Companheira de Dom Phillips publica obra póstuma em SP
Após três anos do trágico assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, está promovendo um projeto especial. Ela está lançando o livro inacabado de seu marido, intitulado Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas. Essa obra, que Dom começou enquanto fazia pesquisas na Terra Indígena Vale do Javari, foi concluída com a ajuda de amigos, sob a liderança de Alessandra. A publicação é da Companhia das Letras e já está disponível ao público.
Alessandra vai participar de um evento chamado A Feira do Livro, na Praça Charles Miller, em São Paulo, junto com Tom Phillips e Otavio Cury, onde irá compartilhar um pouco mais sobre o projeto e a trajetória de Dom.
Além de trabalhar com o livro, Alessandra tem investido no Instituto Dom Phillips, focando na formação de jovens indígenas comunicadores. Ela acredita que a educação midiática é uma ferramenta poderosa para ajudá-los a entender temas como desinformação e checagem de fatos, algo que pode empoderá-los em sua comunicação com o mundo.
"O Dom sempre teve uma conexão profunda com a natureza. Ele gostava de fazer caminhadas e se envolver com as histórias das pessoas", conta Alessandra. Para ela, Dom se destacou como um jornalista que não apenas coletava informações, mas realmente vivia e sentia a Amazônia.
Ele fez sua primeira viagem à Amazônia como turista e, a partir dali, foi conquistado pela floresta. Alessandra lembra que ele sempre se sentia impactado pelas experiências que vivia. "Ele dizia: ‘se as pessoas conhecessem a Amazônia, naturalmente iam se engajar para proteger, porque não tem como ficar indiferente à grandiosidade da floresta e à sabedoria de seu povo’."
Carreira
Dom começou sua carreira escrevendo sobre música eletrônica para a revista Mixmag, um mundo bem diferente do jornalismo ambiental que depois o tornou conhecido.
A primeira matéria dele para o Washington Post foi sobre a Mina de Carajás, no Pará, e os impactos socioambientais causados por essa grande extração de ferro. Segundo Alessandra, esse tema mexeu bastante com Dom e foi um ponto crucial na sua carreira.
Ele teve uma experiência rigorosa no Washington Post, onde colaborou a partir de 2015. Alessandra recorda que seu editor exigia muita atenção aos detalhes, e, para Dom, cada feedback era uma oportunidade de aprendizado. "Ele considerou que essa editora foi, na verdade, uma escola de jornalismo", diz.
Foi um líder ashaninka que inicialmente falou sobre Dom ao líder Beto Marubo, que posteriormente convenceu Bruno a ajudar o jornalista no Vale do Javari. Beto, conhecendo o espírito protetor de Bruno, assegurou a ele que Dom era uma boa pessoa e que tudo iria dar certo.
Livro
Quando Dom conversou com Bruno sobre seu livro, ele já tinha um título em mente que apreciava bastante.
"Ele acreditava tanto nesse título que registrou, com medo de alguém roubá-lo. Quando compartilhou com Beto, ele ficou surpreso: ‘Você, sendo gringo, vem falar sobre salvar a Amazônia? Que audácia!’ Mas Dom comentou que a intenção era provocar a reflexão", explica Alessandra.
O título foi pensado para instigar e criar um debate, e para Alessandra, essa é uma forma de canalizar as vozes dos povos da Amazônia. "O que quero é ajudar vocês a contar suas histórias, não interpretá-las, mas descrevê-las."
Aliada a isso, Alessandra destaca que Dom era verdadeiramente autêntico. "Na Amazônia, as pessoas precisam de aliados, e o Dom sempre se disponibilizou a ser esse amigo, de maneira genuína."