Saiba o que é, como funciona e o que analisa o teste de Rorschach da série ‘Tremembé’

Na série, criminosos notórios passam pelo teste de Rorschach para saber se terão acesso a direitos como a saidinha

A série “Tremembé: a prisão dos famosos”, disponível no Prime Video, despertou grande curiosidade ao retratar de forma detalhada o cotidiano de presos que marcaram o noticiário policial brasileiro. Entre os elementos que chamam a atenção, está o uso do teste de Rorschach.

Trata-se de um instrumento psicológico que vai muito além da ficção. A produção apresenta personagens como Suzane von Richthofen, Alexandre Nardoni e Elize Matsunaga sendo submetidos a esse exame, que analisa padrões mentais e emocionais.

O interesse do público cresce justamente por revelar como a psicologia atua em decisões judiciais complexas. Combinando drama e realidade, “Tremembé” mostra que o comportamento humano pode ser interpretado de maneiras surpreendentes quando a mente é colocada à prova.

O teste de Rorschach aparece frequentemente na série.
O teste de Rorschach aparece frequentemente na série. / Fonte: Reprodução

O que é e como o teste de Rorschach funciona?

O teste de Rorschach, conhecido popularmente como “teste do borrão”, foi criado no início do século XX pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. O exame consiste em uma série de pranchas com manchas de tinta simétricas em preto, branco e cores diversas.

A pessoa avaliada precisa descrever o que enxerga em cada imagem, sem tempo para reflexão prolongada. Durante o processo, o psicólogo registra as respostas e analisa os padrões perceptivos e emocionais revelados.

Essa análise permite compreender como o indivíduo organiza pensamentos, lida com sentimentos e interpreta a realidade ao seu redor. Por isso, elementos como as pausas para pensar, o foco no olhar e a simplicidade ou complexidade das respostas são importantes.

Na série “Tremembé”, o teste aparece como parte essencial das avaliações psicológicas aplicadas a criminosos famosos. Suzane von Richthofen, Alexandre Nardoni, Anna Carolina Jatobá e Elize Matsunaga passam por esse processo para que o sistema de Justiça avalie se estão aptos a voltar ao convívio social.

O laudo resultante tem peso nas decisões judiciais, pois ajuda a indicar o grau de arrependimento, controle emocional e estabilidade mental do detento. Dessa forma, o exame atua como um elo entre a psicologia clínica e a Justiça criminal.

Além de sua aplicação prática, o teste carrega um valor simbólico. Ele mostra como a mente humana pode ser interpretada a partir de percepções aparentemente simples. Quando o participante descreve o que vê, revela muito sobre sua forma de pensar, suas emoções e suas experiências anteriores.

O método exige habilidade técnica e sensibilidade do profissional, que precisa interpretar respostas subjetivas sem perder o rigor científico. Por isso, o teste de Rorschach permanece, até hoje, como um dos instrumentos mais intrigantes e respeitados da psicologia mundial.

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Uso do teste de Rorschach na psicologia forense

O teste de Rorschach ganhou destaque na psicologia forense justamente por sua capacidade de revelar aspectos inconscientes da personalidade. No contexto criminal, ele é usado como parte de um conjunto de exames psicológicos e psiquiátricos que ajudam a compreender o comportamento de criminosos.

Nos casos retratados em “Tremembé”, o teste auxilia a Justiça a entender se o preso demonstra empatia, remorso ou padrões de manipulação. Essa análise é crucial, pois influencia diretamente decisões sobre progressão de pena, liberdade condicional e avaliações de periculosidade.

Ao longo do tempo, o teste deixou de ser exclusivo do campo clínico e passou a integrar investigações policiais e processos judiciais. Em muitos casos, o laudo psicológico elaborado com base nas respostas do teste serve como prova complementar em julgamentos.

Ele não define sozinho o destino de um réu, mas contribui com informações valiosas sobre a estrutura psíquica do indivíduo. Assim, a psicologia forense utiliza o Rorschach como ferramenta para unir ciência e Justiça, oferecendo um olhar mais humano e detalhado sobre a mente criminosa.

No Brasil, o exame é reconhecido e regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), o que garante sua validade técnica e ética. Ele já foi, inclusive, utilizado em seleções oficiais, como na admissão de delegados da Polícia Federal, mostrando sua relevância além do ambiente prisional.

O custo do teste, que varia entre R$ 5 mil e R$ 30 mil, reflete o tempo, a complexidade e a responsabilidade envolvidos em sua aplicação e interpretação. Assim, o Rorschach continua sendo um dos instrumentos mais completos para investigar o comportamento humano em contextos judiciais.

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Aceitação do teste não é unânime

Apesar de sua longa história e prestígio, o teste de Rorschach não escapa de críticas dentro da própria comunidade científica. Alguns especialistas questionam sua subjetividade e argumentam que os resultados podem variar conforme a interpretação do psicólogo responsável.

Como o exame depende fortemente da análise individual do profissional, há quem considere que ele deve ser aplicado apenas como parte complementar de uma bateria de testes, nunca como único critério de avaliação.

Outros críticos afirmam que o teste, criado em um contexto histórico diferente, pode não refletir com exatidão os padrões psicológicos atuais. A diversidade cultural e as novas abordagens da psicologia moderna também desafiam sua universalidade.

Ainda assim, defensores do método afirmam que sua eficácia se mantém, especialmente quando combinado com outras ferramentas clínicas. Para eles, o Rorschach continua relevante porque capta nuances emocionais que dificilmente emergem em entrevistas diretas ou testes mais objetivos.

Mesmo com opiniões divergentes, o fato é que o teste de Rorschach permanece amplamente utilizado e respeitado. Sua presença em produções como “Tremembé” reacende o debate sobre a fronteira entre ciência e Justiça e desperta interesse público sobre como a mente humana é analisada.

Mais do que uma simples técnica de avaliação, o Rorschach simboliza o esforço constante da psicologia em compreender o comportamento humano em suas dimensões mais profundas, especialmente quando está em jogo o destino de quem vive à margem da lei.

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