Fêmeas de mamíferos vivem mais porque não se desgastam tanto na competição sexual, revela estudo
Pesquisa em mais de 500 espécies mostra que energia investida na reprodução pode explicar longevidade maior das fêmeas.
Que as mulheres vivem mais que os homens não é novidade. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a expectativa de vida feminina é maior na maioria dos países. E essa diferença não é exclusiva da nossa espécie: em quase todos os mamíferos, as fêmeas vivem mais que os machos.
Um estudo recente, publicado na revista Science Advances, analisou dados de 528 espécies de mamíferos e 648 espécies de aves em cativeiro e também informações de animais selvagens. Essa foi a maior pesquisa já feita sobre como o sexo influencia a longevidade dos animais.
O resultado foi claro para os mamíferos: as fêmeas vivem, em média, 12% mais que os machos. Já nas aves, o padrão se inverte, e os machos costumam viver mais — cerca de 5% a mais.
Por que as fêmeas vivem mais?
A explicação está tanto na genética quanto no comportamento. As fêmeas de mamíferos têm dois cromossomos X, o que lhes dá um tipo de “seguro biológico” contra mutações prejudiciais. Já os machos, com apenas um X e um Y, ficam mais vulneráveis a problemas genéticos que podem reduzir a vida útil.
Nos pássaros, o cenário é diferente: os machos têm dois cromossomos Z, enquanto as fêmeas possuem um Z e um W, invertendo a proteção genética.
“Se você tem apenas uma cópia do cromossomo, e ele sofre mutações, não tem backup para compensar o erro. Isso pode ser fatal e reduzir a expectativa de vida,” explicou o pesquisador Fernando Colchero, do Instituto Max Planck.
O papel da competição sexual
A genética explica muito, mas o estilo de vida também pesa. Entre os mamíferos, os machos costumam investir muita energia na competição pelo acasalamento — seja apresentando chifres, cores vibrantes ou participando de lutas intensas.
Esse esforço extra acaba prejudicando a saúde dos machos e, consequentemente, sua longevidade. É um investimento pesado em tentar garantir a prole, mas que cobra seu preço no corpo.
Espécies monogâmicas, onde a disputa entre machos é menor, têm diferenças menores na expectativa de vida entre os sexos.
Surpresa das fêmeas cuidadoras
Outra ideia comum é que o esforço das fêmeas na gestação e no cuidado dos filhotes reduziria sua vida. Curiosamente, o estudo mostrou o contrário: no zoológico, fêmeas cuidadoras vivem mais, às vezes muito mais que os machos.
Do ponto de vista evolutivo, faz sentido. Quem cuida dos filhotes precisa garantir a sobrevivência por mais tempo para apoiar o desenvolvimento dos filhos e, assim, assegurar o futuro da espécie.
Exceções e particularidades
Entre aves de rapina, por exemplo, as fêmeas, que são maiores e mais agressivas, vivem mais que os machos — mostrando que a natureza apresenta diversas estratégias de longevidade conforme o grupo animal.
Na espécie humana, o padrão se mantém: as mulheres vivem pelo menos cinco anos a mais que os homens. Isso confirma que as leis evolutivas que moldam outras espécies também influenciam a gente.
Seja cuidando da prole ou se poupando das disputas intensas, as fêmeas de mamíferos parecem levar vantagem para viver mais tempo e com melhor qualidade.