O prédio responsável por 80% das transferências bancárias globais
Em um mundo cada vez mais conectado, onde as transferências de dinheiro entre países acontecem em questão de segundos, existe um lugar quase desconhecido que desempenha um papel fundamental nessa jogada: um prédio discreto em La Hulpe, na Bélgica. Este prédio abriga a sede da SWIFT, uma das principais redes financeiras do planeta. Por trás dessas paredes, uma infraestrutura altamente segura é responsável por mais de 80% das transferências bancárias internacionais. É aqui que o coração financeiro do mundo pulsa silenciosamente, movimentando bilhões a cada minuto, desde pagamentos entre empresas até transações de importação e exportação.
A SWIFT, que significa Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, foi criada em 1973 e funciona como um sistema padronizado de mensagens bancárias. Em vez de transferir dinheiro de forma direta, essa rede envia instruções codificadas entre instituições financeiras. Com mais de 11 mil instituições em mais de 200 países conectadas, a SWIFT é, sem dúvida, a gigante das operações internacionais. Sistemas locais como o PIX no Brasil e o SEPA na Europa existem, mas nenhum chega perto do alcance da SWIFT.
O prédio que movimenta trilhões
A sede da SWIFT em La Hulpe pode parecer comum do lado de fora, mas seu interior é mais parecido com um centro de comando militar do que com um escritório comum. Por lá, você encontra:
- Servidores próprios que garantem segurança física.
- Portas blindadas com acesso biométrico múltiplo.
- Centros de monitoramento que analisam em tempo real o tráfego e os riscos.
- Sistemas que isolam fisicamente e logicamente para prevenir espionagem ou sabotagens.
- Equipamentos que têm proteção contra pulso eletromagnético (EMP).
Dentro do prédio também está o chamado Global Operations Centre, que gerencia todos os data centers da rede. Esse centro possui a capacidade de isolar o sistema em caso de emergências globais. Esse protocolo de desligamento total existe, ainda que raramente seja mencionado.
Um botão que poderia provocar a paralisação
Falando em “botão”, esse conceito é, na verdade, um protocolo de segurança real. A SWIFT tem a capacidade de suspender partes da rede global em situações de:
- Ataques cibernéticos massivos.
- Sabotagem interna.
- Tentativas de fraudes em larga escala.
- Instabilidades geopolíticas.
Esses procedimentos são protegidos por diversos níveis de autenticação e exigem a participação de diferentes núcleos operacionais da SWIFT em lugares como Bélgica, EUA e Suíça. Para garantir uma operação continua, a rede conta com uma redundância geográfica tripla.
Quem está no comando da SWIFT?
Embora esteja baseada na Europa, a SWIFT não pertence a um único país. Ela é uma cooperativa internacional gerida por bancos e instituições financeiras ao redor do globo. No entanto, muitos dos grandes bancos estão sediados nos EUA e na Europa, o que acaba influenciando as decisões políticas da rede. Um exemplo disso foram as sanções impostas a países como Irã e Rússia, que ficaram de fora da SWIFT, dificultando suas operações internacionais em dólares ou euros.
O risco de um colapso invisível
Apesar de sua forte segurança, a SWIFT já enfrentou tentativas de ataques cibernéticos. Um caso notório em 2016 envolveu hackers que roubaram 81 milhões de dólares do banco central de Bangladesh, graças ao acesso inadequado às credenciais de um dos bancos associados.
Esse episódio levantou questões importantes: o que aconteceria se uma falha maior ocorresse? Ou ainda, se uma guerra digital afetasse o sistema internamente?
A SWIFT trabalha continuamente com backups em tempo real, mas uma interrupção global, mesmo que por algumas horas, poderia gerar prejuízos imensos, afetando desde mercados de câmbio até sistemas de crédito.
A verdade é que a maioria das pessoas nem conhece a SWIFT, e é isso que torna o sistema tão eficiente. Ele foi projetado para ser transparente, rápido e invisível, mas sua importância é inegável, comparável a redes de água ou eletricidade. Sem o funcionamento da SWIFT, o comércio global estagnaria, cartões de crédito deixariam de funcionar e até mesmo governos enfrentariam dificuldades para honrar suas dívidas internacionais.