Espirro ao olhar para a luz: reflexo genético em um em três

Sair de um lugar escuro e, ao olhar para o sol, sentir aquele impulso incontrolável de espirrar. Você já passou por isso? Essa situação, que pode parecer estranha, é chamada de reflexo de espirro fótico. E acredite, não é uma alergia, mas sim uma condição genética que afeta aproximadamente 35% da população mundial. Cientistas estudam esse fenômeno desde os tempos de Aristóteles, lá na Grécia Antiga.

Na verdade, essa reação é uma peculiaridade neurológica hereditária, quase como um “curto-circuito” no cérebro. Essa conexão entre a luz e o espirro é mais comum do que você imagina. Um estudo na revista científica PLOS Genetics mostra que essa peculiaridade é enraizada em nossos genes. E a história para entender porque ver luz intensa provoca espirros é fascinante.

O que é o reflexo de espirro fótico? Uma condição mais comum do que se imagina

O reflexo de espirro fótico se revela em uma sequência de espirros, normalmente de dois a três, após uma exposição repentina a uma luz intensa. Pode ser a luz do sol, por exemplo, ou até o flash de uma câmera. Essa condição é conhecida tecnicamente como Síndrome da Explosão Helio-Oftálmica Compulsiva Autossômica Dominante, que gera o divertido acrônimo ACHOO.

A explicação científica: um “curto-circuito” no cérebro

O que acontece por trás desse fenômeno? A explicação mais aceita pela ciência é que existe uma “fiação cruzada” no cérebro. Dois nervos cranianos importantes estão envolvidos nessa história:

  • Nervo óptico: leva a informação da luz que captamos até o cérebro.
  • Nervo trigêmeo: responsável pelas sensações na face, incluindo o reflexo do espirro.

Quando alguém exposto a uma luz intensa ativa o nervo óptico, o sinal pode “vazar” e estimular o nervo trigêmeo. Isso faz com que o cérebro interprete a luz como uma irritação no nariz, desencadeando o reflexo do espirro para expelir o que não existe.

Uma característica hereditária: a genética por trás do espirro

Esse reflexo curioso é hereditário e se passa de geração para geração. E a ciência confirmou que é uma característica genética autossômica dominante. Se um dos pais espirra na luz, você também pode herdar essa peculiaridade com 50% de chance.

Um estudo que fez história nesse campo foi publicado em 2010, identificando uma relação entre o reflexo e um marcador específico, que fica perto do gene ZEB2, localizado no cromossomo 2.

Uma curiosidade antiga: as primeiras observações de Aristóteles a Francis Bacon

Historicamente, esse fenômeno intriga a humanidade há séculos. O primeiro registro conhecido é de Aristóteles, que no século IV a.C. se questionou sobre o porquê de olhar para a luz causar espirros. Ele acreditava que o calor do sol aquecia o nariz, provocando a reação.

Já no século XVII, o cientista Francis Bacon teve uma percepção diferente. Ele notou que, ao olhar para o sol com os olhos fechados, não espirrava. Ele chegou à correta conclusão de que a causa estava nos olhos, e não no nariz.

A descoberta moderna: como a ciência entendeu o reflexo

O entendimento atual sobre o reflexo de espirro fótico começou a ganhar força nos anos 1950. O pesquisador francês Jean Sedan foi um dos primeiros a notar a relação entre a luz durante exames oculares e os espirros.

Em 1978, um marco importante aconteceu: o Dr. W.R. Collie e sua equipe formalizaram o termo ACHOO. Estudos posteriores ajudaram a aprofundar nosso entendimento sobre essa peculiaridade inofensiva do corpo humano, que continua a surpreender e intrigar a ciência até hoje.