do humor e do estado de alerta.

Como a cafeína afeta o cérebro, o coração e os vasos sanguíneos

No cérebro, o bloqueio da adenosina resulta em um aumento da atividade neuronal. Isso se traduz em um estado de alerta mais aguçado, melhora na concentração, na memória de curto prazo e na velocidade de reação. É esse o efeito que torna o café tão popular entre estudantes e profissionais que precisam de foco.

No sistema cardiovascular, a cafeína pode provocar um aumento temporário da frequência cardíaca e da pressão arterial. Esse efeito ocorre porque a substância estimula a liberação de adrenalina, um hormônio que prepara o corpo para situações de “luta ou fuga”. Em pessoas saudáveis, esse aumento é geralmente modesto e transitório.

A cafeína também tem um efeito vasoconstritor em alguns vasos sanguíneos, especialmente no cérebro, o que significa que ela pode contraí-los. Essa propriedade é a razão pela qual a cafeína é um ingrediente comum em medicamentos para dor de cabeça, já que algumas enxaquecas são causadas pela dilatação desses vasos.

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Sensações físicas comuns após ingerir café

Além do conhecido estado de alerta mental, o consumo de café pode gerar outras sensações físicas perceptíveis. Uma das mais comuns é o efeito diurético. A cafeína pode inibir a produção do hormônio antidiurético (ADH), que regula a reabsorção de água pelos rins, resultando em um aumento da produção de urina.

Outra reação frequente está relacionada ao sistema digestivo. O café pode estimular o peristaltismo, que são as contrações musculares do cólon responsáveis por movimentar o bolo fecal. É por essa razão que muitas pessoas sentem vontade de evacuar logo após tomar a primeira xícara do dia.

Em algumas pessoas, especialmente quando consumido em excesso, o café pode causar tremores leves, agitação ou uma sensação de nervosismo. Isso é resultado da superestimulação do sistema nervoso central e da liberação de adrenalina. A sensibilidade a esses efeitos varia consideravelmente de indivíduo para indivíduo.

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A quantidade de cafeína varia significativamente entre o café expresso, o coado e o instantâneo, alterando a intensidade dos efeitos no corpo – Crédito: freepik / Freepik

Diferença entre café coado, expresso e instantâneo no efeito corporal

A intensidade dos efeitos do café no corpo está diretamente ligada à quantidade de cafeína ingerida, que varia conforme o tipo de grão, o método de preparo e o tamanho da porção. Um erro comum é pensar que o café expresso, por ter um sabor mais intenso, é sempre o mais forte em termos de cafeína.

Um café expresso simples (cerca de 30 ml) contém, em média, de 60 a 100 mg de cafeína. Já uma xícara grande de café coado (cerca de 240 ml) pode conter de 95 a 165 mg de cafeína. O café instantâneo, por sua vez, geralmente possui uma quantidade menor, variando de 60 a 80 mg por xícara.

Portanto, embora o expresso seja mais concentrado, uma xícara padrão de café coado pode, no final das contas, fornecer uma dose maior de cafeína. O que determina a intensidade da resposta corporal é a dose total do composto ativo, e não apenas o método de extração ou o sabor da bebida.

Quanto tempo dura o efeito da cafeína no organismo

Após a ingestão, os níveis de cafeína no sangue atingem seu pico em aproximadamente 45 a 60 minutos. É nesse momento que os efeitos estimulantes, como foco e concentração, são sentidos com maior intensidade pela maioria das pessoas.

A duração total do efeito da cafeína é determinada pela sua “meia-vida”, que é o tempo que o corpo leva para eliminar 50% da substância consumida. Em um adulto saudável, a meia-vida da cafeína é, em média, de 4 a 6 horas. Isso significa que, seis horas após tomar uma xícara, metade da cafeína ainda pode estar circulando no seu organismo.

Essa meia-vida pode variar muito. Fatores como genética, função hepática e o uso de certos medicamentos podem acelerar ou retardar o metabolismo da cafeína. Em mulheres grávidas, por exemplo, a meia-vida pode se estender para mais de 15 horas, o que justifica a recomendação de um consumo muito limitado durante a gestação.

Existe um limite seguro de consumo diário de café?

Agências reguladoras de saúde em todo o mundo, como a Food and Drug Administration – FDA (fda.gov) nos Estados Unidos e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos – EFSA (european-union.europa.eu), estabelecem diretrizes sobre o consumo seguro de cafeína. Para a maioria dos adultos saudáveis, um consumo de até 400 miligramas (mg) por dia é considerado seguro.

Para colocar esse número em perspectiva, 400 mg de cafeína equivalem a aproximadamente quatro xícaras de café coado de tamanho padrão ou a cerca de cinco doses de café expresso. É importante lembrar que a cafeína também está presente em outras fontes, como chás, refrigerantes, bebidas energéticas e chocolate.

Essa recomendação é uma diretriz geral. A tolerância individual à cafeína varia enormemente. Algumas pessoas podem sentir efeitos adversos, como ansiedade, insônia ou palpitações, com doses bem inferiores a 400 mg. Portanto, é fundamental que cada pessoa observe suas próprias reações e ajuste o consumo de acordo.

Quem deve evitar o café ou reduzir o consumo

Existem grupos específicos para os quais o consumo de café deve ser limitado ou evitado. Mulheres grávidas ou lactantes são aconselhadas a não exceder 200 mg de cafeína por dia, pois a substância atravessa a placenta e também passa para o leite materno, podendo afetar o bebê.

Pessoas com certas condições de saúde preexistentes também devem ter cautela. Indivíduos com transtornos de ansiedade, arritmias cardíacas, hipertensão não controlada ou doença do refluxo gastroesofágico podem ter seus sintomas agravados pelo consumo de café. A consulta médica é sempre recomendada.

O consumo de café também não é indicado para crianças e deve ser limitado para adolescentes. Seus organismos em desenvolvimento são mais sensíveis aos efeitos estimulantes da cafeína, que pode interferir na qualidade do sono, fundamental para o crescimento e o desenvolvimento neurológico saudável.

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Benefícios e riscos do café para a saúde no curto e longo prazo

O consumo de café está associado a uma série de benefícios e riscos que devem ser ponderados. No curto prazo, os benefícios mais conhecidos são a melhora do estado de alerta, da concentração e do desempenho físico. No entanto, o consumo excessivo pode levar a riscos como ansiedade, insônia e desconforto gástrico.

A longo prazo, estudos epidemiológicos sugerem que o consumo moderado e regular de café pode estar associado a um menor risco de desenvolver certas doenças. Entre elas estão o diabetes tipo 2, a doença de Parkinson, algumas doenças hepáticas, como a cirrose, e certos tipos de câncer. Esses efeitos são atribuídos não apenas à cafeína, mas também aos compostos antioxidantes presentes no grão.

Contudo, o consumo crônico e elevado também apresenta riscos. A dependência de cafeína é uma realidade, com sintomas de abstinência como dor de cabeça e irritabilidade. O consumo excessivo pode também interferir na absorção de nutrientes importantes, como o ferro e o cálcio, e perturbar cronicamente os padrões de sono, afetando a saúde geral.