Especialista alerta sobre riscos globais enfrentados pela civilização
Um dos principais cientistas climáticos do mundo, Carlos Nobre, vem estudando a Amazônia e as mudanças climáticas há muito tempo. Ele é pesquisador sênior no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia. Nobre foi um dos primeiros a alertar sobre o perigo de a Floresta Amazônica se transformar em uma savana.
Em uma entrevista recente, Nobre destacou que a humanidade enfrenta um grande desafio atualmente. A temperatura global já passou de 1,5°C acima dos níveis que existiam antes da Revolução Industrial. Segundo ele, essa elevação torna-se um problema crescente, pois as alterações no clima podem resultar em eventos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas e secas severas.
Nobre também aponta que, se não houver mudanças significativas, as emissões de gases de efeito estufa só deverão ser reduzidas em cerca de 3% até 2030. Mesmo assim, se as emissões forem totalmente eliminadas apenas em 2050, a temperatura pode ultrapassar os 2°C, causando mais frequência de desastres naturais.
Ao ser questionado sobre a situação da Amazônia, Nobre respondeu que estamos muito perto do ponto de não retorno. Ele observou que a estação seca tem se prolongado e, se essa tendência continuar, dentro de algumas décadas a região pode passar a ter estações secas de até seis meses. Esse cenário não é sustentável para a floresta. Nos anos 1990, a Amazônia removia em média 1,5 bilhão de toneladas de gás carbônico por ano; atualmente, esse número caiu para 200 a 300 milhões de toneladas. O cientista alertou também sobre os incêndios florestais: 85% deles são causados pela ação humana, principalmente agora que o desmatamento legal diminuiu.
Nobre vê uma oportunidade de transformação no Brasil, ressaltando que o país possui uma das maiores biodiversidades do mundo, com 18% a 20% de todas as espécies conhecidas. No entanto, apenas 0,4% do PIB brasileiro é proveniente de produtos da biodiversidade amazônica. Ele defende uma nova bioeconomia que valorize esses recursos naturais, utilizando tecnologia moderna para ajudar na restauração da Amazônia e do Cerrado.
A restauração é uma prioridade. O governo brasileiro anunciou o projeto “Arco da Restauração”, que visa recuperar 240 mil km² da Amazônia. O projeto inclui doações para comunidades locais e uma linha de crédito de 1% ao ano para o setor privado.
Apesar dos desafios, Nobre destaca a resistência do agronegócio em aceitar a realidade das mudanças climáticas. Ele acredita que, se nada for feito, esta indústria, que é vital para a economia brasileira, pode sofrer grandes prejuízos.
Nobre também mencionou a importância de compromissos globais, como os discutidos em fóruns internacionais, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com prazos mais rigorosos. Ele ressaltou o potencial de colaboração entre países, especialmente entre grandes emissores como China, Brasil, Índia e nações europeias.
Por fim, Nobre vê um motivo para otimismo: a crescente preocupação dos jovens em relação às mudanças climáticas. Ele acredita que a conscientização e a pressão da nova geração podem ajudar a impulsionar ações eficazes para tornar o planeta um lugar mais seguro, ressaltando que o tempo para agir é limitado. Se não houver uma mudança significativa, o futuro pode ser marcado por condições extremas e inabitáveis para muitos lugares do planeta.