Vidro laranja da Lua tem origem revelada após 50 anos
Após mais de 50 anos de especulações, os cientistas finalmente desvendaram um dos mistérios mais intrigantes da Lua: a origem do vidro laranja coletado durante a missão Apollo 17, que aconteceu em dezembro de 1972. Essa descoberta foi realizada por uma equipe de investigadores das universidades de Brown, Harvard e Washington, em St. Louis, que estudaram a composição e a formação desse material.
A pesquisa completa deverá ser divulgada em setembro de 2025 na renomada revista científica Icarus. Mas já podemos conversar sobre o que esse estudo revelou até agora.
Vidro laranja lunar: o início do mistério
Durante a Apollo 17, os astronautas trouxeram para a Terra uma série de amostras do solo lunar, destacando-se entre elas pequenas esferas de vidro alaranjado. Algumas dessas esferas apresentavam até tons mais escuros. A maioria delas tem menos de 1 milímetro de diâmetro e, por décadas, a sua composição e modo de formação foram um verdadeiro enigma para a comunidade científica.
Na época, havia especulações de que essas contas poderiam estar ligadas a atividades vulcânicas antigas da Lua, mas muito do que se sabia era limitado a alguns elementos químicos básicos que foram identificados de forma superficial.
Avanços tecnológicos permitiram a análise inédita
A resolução desse mistério só foi possível graças aos recentes avanços em tecnologias de laboratório. A equipe, sob a liderança do geoquímico Thomas Williams, utilizou instrumentos inovadores, como a NanoSIMS 50, uma microssonda iônica de alta precisão. Essa ferramenta, até então inédita, possibilitou examinar as amostras de maneira minuciosa.
Com essa tecnologia, os cientistas puderam dividir as esferas em fragmentos menores e estudar sua estrutura interna, revelando detalhes fascinantes sobre sua composição mineral e química. O que surpreendeu até mesmo os especialistas mais experientes foram os depósitos de nanominerais, que indicam uma origem vulcânica intensa para o vidro laranja lunar.
Composição e importância do vidro laranja na Lua
As análises indicaram que entre as 74.001 contas de vidro trazidas pela Apollo 17, o composto mais presente é a esfalerita nano policristalina. Esse mineral contém traços de elementos raros, como zinco, ferro e enxofre, que geralmente não são encontrados juntos na superfície lunar. Modelos térmicos propostos pelos cientistas sugerem que esse vidro se formou a partir de gases vulcânicos gerados por erupções explosivas há aproximadamente 3,6 a 3,3 bilhões de anos.
Ryan Ogliore, um dos pesquisadores do estudo, destacou que, após 50 anos com essas amostras em mãos, agora dispomos de tecnologia para compreendê-las totalmente. Desse modo, as esferas se tornam verdadeiras cápsulas do tempo, oferecendo informações cruciais sobre a história geológica da Lua.
Cuidados durante a análise das amostras lunares
Um cuidado essencial na análise foi evitar a contaminação das amostras com oxigênio da Terra, que poderia alterar a composição dos diminutos minerais. Para garantir resultados precisos, os cientistas extraíram fragmentos das áreas mais internas dos vidros, usando técnicas laboratoriais de ponta.
As novas descobertas também sugerem que o interior da Lua é bem diferente do que já foi observado na Terra. O vidro laranja foi formado quando a lava de erupções vulcânicas solidificou rapidamente ao entrar em contato com o ambiente gelado da superfície lunar.
Contas de vidro lunar como túnel do tempo
Além de responder perguntas sobre a origem do vidro laranja, os estudos indicam que essas contas funcionam como um “túnel do tempo” para a vulcanologia lunar. Através da análise de isótopos e minerais, os pesquisadores descobriram que o padrão das erupções se alterou ao longo do tempo em resposta a variações de pressão, temperatura e composição química, refletindo as transformações da Lua em sua trajetória.
As investigações continuam, e o próximo passo será aprofundar a análise dos gases liberados nas erupções antigas, buscando descobrir mais sobre as características do magma lunar em diferentes regiões.
Novas pistas sobre o passado e futuro lunar
Este avanço no entendimento da formação do vidro laranja encerra um ciclo de incertezas que durou mais de meio século e destaca a relevância da tecnologia avançada na elucidação de enigmas científicos. Agora, resta a curiosidade sobre qual será a próxima questão lunar desvendada pelas novas gerações de ferramentas e futuras missões espaciais.