Presidente da Capes recomenda alternativas aos EUA para estudantes

A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires de Carvalho, trouxe uma mensagem importante para os pesquisadores brasileiros que planejam ir para os Estados Unidos. Ela sugere que esses profissionais considerem ter um "plano B", ou seja, que pensem em outras opções de países, já que é possível mudar o destino antes da viagem. Essa orientação vem em um cenário de incertezas, já que, apesar de ainda não ter havido nenhum caso de visto negado entre os bolsistas, a embaixada e os estudantes não têm certeza do que esperar.

Desde o governo de Donald Trump, as regras para a obtenção de vistos para estrangeiros que querem estudar ou fazer pesquisas nas universidades americanas se tornaram mais rigorosas. Uma das novas exigências é que todos mantenham suas redes sociais abertas para análise. Em um episódio marcante, a Universidade de Harvard chegou a ser proibida de matricular alunos estrangeiros.

Essa conversa ocorreu durante uma palestra no Fórum de Academias de Ciências do Brics, que aconteceu esta semana no Rio de Janeiro. Denise também enfatizou a importância da cooperação científica com outros países. Em 2024, foram mais de 700 projetos envolvendo 61 países, resultando na participação de quase 9 mil pesquisadores brasileiros no exterior e na chegada de cerca de 1,2 mil estrangeiros ao Brasil.

Desigualdade

Denise também trouxe à tona dados sobre a pesquisa acadêmica no Brasil. Nos últimos 20 anos, o número de cursos de mestrado e doutorado cresceu bastante, passando de quase 3 mil em 2004 para mais de 7 mil em 2023. Embora isso tenha permitido a criação de programas de pós-graduação em estados que antes não tinham essa oportunidade, a desigualdade persiste. Hoje, dos 4.859 programas existentes, 1.987 estão localizados no Sudeste e 991 no Sul. O Nordeste, por sua vez, conta com 975 programas, enquanto o Centro-Oeste tem 407 e a Região Norte apenas 289.

A presidente da Capes destacou que reduzir essas desigualdades regionais é fundamental para que o Brasil alcance um nível de desenvolvimento similar ao de países mais ricos. Segundo Denise, o Brasil só conseguirá ser uma nação de alta renda se aumentar a porcentagem de sua população com educação superior, preparada para programas de mestrado e doutorado.

Ela fez uma analogia com o Chile, ressaltando que a relação entre desenvolvimento econômico e investimento em ciência e tecnologia é essencial. O modelo chinês, por exemplo, mostrou que um aumento no investimento em ciência pode resultar na melhoria do Produto Interno Bruto (PIB).

Para tentar combater essa desigualdade, a Capes está implementando ações. Uma das iniciativas é adaptar as regras de concessão de bolsas de pós-doutorado. Agora, programas de excelência com notas 6 ou 7 vão incorporar também aqueles com nota 5, mas que estão em cidades do Norte ou com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Esses cursos, mesmo que não tenham notas máximas, já são considerados bons e essa mudança visa fortalecer as instituições.

Como Denise declarou, essa bolsa de pós-doutorado pode ajudar a fixar pesquisadores em suas cidades, desenvolvendo ainda mais os programas de pesquisa locais.