Como estornar um Pix recebido ou enviado: entenda as regras

O Pix consolidou-se como o meio de pagamento instantâneo mais popular do Brasil, facilitando transferências e pagamentos com uma agilidade sem precedentes. No entanto, essa mesma rapidez que o torna tão conveniente também pode gerar apreensão quando ocorrem erros, como o envio de dinheiro para a pessoa errada ou em situações de fraude.

Diante de um equívoco, a primeira dúvida que surge é sobre a possibilidade de cancelar ou estornar a transação. Diferentemente de operações com cartão de crédito, a natureza instantânea e irrevogável do Pix torna o processo de reversão mais complexo, exigindo ações específicas por parte de quem enviou e de quem recebeu os recursos.

É fundamental compreender que o termo “estorno”, como é conhecido em outras modalidades, não se aplica da mesma forma ao Pix. O sistema possui mecanismos próprios, como a “devolução” e o “Mecanismo Especial de Devolução” (MED), cada um destinado a um tipo de situação, seja um engano ou um golpe.

Conhecer as regras estabelecidas pelo Banco Central (bcb.gov.br), as responsabilidades de cada parte e os procedimentos corretos a serem seguidos é essencial para agir de forma eficaz.

O que é o estorno de Pix e quando ele é permitido

No sistema do Pix, o conceito de “estorno” como um cancelamento unilateral da transação por parte de quem enviou o dinheiro não existe. Uma vez que a ordem de pagamento é confirmada com a senha, os recursos são transferidos de forma instantânea e definitiva para a conta do recebedor, e a instituição financeira do remetente não pode reverter a operação.

O que é permitido, e muitas vezes confundido com o estorno, é a “devolução” do valor. A devolução, no entanto, é uma ação que deve ser iniciada pela pessoa que recebeu o dinheiro. Ela pode ser feita de forma voluntária, em caso de um envio por engano, ou de forma mediada, em situações específicas de fraude.

Portanto, a possibilidade de ter o dinheiro de volta depende, na maioria dos casos, da cooperação e da honestidade de quem recebeu o valor indevidamente. Para casos de golpes e fraudes, o Banco Central criou um mecanismo específico para tentar reaver os recursos, mas ele possui regras e prazos bem definidos.

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Entenda a diferença entre estorno, devolução e mecanismo especial de devolução (MED)

É fundamental diferenciar os três termos para saber como agir. O estorno, comum em transações com cartão, é o cancelamento de uma compra, com o valor sendo creditado de volta na fatura. No Pix, essa figura não existe, pois a liquidação da transferência é imediata e irreversível.

A devolução é a maneira mais simples de corrigir um erro. Trata-se de uma funcionalidade dentro do aplicativo bancário que permite a quem recebeu um Pix enviá-lo de volta para a conta de origem. Essa ação é uma nova transação, mas que fica vinculada à operação original, facilitando a identificação. A devolução pode ser total ou parcial e depende da iniciativa do recebedor.

Já o Mecanismo Especial de Devolução (MED) é uma ferramenta de segurança criada pelo Banco Central para ser utilizada exclusivamente em casos de suspeita de fraude, golpe ou falha operacional do sistema. Ele não se aplica a erros de digitação ou a desacordos comerciais. O MED inicia um processo formal de bloqueio e análise dos recursos na conta do recebedor.

Como estornar um Pix enviado por engano ou fraude

Se você enviou um Pix para a pessoa errada por um engano na digitação da chave, a primeira e mais importante ação é tentar entrar em contato com o recebedor. Caso a chave seja um número de telefone ou e-mail, utilize esses canais para explicar a situação de forma educada e solicitar a devolução do valor.

Se a chave for um CPF ou uma chave aleatória, o contato direto se torna mais difícil. Nesse caso, você pode tentar contatar sua própria instituição financeira para ver se ela pode auxiliar na intermediação da comunicação, embora os bancos não tenham a obrigação de fornecer os dados do outro cliente. Se a devolução amigável não ocorrer, o caminho é registrar um boletim de ocorrência por apropriação indébita.

Para os casos de fraude, como o golpe do falso parente ou da falsa central de atendimento, a agilidade é fundamental. A primeira medida é contatar imediatamente o seu banco, por meio dos canais oficiais de atendimento, relatar o golpe e solicitar a abertura de um pedido de MED.

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Regras para o estorno de um Pix recebido indevidamente

Receber um Pix por engano e não devolver o valor é crime. A legislação brasileira, por meio do Artigo 169 do Código Penal, tipifica essa conduta como apropriação indébita, com pena de detenção ou multa. O correto a se fazer é sempre devolver o valor ao remetente original.

