O que é computação quântica e por que ela pode superar os computadores atuais

Entender o que é computação quântica é se aprofundar em uma nova fronteira da tecnologia, com o potencial de redefinir os limites do processamento de dados e de solucionar problemas hoje considerados impossíveis. Trata-se de uma abordagem de computação que se baseia nos princípios da mecânica quântica.

Diferentemente dos computadores clássicos que utilizamos em nosso dia a dia, que operam com base na lógica binária de bits, os computadores quânticos utilizam uma unidade de informação fundamentalmente distinta, o qubit. Essa diferença permite que eles processem informações de uma maneira exponencialmente mais poderosa.

A promessa da computação quântica não é a de substituir os computadores atuais em tarefas cotidianas, mas sim a de resolver uma classe específica de problemas de alta complexidade. Essas são questões que, por sua natureza, são intratáveis até mesmo para os supercomputadores mais avançados que existem hoje.

O desenvolvimento dessa tecnologia, liderado por grandes empresas e centros de pesquisa em todo o mundo, representa uma mudança de paradigma. Suas futuras aplicações podem transformar áreas como a medicina, a ciência dos materiais, o mercado financeiro e a segurança da informação.

Entenda a diferença fundamental entre bits e qubits

A base de toda a computação clássica, desde os smartphones até os supercomputadores, é o bit. Um bit é a menor unidade de informação e pode existir em apenas um de dois estados possíveis: 0 ou 1. Toda a lógica computacional que conhecemos é construída sobre essa base binária.

A computação quântica, por outro lado, utiliza uma unidade de informação análoga, mas muito mais poderosa: o qubit, ou bit quântico. A grande diferença é que um qubit não está limitado a ser apenas 0 ou 1. Graças a um princípio da mecânica quântica chamado superposição, ele pode representar 0, 1 ou uma combinação de ambos os estados ao mesmo tempo.

Essa capacidade de estar em múltiplos estados simultaneamente é o que confere à computação quântica seu poder exponencial. Enquanto um sistema de 8 bits clássicos pode armazenar apenas um de 256 valores possíveis por vez, um sistema de 8 qubits em superposição pode, teoricamente, representar todos os 256 valores ao mesmo tempo.

Leia também: Pesquisa revela que cérebro pode viajar no tempo

O que é superposição e entrelaçamento quântico: a base da computação

A superposição é um dos pilares da computação quântica. Ela pode ser imaginada com a analogia de uma moeda girando no ar: enquanto está girando, ela não é nem cara nem coroa, mas uma combinação de ambas as possibilidades. Apenas quando a medimos (ou quando a moeda cai), ela assume um estado definido. Um qubit se comporta de forma semelhante.

O segundo pilar é o entrelaçamento quântico, um fenômeno no qual dois ou more qubits se tornam intrinsecamente ligados, de forma que seus destinos se tornam interdependentes, independentemente da distância que os separa. Se dois qubits estão entrelaçados, a medição do estado de um deles define instantaneamente o estado do outro.

Essa conexão profunda entre os qubits é o que permite a criação de estados computacionais de alta complexidade. Ao manipular um conjunto de qubits entrelaçados e em superposição, os algoritmos quânticos podem explorar um espaço de soluções de uma forma que é impossível para os computadores clássicos.

Por que a computação quântica é mais poderosa que a clássica

A superioridade da computação quântica para certos problemas deriva de sua capacidade de realizar um paralelismo massivo. Como um sistema de N qubits pode representar 2^N estados simultaneamente, o poder de processamento cresce de forma exponencial com o número de qubits.

Essa escalabilidade exponencial permite que os computadores quânticos abordem problemas cuja complexidade os torna inviáveis para os computadores clássicos. Um problema que levaria bilhões de anos para ser resolvido por um supercomputador tradicional poderia, teoricamente, ser resolvido em horas ou minutos por um computador quântico de grande escala.

É importante ressaltar, no entanto, que essa vantagem não se aplica a todas as tarefas. Para atividades do dia a dia, como navegar na internet, escrever um texto ou rodar um jogo, os computadores clássicos continuam a ser muito mais práticos e eficientes. A vantagem quântica é específica para problemas com uma estrutura matemática particular.

Leia também: Sintomas de câncer de pâncreas: entenda os sinais de alerta e o que a ciência diz

Problemas que os computadores quânticos podem resolver e os atuais não

A principal classe de problemas em que a computação quântica se destaca é a da simulação de sistemas quânticos. A simulação precisa do comportamento de uma molécula complexa, por exemplo, é um problema intratável para um computador clássico, pois exige um poder de processamento que cresce exponencialmente com o número de átomos. Um computador quântico, por ser um sistema quântico, é a ferramenta ideal para essa tarefa.

Outra área de grande potencial é a de otimização. Muitos problemas em logística, finanças e engenharia envolvem encontrar a melhor solução entre um número astronômico de possibilidades. Algoritmos quânticos podem, em tese, explorar todas essas possibilidades de forma simultânea para encontrar a solução ótima de forma muito mais rápida.

A área da criptografia também será profundamente afetada. A segurança dos sistemas de criptografia atuais se baseia na dificuldade de os computadores clássicos fatorarem números muito grandes. Um computador quântico de grande escala, utilizando o algoritmo de Shor, seria capaz de quebrar essa criptografia, o que exige o desenvolvimento de novas formas de proteção, a chamada criptografia pós-quântica.

O que é computação quântica e por que ela pode superar os computadores atuais
Os processadores quânticos, como os desenvolvidos pela IBM, são extremamente sensíveis e precisam operar em temperaturas próximas do zero absoluto para manter seus estados quânticos – Crédito: thequantuminsider.com

Onde a computação quântica pode ser aplicada no futuro

As aplicações futuras da computação quântica têm o potencial de transformar diversas indústrias. Na área da saúde, ela pode acelerar drasticamente a descoberta de novos medicamentos e o desenvolvimento de tratamentos personalizados, por meio da simulação precisa de como novas moléculas interagem com as proteínas do corpo humano.

Na ciência dos materiais, a computação quântica pode permitir o design de novos materiais com propriedades sob medida, como supercondutores mais eficientes, catalisadores para a produção de energia limpa ou baterias com maior capacidade de armazenamento.

No mercado financeiro, ela pode ser utilizada para criar modelos de análise de risco muito mais precisos e para otimizar portfólios de investimento de forma mais eficiente. Na área de inteligência artificial, ela pode potencializar o desenvolvimento de algoritmos de aprendizado de máquina mais poderosos.

Leia também: Tempestades no espaço afetam satélites de Elon Musk

O estado atual da tecnologia e os desafios para sua popularização

Apesar do enorme potencial, a computação quântica ainda está em seus estágios iniciais de desenvolvimento. Os computadores quânticos atuais são máquinas experimentais, de pequeno a médio porte, que operam em ambientes de laboratório altamente controlados e são acessados principalmente pela nuvem por pesquisadores.

O maior desafio técnico para a popularização da tecnologia é o problema da “decoerência”. Os qubits são extremamente frágeis e perdem suas propriedades quânticas (como a superposição) devido a pequenas perturbações do ambiente, como variações de temperatura ou vibrações. Isso gera erros nos cálculos.

Para combater a decoerência, os processadores quânticos atuais precisam operar em condições extremas, como temperaturas próximas do zero absoluto e isolamento total de campos eletromagnéticos. Superar esse desafio e desenvolver técnicas eficazes de correção de erros são os principais obstáculos para a construção de computadores quânticos de grande escala e tolerantes a falhas.