Sete em cada 10 estudantes do ensino médio usam IA em pesquisas

Sete em cada dez estudantes do ensino médio no Brasil usam ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT e o Gemini, para suas pesquisas escolares. Essa revelação faz parte da 15ª edição da pesquisa TIC Educação, divulgada recentemente pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Esse núcleo, ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, tem como objetivo coordenar iniciativas e serviços digitais no país.

Ao analisar os dados, percebemos que 37% dos alunos do ensino fundamental e médio afirmaram utilizar essas ferramentas em busca de informações. A situação é ainda mais evidente entre os alunos do ensino médio, onde a porcentagem chega a 70%. Essa mudança mostra como os adolescentes estão adotando novas práticas de aprendizado. A coordenadora do estudo, Daniela Costa, comenta que esses recursos demandam novas formas de trabalhar com a linguagem e de avaliar conteúdos.

As escolas já estão percebendo essa mudança e começam a dialogar com os pais sobre o uso da inteligência artificial. De acordo com a pesquisa, 68% dos gestores escolares já discutiram o assunto em reuniões com professores, e 60% com os responsáveis. Até questões sobre o uso de celulares nas escolas estão sendo abordadas, mas regras específicas sobre o uso de IA foram citadas por 40% dos gestores.

Mesmo com o alto uso de ferramentas de IA para trabalhos escolares, apenas 32% dos estudantes receberam orientações nas escolas sobre como utilizá-las de maneira eficaz. Isso é preocupante, segundo Daniela, que ressalta a necessidade de que os alunos aprendam a lidar com a integridade da informação e a avaliar fontes. Além disso, é importante que eles venham a entender como essas ferramentas podem ajudar na construção de seu próprio conhecimento.

Essa foi a primeira vez que a pesquisa TIC Educação avaliou como os alunos utilizam a tecnologia nas pesquisas escolares. Para isso, foram entrevistados gestores, coordenadores, professores e alunos de diversas escolas públicas e privadas em todo o país, totalizando mais de 10 mil participantes.

Celulares

A pesquisa também foi realizada em um momento em que a Lei 15.100 estava em vigor, restringindo o uso de celulares nas escolas. Apesar disso, os resultados já mostram mudanças nas regras. Em 2023, 28% das escolas proibiam totalmente o uso de celulares, enquanto 64% permitiam apenas em horários e locais específicos. Para 2024, a porcentagem de instituições que não permitem o uso do celular subiu para 39%, e aquelas que autorizam em horários determinados caiu para 56%.

Daniela destaca que, à medida que a lei foi implementada, a tendência de reduzir o uso de celulares dentro das escolas se fortaleceu, especialmente em escolas rurais, onde a média caiu de 47% para 30%.

Conectividade nas escolas

Outra conclusão importante da pesquisa é que quase todas as escolas brasileiras (96%) têm acesso à internet. Esse avanço ocorreu, principalmente, nas escolas municipais e rurais, onde a conectividade aumentou significativamente. No entanto, as disparidades ainda são evidentes. Por exemplo, enquanto 67% dos alunos nas escolas estaduais utilizam internet para suas atividades, apenas 27% conseguem fazer o mesmo nas escolas municipais.

Quanto a dispositivos para uso dos alunos, a situação não é das melhores. Muitas escolas municipais possuem acesso à internet, mas apenas 51% têm computadores disponíveis para as atividades educativas. Essa realidade ainda precisa mudar, segundo Daniela, pois o acesso a tecnologias digitais é fundamental para o aprendizado.

Formação docente

Por fim, a pesquisa também revelou que o número de professores que participaram de treinamentos sobre o uso de tecnologias digitais tem diminuído. Se em 2021, 65% dos docentes afirmou ter feito algum curso sobre o tema, em 2024 esse número caiu para 54%. A situação é ainda mais crítica entre os professores da rede pública municipal, onde a participação em formações caiu de 62% para 43%.

A coordenadora do estudo ressaltou que essa formação é essencial para que os educadores consigam orientar os alunos sobre o uso responsável e seguro das novas tecnologias. Na pesquisa, 67% dos professores que participaram de desenvolvimento profissional disseram que isso os ajudou a guiar melhor seus alunos no uso dessas ferramentas.