A forma mais segura de realizar a devolução é utilizando a funcionalidade específica para isso no seu aplicativo bancário. Ao acessar o extrato da sua conta, localize o Pix recebido indevidamente e procure por uma opção como “Devolver valor”. Esse procedimento garante que a devolução fique registrada e vinculada à transação original.

É importante ter cautela se a pessoa que enviou o Pix por engano entrar em contato e pedir para que a devolução seja feita para uma conta diferente da de origem. Essa pode ser uma tática de golpistas. A recomendação de segurança é sempre realizar a devolução para a mesma conta da qual o dinheiro partiu.

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Em caso de fraude, o usuário deve contatar imediatamente seu banco para solicitar a abertura do Mecanismo Especial de Devolução (MED) e registrar um boletim de ocorrência – Crédito: Jeane de Oliveira / pronatec.pro.br

Prazos para solicitar o estorno de um Pix em diferentes situações

Os prazos para agir variam conforme a situação. No caso de um envio por engano, não há um prazo formal para a devolução voluntária, mas a boa-fé pressupõe que ela seja feita assim que o erro for percebido. Legalmente, a pessoa que recebeu tem até 15 dias para devolver antes que a conduta possa ser formalmente caracterizada como apropriação indébita.

Para os casos de fraude, o prazo para acionar o Mecanismo Especial de Devolução (MED) é de até 80 dias, contados a partir da data em que o Pix foi realizado. No entanto, é altamente recomendável que o contato com o banco seja feito no mesmo dia do golpe, pois isso aumenta as chances de que ainda existam fundos na conta do fraudador para serem bloqueados.

Após a abertura do MED, as instituições financeiras têm um prazo de até sete dias para analisar o caso. Se a fraude for confirmada, a devolução dos valores (se houver saldo na conta de destino) deve ocorrer em até 96 horas.

O que é o MED do Pix e como ele funciona em casos de fraude ou falha operacional

O Mecanismo Especial de Devolução (MED) é um conjunto de regras e procedimentos que permite que as instituições financeiras envolvidas em uma transação Pix possam reverter uma operação em casos específicos e comprovados de fraude ou falha operacional.

Quando a vítima de um golpe aciona seu banco, a instituição inicia uma notificação de infração no sistema do Pix. O banco do recebedor, ao receber essa notificação, tem a obrigação de bloquear imediatamente o valor na conta de destino, se ainda houver saldo disponível.

Após o bloqueio, inicia-se um período de análise, no qual ambas as instituições avaliam as evidências do caso. Se a fraude for constatada, o valor bloqueado é devolvido à conta da vítima. Caso não haja saldo suficiente, a conta do fraudador pode ser monitorada para que futuros créditos sejam bloqueados até a quitação do valor.

O papel das instituições financeiras no processo de estorno do Pix

O papel dos bancos e fintechs no processo de devolução de um Pix é bem definido. Em um erro operacional simples, no qual o remetente digitou a chave errada, as instituições não podem cancelar a transação. Sua atuação se limita a orientar o cliente e, em alguns casos, a tentar facilitar o contato com o recebedor, respeitando as leis de sigilo bancário.

Nos casos de fraude, o papel das instituições é muito mais ativo e regulamentado pelo Banco Central. O banco do remetente tem o dever de acolher a reclamação do cliente e iniciar o procedimento do MED de forma ágil.

O banco do recebedor, por sua vez, tem a obrigação de acatar a notificação do MED, realizar o bloqueio dos fundos e participar da análise do caso. A falha de uma das instituições em seguir os protocolos do MED pode gerar responsabilidade e a necessidade de ressarcir o cliente.

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O que fazer se o estorno do Pix não for realizado ou houver contestação

Se a devolução amigável de um Pix enviado por engano não ocorrer, o caminho a ser seguido é o legal. O remetente deve registrar um boletim de ocorrência na polícia civil, relatando o fato como apropriação indébita, e pode, em seguida, ingressar com uma ação judicial em um Juizado Especial Cível para reaver o valor.

Nos casos de fraude em que o MED foi acionado, mas não foi possível recuperar o valor (por exemplo, porque a conta do fraudador já estava vazia), a recuperação do dinheiro se torna mais difícil. O processo continua, mas depende da entrada de novos recursos na conta do golpista.

Se você for o recebedor de um Pix e tiver sua conta bloqueada pelo MED por uma transação que considera legítima, a primeira ação é entrar em contato com o seu próprio banco. Você deverá apresentar todas as provas que demonstrem a legalidade da transação para que o banco possa contestar a notificação de fraude e solicitar o desbloqueio dos seus recursos.