Petroleiro João Cândido é o maior navio já construído no Brasil
O João Cândido, construído em Pernambuco, é um verdadeiro marco da engenharia naval moderna no Brasil. Com 274 metros de comprimento e capacidade para transportar até um milhão de barris de petróleo, ele é o maior navio já feito em nosso país na era contemporânea. Mas a história por trás dele é repleta de desafios e polêmicas, que vão além de sua impressionante estrutura.
A jornada do João Cândido começou sob sérias dificuldades. Sua construção faz parte de um programa ambicioso do governo, que visava revitalizar a indústria naval brasileira. Porém, o caminho não foi fácil. Muitos problemas e atrasos marcaram o processo, refletindo a complexidade dessa empreitada. Além disso, o nome do navio carrega um significado especial, remetendo a uma importante e controversa revolta social na história do Brasil.
O PROMEF: o plano que buscou reviver a indústria naval brasileira
O João Cândido é muito mais do que um navio; ele está diretamente ligado ao PROMEF (Programa de Modernização e Expansão da Frota). Esse programa, lançado em 2004 pela Transpetro, tinha um objetivo bem definido: usar o poder de compra da estatal para dar um novo fôlego à indústria naval do Brasil.
Com um investimento de mais de R$ 11 bilhões, o programa planejava a construção de 49 navios, todos feitos em estaleiros brasileiros. Isso gerou uma capacidade industrial nova e robusta, sendo o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, um dos principais frutos desse investimento. Esse estaleiro se tornou o maior do Hemisfério Sul e foi onde o João Cândido tomou forma.
As especificações do João Cândido: um gigante da classe Suezmax
O João Cândido foi projetado para ser um verdadeiro titã dos mares, pertencendo à classe Suezmax. Isso significa que ele possui as dimensões máximas que permitem a passagem pelo Canal de Suez, uma das rotas marítimas mais cruciais do mundo.
Aqui estão alguns números que impressionam:
- Comprimento: 274,2 metros
- Largura: 48 metros
- Peso Bruto (DWT): cerca de 157.700 toneladas
- Capacidade de Carga: aproximadamente 1 milhão de barris de petróleo
Vale lembrar que o João Cândido não é único. Ele é o primeiro de uma série de dez navios-tanque idênticos encomendados ao EAS, todos homônimos a figuras marcantes da história brasileira.
Os dois anos de atraso e os desafios na construção
A cerimônia de lançamento do João Cândido, em maio de 2010, estava cheia de simbolismo, com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, a alegria inicial logo deu lugar à frustração. O navio não estava pronto, e problemas sérios de construção surgiram. O que era para ser motivo de orgulho se transformou em piada, com o navio sendo chamado de ‘o navio que não navega’. Após quase dois anos de reparos, o gigante finalmente foi considerado apto a operar em 25 de maio de 2012.
A homenagem ao “Almirante Negro”: quem foi João Cândido e a Revolta da Chibata
Dar o nome de João Cândido ao navio foi um gesto de grande significado histórico. João Cândido Felisberto foi um marinheiro afro-brasileiro que, em 1910, liderou a “Revolta da Chibata”. Nessa revolta, mais de 2.000 marinheiros, em sua maioria negros, apontaram os canhões dos maiores navios de guerra do país em direção ao Rio de Janeiro, exigindo o fim dos castigos corporais.
A chibata, um tipo de chicote, simbolizava as práticas cruéis ainda enraizadas na era da escravidão. Reconhecer João Cândido, que durante muito tempo foi visto apenas como um amotinado, é um passo importante para valorizar sua luta por dignidade e direitos humanos, mesmo que isso tenha causado desconforto na Marinha.
Embora o João Cândido seja o maior navio da era industrial moderna do Brasil, o título de maior embarcação já construída em solo nacional, em sua relevância histórica, pertence ao galeão Padre Eterno, do século XVII. Lançado em 1663, esse galeão tinha cerca de 73 metros e era armado com até 180 canhões, considerado na época o navio mais poderoso do mundo.
Se o João Cândido representa um gigante logístico, o Padre Eterno foi um símbolo do poder do império português nos mares. Assim, a comparação entre esses dois navios vai além das dimensões, refletindo propósitos e legados históricos distintos.