O Perigo Mora no Quintal: Entenda a ‘Falsa Couve’ e Outras Plantas Tóxicas no Prato

Um caso grave de intoxicação em Minas Gerais reacende o alerta sobre o risco de confundir plantas comestíveis com espécies venenosas. Veja como a ciência ajuda a identificar o perigo.

Um simples almoço em família na cidade de Patrocínio, em Minas Gerais, terminou em tragédia. As folhas colhidas no quintal e preparadas como couve eram, na verdade, de uma planta altamente perigosa.

A família consumiu a chamada “falsa couve” (Nicotiana glauca), uma planta tóxica que se parece muito com a couve-manteiga que comemos. Infelizmente, o episódio resultou na morte de uma mulher e deixou outras pessoas em estado grave.

O erro de identificação é o ponto de partida dessa confusão perigosa. Muitos vegetais tóxicos crescem espontaneamente e acabam sendo colhidos por engano, por causa da semelhança visual.

A ciência nos ajuda a entender o perigo: o problema está em um composto químico chamado anabasina, que a falsa couve produz para se defender na natureza.

A Toxina da Falsa Couve

A anabasina, presente na “falsa couve”, tem uma estrutura química parecida com a da nicotina. O problema é que ela é muito mais venenosa para o nosso organismo.

Essa substância age diretamente no sistema nervoso. Em casos leves, ela causa taquicardia e tremores, mas o quadro pode se agravar rapidamente.

O grande risco está na paralisia dos músculos respiratórios. Se isso acontece, a vítima pode morrer por falta de ar em pouco tempo.

É crucial saber que o cozimento comum em casa não resolve o problema. O calor da panela não destrói a anabasina, que só se degrada em temperaturas muito mais altas.

Para piorar, o calor do preparo doméstico pode até aumentar o risco. Ele rompe as células da planta e libera mais anabasina, fazendo com que o corpo absorva a toxina mais facilmente.

Outros Parecidos Perigosos

O caso da couve não é único. O Brasil tem diversos pares de vegetais que geram confusão e representam um perigo químico real.

Um clássico é a confusão entre mandioca mansa (aipim ou macaxeira) e a mandioca brava. A diferença visual entre as raízes é mínima, o que torna a identificação quase impossível a olho nu.

A mandioca brava contém compostos que liberam ácido cianídrico (HCN), uma substância que impede as células de usarem oxigênio. Ela pode causar convulsões e até a morte. Por isso, nunca consuma mandiocas de origem desconhecida.

Outro exemplo é a taioba brava, que se parece com a taioba comestível. A taioba brava tem cristais de oxalato de cálcio que provocam uma irritação intensa na boca e na garganta, podendo causar inchaço e dificuldade para respirar.

Como Diferenciar os Vegetais no Dia a Dia

Apesar de a química ser o fator determinante, é possível notar algumas diferenças visuais para evitar a confusão:

Falsa Couve (Nicotiana Glauca)

As folhas costumam ser menores, mais estreitas e alongadas, com uma cor verde mais acinzentada. A textura é fina, lisa e ligeiramente cerosa, com nervuras menos evidentes.

A couve verdadeira (Brassica oleracea) tem folhas maiores, largas e de um verde mais vivo e intenso. Sua textura é mais grossa e firme, com as nervuras bem marcadas e a superfície mais áspera.

Taioba Brava

Procure pela cor. As folhas e, principalmente, os talos da taioba brava geralmente têm uma coloração arroxeada.

A taioba comestível tem o talo e as nervuras das folhas totalmente verdes. Essa diferença de cor é uma das formas mais seguras de distinguir as duas espécies.

A Regra de Ouro para a Sua Segurança

O perigo químico está nas substâncias que as plantas produzem como defesa natural. Mesmo em quantidades mínimas, esses compostos podem causar intoxicações graves.

Por isso, a principal regra de segurança é a mais simples e importante de todas: não consuma a planta se você não tiver certeza absoluta sobre a espécie.

Sua segurança depende da procedência do alimento. Compre sempre vegetais em locais confiáveis e nunca colete ou coma plantas que nascem espontaneamente no seu quintal ou na rua sem a identificação correta.

A ciência, por meio de pesquisas e da divulgação do conhecimento, é a principal aliada na prevenção desses acidentes. Ela nos ajuda a identificar e a alertar sobre os riscos.