Nova Iorque: o que há por trás da candidatura de Zohran Mamdani?

Um artigo recente chamou a atenção do público ao abordar a história de Zohran Mamdani, candidato à prefeitura de Nova York, que se destacou nas eleições primárias democratas. O título do texto, “Mamdani se Identifica como Asiático e Afro-Americano em Inscrição Universitária”, gerou polêmica ao relatar que, quando era estudante do último ano do ensino médio, Mamdani, nascido em Uganda e de ascendência indiana, marcou diferentes opções de raça em sua inscrição para a Universidade de Columbia.

Muitos leitores se questionaram sobre a relevância dessa informação. Em meio à repercussão, o atual prefeito de Nova York, Eric Adams, que disputará as eleições como candidato independente, criticou Mamdani, chamando de “profundamente ofensivo” o fato de ele reivindicar uma identidade afro-americana, apesar de não ser negro.

O programa Fox & Friends abordou a situação, onde o comentarista Charlie Hurt acusou Mamdani de racismo e de desprezar os valores americanos. Além disso, a cobertura por parte da rede direita foi intensa, especialmente porque Mamdani — que se identifica como muçulmano e social-democrata — já enfrentava críticas antes mesmo da publicação do artigo. O ex-presidente Donald Trump chegou a classificá-lo de comunista e sugeriu sua deportação. Algumas fontes de direita caracterizaram o caso como um escândalo relacionado à política de ação afirmativa na Universidade de Columbia, mesmo com o detalhe de que Mamdani não foi aceito na instituição.

Em resposta à crítica, Mamdani explicou que sua intenção ao marcar múltiplas opções era refletir a complexidade de sua ancestralidade. Seu pai é indiano ugandense e sua mãe é indiana americana; Mamdani nasceu em Uganda e viveu um breve período na África do Sul antes de se mudar para Nova York na infância. Ele afirmou que, muitas vezes, as inscrições universitárias não oferecem uma opção específica para quem tem uma origem tão diversificada.

A decisão do veículo de imprensa em publicar o artigo acabou gerando controvérsia, especialmente porque a informação veio de um acesso não autorizado aos dados da Universidade de Columbia e foi entregue ao jornal por uma fonte anônima. Essa fonte, identificada como Jordan Lasker, é criticada por seus vínculos com ideologias eugênicas.

Tradicionalmente, práticas éticas de jornalismo recomendam cautela em publicar informações provenientes de fontes hackeadas, exigindo uma justificativa sólida para a relevância da história. Um editor do jornal defendeu a publicação, afirmando que fazia parte da missão do veículo informar os leitores sobre os principais candidatos a cargos políticos.

No entanto, essa justificativa foi recebida com desconfiança por muitos. A jornalista Soledad O’Brien, conhecida por seu trabalho na mídia, descreveu essa explicação como uma “piada” e a publicação do artigo como um “total absurdo”. Além dela, muitos outros expressaram sua desaprovação, considerando que a defesa oferecida era mais uma tentativa de controlar a narrativa do que uma verdadeira transparência.

Além disso, a situação traz à tona um dilema maior sobre a postura do jornal em relação à candidatura de Mamdani. Embora o New York Times não faça mais endossos para cargos de prefeito, publicou um editorial sugerindo que os eleitores evitassem classificar Mamdani em suas cédulas de votação, considerando-o incapaz. Curiosamente, o mesmo não foi sugerido em relação a Andrew Cuomo, ex-governador resignado, que também estava na disputa primária.

Embora a seção de opinião do jornal tenha o direito de expressar suas visões, é esperado que os artigos noticiosos mantenham sua neutralidade. Entretanto, a recente cobertura do caso, junto com a crítica editorial, fez parecer que o New York Times estava empenhado em desacreditar Mamdani. Essa percepção levanta questões sobre a imparcialidade e a ética do jornalismo contemporâneo.