O maior porto da América Latina movimenta contêineres no continente
O Porto de Santos é um verdadeiro ícone do comércio exterior brasileiro e o maior complexo portuário da América Latina. Em 2024, ele alcançou números impressionantes, estabelecendo novos recordes na movimentação de cargas e contêineres, o que reafirma sua importância. No entanto, o crescimento veloz traz consigo alguns desafios, como os conhecidos gargalos nos acessos terrestres e marítimos. Para enfrentar essas questões e manter sua posição de destaque nos próximos anos, um ambicioso plano de investimentos e uma transformação digital estão em pleno andamento.
De posto colonial a potência logística
A trajetória do Porto de Santos é fascinante e está intimamente ligada ao desenvolvimento econômico do Brasil. Sua história remonta ao século XVI, mas foi em 2 de fevereiro de 1892 que ele ganhou forma moderna, com a inauguração dos primeiros 260 metros de cais. Essa data marcou o surgimento do primeiro Porto Organizado do país.
O crescimento do porto foi impulsionado por diversos ciclos econômicos, principalmente pelo do café, que o consagrou como o principal ponto de exportação do "ouro verde". No século XX, a gestão do porto passou por reformas importantes, como a Lei dos Portos de 1993, que transferiu a operação dos terminais para a iniciativa privada. Atualmente, a Autoridade Portuária de Santos (APS) atua na administração, em um modelo de parceria público-privada, movimentando quase um terço da balança comercial brasileira.
Os números que consolidam a liderança do Porto
O Porto de Santos se destacou em 2024 com 179,8 milhões de toneladas movimentadas, representando um crescimento de 3,8% em relação ao ano anterior. O segmento de contêineres foi o grande protagonista, superando pela primeira vez 5 milhões de TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), totalizando 5,4 milhões de TEU, um aumento de 14,7%.
Esse desempenho é resultado da diversidade de tipos de carga operados no porto. Os granéis sólidos lideraram em volume, com 90,7 milhões de toneladas movimentadas, impulsionados pelo agronegócio, com produtos como soja, açúcar e milho. Já a carga conteinerizada é o segmento que mais cresce e possui maior valor agregado, enquanto os granéis líquidos também tiveram um desempenho notável, alcançando 19,6 milhões de toneladas, principalmente devido ao transporte de combustíveis.
Terminais, acessos e desafios estruturais do Porto de Santos
A eficiência do Porto de Santos depende de um conjunto de terminais privados e uma intrincada rede de acessos. Desde 1993, a movimentação é realizada por terminais arrendados, como o Tecon Santos e a Brasil Terminal Portuário (BTP), que investem constantemente em melhorias tecnológicas.
Entretanto, a infraestrutura de acesso é um desafio crítico. O Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) é a principal via rodoviária, mas sofre com congestionamentos crônicos. O transporte rodoviário é o mais utilizado, gerando atrasos e elevação de custos. A solução pode estar no modal ferroviário, que atualmente responde por cerca de 30% da movimentação, com uma meta de aumento para 40%. Essa mudança requer investimentos significativos na modernização da malha ferroviária.
Investimentos bilionários e transformação digital
O Porto de Santos está investindo pesado para se manter competitivo. O Governo Federal anunciou um aporte de R$ 12,6 bilhões entre 2024 e 2028 para projetos estruturantes.
Entre as principais obras estão o Túnel Santos-Guarujá, que exigirá R$ 6 bilhões para conectar as duas margens do estuário, e o Aprofundamento do Canal, essencial para que os maiores navios do mundo possam operar em capacidade total. O Tecon Santos 10, um novo megaterminal de contêineres, promete aumentar a capacidade do porto em até 50%.
Além das obras físicas, uma revolução digital está em andamento. A implementação de uma rede 5G privativa e um “gêmeo digital” (uma réplica virtual do porto) estão sendo desenvolvidas para otimizar operações, simular cenários e tomar decisões mais rápidas e precisas. Essa transformação visa fazer de Santos um "smart port", alinhando-se às tendências modernas de eficiência e tecnologia no setor.