O caminho do ouro: veja como ele se forma no núcleo e surge na crosta terrestre

O ouro sempre despertou fascínio em diferentes civilizações, seja por seu valor econômico ou por sua raridade. Mas a origem desse metal precioso e a forma como ele chega à superfície da Terra continuam a ser temas de investigações científicas constantes. Estudos recentes lançam nova luz sobre o percurso do ouro desde as profundezas do planeta até a crosta.

Pesquisadores da Universidade de Göttingen (uni-goettingen.de), na Alemanha, analisaram rochas vulcânicas do Havaí e identificaram indícios de que o ouro presente nelas tem origem na fronteira entre o núcleo e o manto. Essas conclusões desafiam a ideia de que o núcleo terrestre seja uma região completamente isolada do restante do planeta.

O estudo envolveu técnicas avançadas de análise isotópica para detectar traços de metais como o rutênio, que normalmente está concentrado no núcleo. A presença desse elemento nas rochas analisadas indica que o material derretido teve origem em camadas profundas da Terra.

A descoberta amplia o conhecimento sobre os processos geológicos que moldam o planeta e revela que há um fluxo contínuo de metais preciosos do interior para a superfície terrestre.

O caminho do ouro veja como ele se forma no núcleo e surge na crosta terrestre
Lavas formadas por plumas do manto podem conter vestígios de ouro oriundo da fronteira com o núcleo terrestre – Crédito: wirestock / Freepik

Onde o ouro se forma no interior da Terra

A formação do ouro está diretamente relacionada aos estágios iniciais da Terra. Há cerca de 4,5 bilhões de anos, durante o processo de diferenciação planetária, os elementos mais pesados migraram para o núcleo metálico. Entre eles, estavam metais siderófilos como o ouro, o paládio e a platina.

Esses elementos permaneceram retidos no núcleo, a quase três mil quilômetros de profundidade, em temperaturas que superam os 5.000 °C. De acordo com a pesquisa publicada na revista Nature (nature.com), mais de 99% do ouro do planeta encontra-se nesse núcleo metálico.

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que esses metais não podiam sair dessa região. No entanto, novas evidências mostram que parte desse ouro está escapando lentamente e alcançando o manto e, posteriormente, a crosta.

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O papel do núcleo e do manto na origem do ouro

A fronteira entre o núcleo e o manto funciona como uma zona de intercâmbio entre diferentes camadas da Terra. Através de processos térmicos intensos, materiais superaquecidos se desprendem do limite com o núcleo e sobem em direção ao manto.

Esse material ascendente pode conter traços de metais como o ouro, o que explica sua presença em rochas formadas por atividades vulcânicas. As chamadas plumas do manto, colunas de rocha quente que se elevam desde regiões profundas, são um dos principais mecanismos de transporte desse conteúdo.

O geólogo Nils Messling e sua equipe confirmaram que essas plumas trazem consigo elementos que antes estavam confinados no núcleo. Com o tempo, parte deles alcança a superfície por meio de vulcões ativos ou inativos.

Como o ouro é transportado por atividades geológicas

As rochas analisadas no Havaí revelam que o transporte de ouro ocorre junto ao magma oriundo das plumas do manto. Essas formações vulcânicas, criadas pela elevação do material derretido, servem como vias naturais para o deslocamento de metais preciosos.

O magma transporta não apenas ouro, mas também outros elementos pesados como ródio, platina e rutênio. Durante a erupção, parte desses metais é liberada na superfície, onde se deposita em rochas ígneas.

Esse processo é lento e ocorre ao longo de milhões de anos. Ainda assim, ele é constante e contribui para a formação de jazidas minerais que abastecem a mineração em diversas regiões do planeta.

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De que forma o ouro atinge a crosta terrestre

Ao atingir as camadas superiores da Terra, o ouro se acumula em depósitos geológicos associados a zonas de falha, fissuras e áreas de resfriamento do magma. A cristalização do metal ocorre durante o resfriamento das rochas.

Além das formações vulcânicas, o ouro também pode ser transportado por fluidos hidrotermais que circulam por fissuras na crosta. Esses fluidos dissolvem o metal e o redistribuem, formando veios e concentrações minerais.

A presença do ouro na crosta depende de fatores como a composição do manto, a temperatura da rocha, a atividade vulcânica e o tempo de resfriamento. Cada um desses elementos influencia o tamanho e a qualidade dos depósitos encontrados.

O caminho do ouro veja como ele se forma no núcleo e surge na crosta terrestre
Amostras de lava solidificada ajudam a rastrear a origem profunda do ouro presente na superfície terrestre – Crédito: PIX1861 / Pixabay

Regiões do mundo com maior concentração de ouro natural

As principais reservas de ouro conhecidas estão localizadas em áreas que sofreram intensa atividade geotérmica no passado. Entre elas estão regiões da África do Sul, Austrália, Rússia, China, Canadá e Estados Unidos.

O chamado Cinturão de Ouro de Witwatersrand, na África do Sul, é um dos maiores e mais antigos depósitos do mundo. No Brasil, minas localizadas em Minas Gerais e Pará têm destaque na produção nacional.

A formação dessas reservas está associada à interação entre magma, rochas e águas subterrâneas ao longo de períodos geológicos prolongados.

O que diferencia o ouro de outros minerais subterrâneos

O ouro possui características que o tornam distinto de outros minerais subterrâneos. Ele é quimicamente inerte, altamente maleável e tem elevada densidade. Além disso, é resistente à oxidação e não se decompõe facilmente.

Sua capacidade de formar ligas e sua estabilidade fazem com que seja amplamente utilizado em eletrônicos, medicina e joalheria. Ao contrário de minerais como o ferro e o cobre, o ouro raramente se combina com outros elementos na natureza.

Essas propriedades explicam sua preferência tanto como recurso estratégico quanto como objeto de valor comercial.

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O que a ciência já sabe (e o que ainda pesquisa) sobre o ouro terrestre

A ciência avançou significativamente no entendimento da origem do ouro, mas ainda existem questões em aberto. A confirmação de que o metal escapa do núcleo para o manto é recente e foi possível graças a novas tecnologias de medição isotópica.

Atualmente, pesquisadores investigam quais são os volumes reais de ouro que migram para a crosta e como esses processos ocorreram ao longo da história geológica do planeta. Também se estuda a possibilidade de que outros planetas tenham passado por mecanismos semelhantes.

Compreender essas dinâmicas pode permitir previsões mais precisas sobre novas reservas e orientar estratégias de exploração mineral de forma mais eficiente e sustentável.