Demissão silenciosa: como identificar os sinais antes que o profissional desista da empresa
O fenômeno do quiet quitting desafia lideranças a perceberem a queda no engajamento e a buscarem soluções que equilibrem produtividade e saúde mental.
O termo “quiet quitting”, ou demissão silenciosa, ganhou força nos últimos anos e continua sendo um dos maiores desafios para as empresas em 2026. Ao contrário do que o nome sugere, não se trata de um pedido de demissão formal, mas sim de uma decisão interna do colaborador de fazer apenas o mínimo necessário para manter o emprego.
Essa desconexão acontece quando o profissional sente que o esforço extra não é valorizado ou quando a saúde mental começa a dar sinais de esgotamento. Em vez de pedir para sair, ele se retira emocionalmente, parando de dar ideias, de participar de projetos voluntários ou de responder mensagens fora do horário de expediente.
Para as lideranças, o grande problema é que esse movimento costuma ser invisível nos primeiros meses. O trabalho continua sendo entregue, os prazos são cumpridos, mas o brilho nos olhos e a proatividade desaparecem. Se não for percebido a tempo, o quiet quitting evolui para uma demissão real ou contamina o clima de toda a equipe.
Entender as causas desse fenômeno é o primeiro passo para reverter a situação. Muitas vezes, o colaborador não quer ir embora, ele apenas quer estabelecer limites saudáveis que a empresa, por algum motivo, parou de respeitar.
Abaixo, detalhamos como gestores e colegas podem notar esses sinais sutis e o que fazer para reconstruir uma relação de confiança no ambiente corporativo.
Como perceber os sinais da demissão silenciosa
O primeiro sinal costuma ser o silêncio em reuniões onde o profissional costumava ser ativo. Se alguém que sempre trazia soluções agora apenas concorda com o que é dito ou evita se posicionar, pode ser um indício de que ele já não se sente parte estratégica do grupo.
Outro ponto de atenção é o cumprimento rigoroso e robótico da jornada de trabalho. O colaborador que antes tinha flexibilidade e interesse em finalizar processos agora desliga o computador exatamente no horário, ignorando qualquer demanda urgente que surja no fim do dia. Não se trata de exigir hora extra, mas de notar a perda daquela vontade natural de resolver problemas.
A queda na interação social também é um alerta. Evitar cafés, almoços em grupo ou conversas informais pelo chat da empresa mostra um desejo de distanciamento. O profissional passa a ver o trabalho apenas como uma transação financeira, removendo qualquer laço afetivo ou de propósito com a marca.
As causas por trás do comportamento
É um erro acreditar que o quiet quitting é apenas “falta de vontade” ou preguiça. Na grande maioria das vezes, é uma resposta a uma cultura organizacional tóxica ou a uma liderança que não oferece feedback constante e reconhecimento.
O excesso de carga de trabalho sem a devida compensação, seja ela financeira ou de tempo livre, é o principal combustível para a demissão silenciosa. Quando o colaborador percebe que o prêmio por ser eficiente é apenas ganhar mais trabalho, ele naturalmente começa a desacelerar para se proteger do burnout.
Além disso, a falta de perspectivas de crescimento faz com que o profissional entre no “modo automático”. Se ele não enxerga onde estará daqui a dois anos dentro da empresa, não há estímulo para investir energia além do básico obrigatório.
O papel da liderança na reversão do quadro
Para evitar que o quiet quitting se torne uma tendência na equipe, o gestor precisa trocar o controle pela escuta ativa. Reuniões de um para um (1:1) não devem servir apenas para cobrar metas, mas para entender como o colaborador se sente em relação à sua carga de trabalho e ao seu futuro.
Oferecer clareza sobre o impacto do trabalho de cada um ajuda a devolver o senso de propósito. Quando o profissional entende que sua tarefa ajuda a empresa a atingir um objetivo maior, ele se sente mais conectado. No entanto, esse propósito deve vir acompanhado de respeito ao tempo de descanso e à vida pessoal.
Flexibilidade também é uma palavra-chave em 2026. Permitir que o colaborador gerencie seu próprio tempo e trabalhe de forma híbrida ou remota, quando possível, mostra que a empresa confia na sua entrega, o que costuma gerar um aumento espontâneo no engajamento.
Criando um ambiente de segurança psicológica
Um ambiente onde as pessoas têm medo de errar ou de discordar é o berço perfeito para a demissão silenciosa. A segurança psicológica permite que o colaborador fale abertamente sobre suas frustrações antes que elas se transformem em desânimo profundo.
Incentivar a transparência e valorizar pequenas conquistas no dia a dia faz com que o time se sinta visto. Quando o profissional percebe que é tratado como uma pessoa, e não apenas como um número na planilha de custos, a tendência é que ele se envolva genuinamente com os desafios da organização.
O quiet quitting não é o fim do caminho, mas um pedido de socorro silencioso. Identificar esses sinais a tempo e agir com empatia pode não apenas salvar um talento, mas transformar a cultura da empresa em algo muito mais produtivo e humano.