Vulcão Nyiragongo ameaça cidade de 2 milhões com lava a 100 km/h

No coração da África, o vulcão Nyiragongo é uma força da natureza, ao mesmo tempo fascinante e aterradora. Localizado na República Democrática do Congo, ele abriga o maior lago de lava do mundo, uma cena impressionante e, ao mesmo tempo, alarmante. Essa beleza incandescente esconde um grande perigo: a vida de milhões de pessoas na cidade de Goma, que foi construída em suas encostas e vive sob constante ameaça.

A atividade do vulcão Nyiragongo é frenética. Ele é conhecido por suas erupções devastadoras e pela composição única de sua lava, que o torna um dos mais perigosos do planeta. Além disso, há um risco silencioso e ainda mais traiçoeiro: a possibilidade de uma erupção de gás tóxico do Lago Kivu, que pode ser desencadeada pelo próprio vulcão.

Por que a lava do vulcão Nyiragongo é uma das mais rápidas do mundo?

O segredo da lava do Nyiragongo está na sua química. Ela é classificada como nefelinito melilítico, uma rocha vulcânica rara e com pouquíssima sílica. Esse aspecto faz com que a lava flua de forma extremamente rápida, quase como um xarope ralo, em comparação com outras erupções. Enquanto em vulcões como os do Havaí a lava avança de maneira lenta, permitindo tempo para evacuação, a do Nyiragongo pode se mover a impressionantes 60 a 100 km/h — algumas vezes, até mais rápido do que um carro em uma rodovia movimentada. Essa velocidade torna suas erupções imprevisíveis e extremamente perigosas.

Um histórico de destruição: as erupções de 1977, 2002 e 2021 em Goma

A história do vulcão Nyiragongo está repleta de desastres que destacam sua capacidade de destruição.

A erupção de 10 de janeiro de 1977 foi um marco. O lago de lava se esvaziou rapidamente, em menos de uma hora, e a lava avançou a 100 km/h, devastando aldeias inteiras. O número de mortos varia: de 70 a mais de 2.000 pessoas, dependendo da fonte.

Em 17 de janeiro de 2002, a situação foi ainda mais dramática. Uma fissura de 13 km se abriu no vulcão, e a lava avançou direto para Goma, destruindo cerca de 13% da cidade, incluindo mais de 14.000 casas. A contagem oficial de mortes chegou a 147, muitas delas em um posto de gasolina que explodiu.

Por último, a erupção de 22 de maio de 2021 mostrou a fragilidade dos sistemas de alerta. Os primeiros sinais foram percebidos apenas 40 minutos antes da erupção, resultando numa evacuação caótica de 400.000 pessoas e 32 mortes.

O risco de uma erupção de gás tóxico no Lago Kivu

Se já não bastasse o perigo da lava, Goma está sob a sombra de outro risco, ainda mais invisível e letal. O Lago Kivu, próximo ao vulcão, possui grandes concentrações de gases dissolvidos, principalmente dióxido de carbono (CO₂) e metano. Este lago pode armazenar 300 quilômetros cúbicos de CO₂, um volume imenso. Em 1986, o Lago Nyos, nos Camarões, liberou uma nuvem de gás que matou mais de 1.700 pessoas.

O vulcão Nyiragongo é um possível gatilho para uma tragédia no Lago Kivu. Se a lava quente entrar em contato com a água ou um forte terremoto ocorrer, pode provocar uma liberação súbita de gás, sufocando os mais de 2 milhões de habitantes de Goma e a cidade vizinha de Gisenyi, em Ruanda.

Vigiando o perigo: os desafios do Observatório Vulcanológico de Goma (OVG)

Na linha de frente contra esse poderoso vulcão, um grupo pequeno de cientistas congoleses luta diariamente. O Observatório Vulcanológico de Goma (OVG) é a única instituição encarregada de monitorar o vulcão, mas enfrenta muitos desafios.

A falta de financiamento, problemas de segurança para os pesquisadores que trabalham no perigoso Parque Nacional de Virunga e a tecnologia antiga são algumas das dificuldades constantes. Em 2021, durante a crise, o observatório ficou sem internet por meses, o que complicou a transmissão de informações em tempo real.

Viver à sombra do vulcão: o nexo de risco, conflito e pobreza em Goma

A situação no vulcão Nyiragongo não pode ser analisada isoladamente. Goma é uma cidade de quase 2 milhões de pessoas, muitas vivendo em condições de pobreza extrema e em meio a um conflito armado que se arrasta há décadas.

Essa combinação de risco geológico, tensão social e pobreza cria um cenário alarmante. A instabilidade impede a construção de infraestrutura adequada e limita a capacidade da população de se proteger ou se recuperar após um desastre. Assim, uma erupção vulcânica não é apenas um evento natural; é uma catástrofe que pode transformar a vulnerabilidade em uma crise aguda, testando a resistência humana ao extremo.