Enel se torna maior distribuidora de energia do Brasil ao comprar Eletropaulo
A aquisição da Eletropaulo pela Enel, uma gigante italiana, começou com grandes promessas em 2018. Com um investimento bilionário, a expectativa era que a empresa trouxesse inovação e eficiência para a rede elétrica de São Paulo, a maior cidade do Brasil. No entanto, em 2025, a realidade é bem diferente: a Enel enfrenta uma crise de gestão, apagões históricos e frustração tanto de consumidores quanto de políticos.
Atualmente, a gestão da Enel é alvo de investigações e multas pesadas, além de pedidos formais para que seu contrato de concessão seja encerrado. O sonho de uma rede elétrica moderna deu lugar a uma realidade de instabilidade e insegurança, trazendo à tona dúvidas sobre o futuro da distribuição de energia nesta região tão importante.
A guerra de lances e a compra da Eletropaulo de R$ 5,55 bilhões
Em 2018, a Eletropaulo estava sob controle da americana AES e se tornou um alvo disputado entre duas grandes potências europeias: a Enel e a espanhola Iberdrola, através da Neoenergia. Essa competição acirrada fez as ações da Eletropaulo dispararem na bolsa.
A Enel, determinada a vencer, fez uma proposta irrecusável. No dia 31 de maio de 2018, apresentou uma oferta de R$ 45,22 por ação, um valor quase três vezes superior ao preço das ações seis meses antes. Com essa oferta, a Enel arrematou, em um leilão realizado em 4 de junho de 2018, 73,38% da Eletropaulo por R$ 5,55 bilhões, tornando-se a maior distribuidora de energia do Brasil em número de clientes.
O apagão de novembro de 2023, o estopim da crise
A insatisfação dos consumidores com os serviços da Enel vinha aumentando, mas foi um evento climático que destacou as falhas da empresa. No dia 3 de novembro de 2023, uma forte tempestade atingiu a região metropolitana de São Paulo, derrubando árvores e comprometendo a rede elétrica. O resultado foi um apagão devastador.
Durante a crise, aproximadamente 2,1 milhões de pessoas ficaram sem energia. A resposta da Enel foi considerada lenta e desorganizada, e muitas áreas ficaram sem luz por até uma semana. O impacto econômico foi alarmante, com prejuízos estimados em R$ 1,65 bilhão apenas para os setores de serviços e varejo. Além disso, houve relatos de problemas de saúde e até mortes relacionadas à falta de energia.
Multas, investigações e o pedido para anular o contrato
O apagão acabou transformando a crise da Enel em uma questão política e regulatória. A ANEEL aplicou uma multa recorde de R$ 165,8 milhões pela gestão desastrosa durante o evento. A empresa já acumulava outras penalidades significativas por causa da má qualidade do serviço prestado.
A resposta política foi imediata, com a instalação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar a situação: uma na Assembleia Legislativa e outra na Câmara Municipal. Ambas as comissões chegaram à mesma conclusão: a Enel foi negligente e seu contrato de concessão deveria ser anulado.
O que o futuro reserva para a Enel em São Paulo?
Diante de toda essa pressão, a Enel tenta se justificar, afirmando que investiu R$ 8,36 bilhões na rede desde sua compra e que lançou um novo plano de R$ 10,4 bilhões para os anos de 2025 a 2027, prometendo melhorias na infraestrutura.
Porém, a percepção popular é de que o serviço piorou e que basicamente ações como a poda de árvores não foram adequadamente realizadas. A história da compra da Eletropaulo pela Enel se transformou num exemplo dos riscos da privatização de serviços essenciais. Agora, a empresa italiana precisa se esforçar para demonstrar que pode reverter essa crise, buscando a confiança tanto do poder público quanto dos consumidores na maior cidade do Brasil.