Viver em Death Valley, o lugar mais quente do mundo habitado

O Vale da Morte, localizado na Califórnia, é oficialmente considerado o lugar mais quente do mundo habitado. E não estamos falando de uma leve metáfora, não. Em 10 de julho de 1913, a temperatura em Furnace Creek atingiu a impressionante marca de 56,7 graus Celsius. Esse ambiente tão extremo, que é também o ponto mais baixo da América do Norte, cria uma paisagem fascinante que, ao mesmo tempo, abriga vida e atrai turistas em busca de experiências inusitadas.

Com o passar dos anos, a fama do calor extremo do Vale da Morte gerou o fenômeno dos “turistas de temperatura”. Essas pessoas viajam de diferentes partes do mundo para sentir na pele a experiência de estar em um dos lugares mais quentes da Terra, especialmente durante ondas de calor que têm se intensificado. No entanto, o vale não se resume a um destino turístico perigoso. Ele é também a casa de uma comunidade resiliente e de um povo indígena que vive nessa região há mais de mil anos.

A ciência por trás do calor extremo

Entender por que o Vale da Morte é tão quente envolve alguns fatores geográficos interessantes. O vale é uma depressão longa e estreita cercada por montanhas íngremes. A parte mais baixa, chamada Bacia de Badwater, chega a estar 86 metros abaixo do nível do mar.

Esse formato peculiar cria um verdadeiro forno natural. O ar que desce pelas montanhas se comprime e esquenta. Com as montanhas bloqueando a passagem de nuvens e chuvas, o ambiente se torna extremamente seco. O calor que surge do solo fica preso ali, criando uma sensação de calor constante. Foi assim que, em julho de 2024, o parque registrou o mês mais quente de sua história, e a temperatura do solo já chegou a 93,9°C em 1972.

Os surpreendentes habitantes do Vale da Morte

O Vale da Morte não é apenas um deserto vazio. Em Furnace Creek, uma pequena população vive na região. A maioria são funcionários do Serviço de Parques Nacionais e pessoas que trabalham nos hotéis e serviços do local. A vida ali é marcada pelo isolamento, pois a cidade mais próxima, Pahrump, fica a uma hora de carro. Isso exige que todos sejam bem organizados e autossuficientes.

Muito antes de se tornar um parque, o vale era conhecido como "Tümpisa", a terra do povo Timbisha Shoshone, que vive por ali há mais de mil anos. Para essa comunidade, não é apenas um "vale da morte", mas um lar ancestral carregado de cultura. Após muita luta pelo reconhecimento dos direitos, uma parte da tribo mora em uma aldeia dentro do parque, participando da gestão desse ambiente extremo.

Turismo de risco, o fascínio perigoso pelo calor recorde

Nos últimos tempos, novos tipos de turistas começaram a visitar o lugar mais quente do planeta. Muitos vêm da Europa, atraídos pela oportunidade de tirar fotos com o famoso termômetro em Furnace Creek quando as temperaturas estão nas alturas. Mas é importante lembrar que esse calor pode ser traiçoeiro.

Apesar dos alertas, é comum ver visitantes se aventurando com roupas inadequadas e sem água suficiente. Isso pode resultar em consequências graves. No verão de 2024, pelo menos duas mortes foram atribuídas ao calor extremo, e um turista acabou com queimaduras de segundo grau nos pés por andar descalço na areia quente. Para complicar, o resgate em temperaturas acima de 46°C torna-se um desafio, já que os helicópteros não conseguem operar nessas condições.

Os segredos do lugar mais quente do planeta

Apesar da aparência inóspita, a vida no Vale da Morte se adaptou de maneiras incríveis. Um exemplo curioso é o rato-canguru, que não precisa beber água, pois consegue extrair a umidade necessária das sementes que ingere. Já o raro peixe-larva de Devils Hole sobrevive em uma caverna com água a 34°C.

O parque também é marcado por cicatrizes de sua história, como as cidades-fantasma de Rhyolite, que surgiram durante a corrida do ouro e do bórax no final do século XIX. Hoje, o Vale da Morte serve como um testemunho vivo e um alerta. As ondas de calor que se tornam cada vez mais frequentes e intensas refletem, em tempo real, os impactos das mudanças climáticas, transformando esse local extremo em um espelho do futuro que nos aguarda.