Ensino superior no Brasil pode aumentar salários em mais de 100%

No Brasil, ter um diploma de ensino superior pode fazer uma grande diferença. Quem consegue essa conquista tende a ter mais chances de emprego e salários bem melhores, podendo chegar a mais do que o dobro do que recebe quem apenas completou o ensino médio. Apesar disso, um dado alarmante é que um em cada quatro estudantes desiste após apenas um ano de curso.

Essas informações vêm do relatório Education at a Glance 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que analisa a educação em diversos países. O documento não só examina o desempenho dos estudantes, mas também as taxas de matrícula e a estrutura educacional dos 38 países que fazem parte da OCDE, além de incluir dados de países como China, Índia e, claro, Brasil, que é um parceiro importante da organização.

Neste ano, o foco do relatório é o ensino superior. Os dados apontam que brasileiros entre 25 e 64 anos que finalizaram a graduação ganham, em média, 148% a mais do que aqueles que têm apenas o ensino médio. Essa diferença impressiona ainda mais quando comparada à média dos países da OCDE, que é de 54%.

Quando olhamos para a América Latina, o Brasil perde para a Colômbia, onde quem se forma ganha, em média, 150% a mais. No caso da África do Sul, essa diferença chega a impressionantes 251%. Porém, nem todos têm acesso a esse nível de educação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20,5% da população brasileira com mais de 25 anos possui diploma superior, de acordo com dados mais recentes.

Outro ponto preocupante trazido pelo relatório é que quase um quarto dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não está empregado nem estuda. Essa faixa, conhecida como NEET (do inglês, Not in Education, Employment, or Training), está bem acima da média da OCDE, que é de 14%. Além disso, a situação é ainda mais difícil para as mulheres: 29% delas estão nessa condição, contra 19% dos homens.

Abandono dos estudos

Um dado que chama atenção no Brasil é que, dos alunos que ingressam no ensino superior, 25% desistem após o primeiro ano. Em comparação, a média entre os países da OCDE é de apenas 13%. E mesmo após três anos do prazo esperado para concluir o curso, menos da metade dos estudantes, só 49%, conseguem terminar. Enquanto isso, a média da OCDE é de 70%.

Com isso, apenas 24% dos jovens entre 25 e 34 anos no Brasil consegue se formar, o que é quase a metade da média da OCDE, que é de 49%. As altas taxas de evasão no primeiro ano podem indicar que há uma desconexão entre o que os alunos esperam e a realidade dos cursos, possivelmente por falta de orientação adequada ou apoio no início da jornada acadêmica.

Além disso, o relatório mostra que, em todos os países, as mulheres que começam um bacharelado têm mais chances de concluir do que os homens. No Brasil, essa diferença é de 9 pontos percentuais: 53% para mulheres e 43% para homens. É uma diferença menor do que a média da OCDE, que fica em 12 pontos percentuais.

Estudar em outros países

Em relação à mobilidade internacional, o relatório aponta que, entre os países da OCDE, o número de estudantes estrangeiros no ensino superior aumentou. Em 2018, eles representavam 6% do total e, em 2023, já alcançam 7,4%. Para o Brasil, no entanto, a proporção permanece inalterada em apenas 0,2%.

Quando falamos de investimentos no ensino superior, os gastos do governo brasileiro são de US$ 3.765 por aluno (cerca de R$ 20 mil), enquanto a média da OCDE é de US$ 15.102 (cerca de R$ 80 mil). Apesar de parecer que o Brasil investe menos, quando olhamos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o investimento é equivalente ao da média da OCDE, que é de 0,9% do PIB para o ensino superior.

A OCDE enfatiza que é necessário melhorar os indicadores educacionais tanto no Brasil quanto em outros países, para que a formação tire mais proveito dos investimentos. O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, destaca que as baixas taxas de conclusão no ensino superior são um desafio que pode comprometer o retorno do investimento público e limitar oportunidades.

Ele sugere que o foco deve ser a melhoria da preparação acadêmica e da orientação profissional no ensino médio, além da criação de programas de ensino superior que contemplem sequências de cursos mais definidas e apoio para quem está em risco de atrasos.

Qualidade da Educação

A qualidade dos cursos também é uma preocupação. Outra pesquisa da OCDE revelou que, mesmo entre os graduados, muitos enfrentam dificuldades com textos complexos. Em média, 13% dos adultos com ensino superior em 29 países da OCDE não atingiram nem um nível básico de proficiência em alfabetização.

Isso mostra a necessidade de garantir acesso ao ensino superior, mas também de aumentar a qualidade e a relevância do que é ensinado nas instituições.