Cidade mineira com maior arrecadação do Brasil tem prazo para o fim

No coração da Amazônia paraense, encontramos Parauapebas, uma cidade que traz à tona um paradoxo intrigante. Conhecida como a cidade do minério, seu desenvolvimento está ligado à Mina de Carajás, a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. Essa riqueza natural proporciona à cidade um dos maiores PIBs per capita do Brasil, resultando em um orçamento na casa dos bilhões.

Porém, essa riqueza contrasta com uma realidade marcante de desigualdade social. A falta de serviços básicos e a questão crucial de que os recursos minerais têm um tempo determinado para acabar são desafios presentes. A história de Parauapebas é um arrepiante estudo sobre a “maldição dos recursos” e a urgência em buscar alternativas para garantir um futuro sem depender apenas da mineração.

A riqueza que brota do chão: A maior arrecadação por mineração do Brasil

Parauapebas impressiona com seus números econômicos. Em 2021, o PIB per capita alcançou R$ 227.449, o que o coloca entre os maiores do país. Grande parte dessa riqueza vem dos royalties da mineração, a CFEM, que garante um orçamento anual bilionário para a prefeitura. Em 2024, a arrecadação superou R$ 1,295 bilhão. No entanto, essa dependência da mineração é uma faca de dois gumes. Com a flutuação dos preços, já se espera uma queda de 37% na arrecadação para 2025, o que revela a fragilidade econômica da cidade.

Onde os bilhões da mineração não chegam

Apesar do potencial financeiro, muitos moradores de Parauapebas enfrentam uma realidade de extrema necessidade. Em 2023, 14,2% da população vivia em situação de extrema pobreza. A infraestrutura deficiente é um reflexo claro dessa desigualdade. Apenas 12,28% da população tem acesso à coleta de esgoto, e apenas 51% recebe água tratada. Essa situação significa que o esgoto de mais de 234 mil pessoas é despejado sem tratamento, mesmo com um orçamento tão robusto.

A economia gira em torno do Complexo de Carajás, que representa cerca de 60% do minério de ferro que o Brasil exporta. No entanto, esse motor econômico tem um prazo de validade. Relatórios da Vale indicam que as reservas de minério de ferro em Parauapebas se esgotarão até 2045, mostrando que o tempo para repensar o futuro da cidade está se esgotando.

O futuro incerto da cidade do minério e o pivô da Vale para Canaã dos Carajás

A situação se complica ainda mais pois a Vale já está mudando seu foco de investimentos para Canaã dos Carajás, que abriga um moderno complexo S11D. Esse novo local possui reservas mais que dobradas em relação a Parauapebas, fazendo com que a cidade se veja à sombra de um destino similar ao de Serra do Navio, no Amapá. Essa cidade, uma vez próspera devido à mineração, entrou em colapso quando os recursos se esgotaram, deixando um legado de desemprego e abandono.

A corrida contra o tempo para um futuro sem minério

O desafio de Parauapebas reside em usar a riqueza gerada atualmente para construir uma economia mais sustentável. Há planos para desenvolver a agricultura e a bioeconomia, além de um crescimento no setor de serviços. No entanto, a mineração ainda representa 84% do PIB da cidade. Análises indicam que a maior parte dos royalties é utilizada para manter a máquina pública, com poucos investimentos estratégicos voltados à diversificação econômica. A cidade do minério está ciente de que o tempo está correndo, e a cada ano que passa, as oportunidades de um futuro mais equilibrado diminuem.