Cidade goiana conquista R$ 1 bilhão para se tornar polo de agrotechs
Uma transformação silenciosa está em andamento no coração do Brasil. Em Rio Verde, Goiás, um novo polo de agrotechs está surgindo, atraindo cerca de R$ 1 bilhão em investimentos. Essa cidade, repleta de vastas lavouras de soja e milho, não se tornou um centro tecnológico por acaso. Todo esse crescimento é fruto de uma estratégia bem pensada, alicerçada na força do agronegócio local. E hoje, drones autônomos e inteligência artificial estão redefinindo o processo de colheita.
Como a potência agroindustrial impulsionou a inovação
As inovações que estão mudando a realidade de Rio Verde não surgiram do nada. Elas se apoiam em um complexo agroindustrial bem consolidado, que já é reconhecido mundialmente. A cidade se destaca como o segundo maior produtor de grãos do Brasil, com uma produção anual de 1,8 milhão de toneladas de soja e 2,5 milhões de toneladas de milho. Para coroar essa performance, é também o maior produtor de proteína animal do país, com um abate diário de 420 mil aves e 6,5 mil suínos.
Essa robustez na produção é complementada por uma infraestrutura logística de primeira linha. A recente inauguração da Plataforma Logística Multimodal da Ferrovia Norte-Sul trouxe um novo fôlego, conectando a região aos principais portos do Brasil.
De onde vem o capital das agrotechs?
O investimento que está moldando esse polo de agrotechs não é resultado de um único doador. Ao contrário, ele vem de uma combinação de fontes que demonstram a maturidade econômica da região.
Uma parte significativa desse montante se origina do Fundeinfra, um fundo estadual que é sustentado pelo próprio setor agropecuário. Em apenas dez meses, esse fundo conseguiu arrecadar R$ 1 bilhão, que está sendo usado para melhorar a logística. Além disso, grandes empresas têm aportado recursos na região. Um exemplo é a Caramuru Alimentos, que anunciou um investimento de R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 210 milhões destinados à duplicação de sua planta de processamento de soja.
Linhas de crédito governamentais, como o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), também contribuem, auxiliando na busca por soluções inovadoras no campo.
Drones e IA otimizam a colheita no Cerrado
No dia a dia das plantações, drones e Inteligência Artificial (IA) estão se tornando ferramentas indispensáveis para aumentar a eficiência e a produtividade.
Esses drones têm uma função vital na modernização do agronegócio, utilizando técnicas de pulverização de precisão. A empresa Cromai, uma das líderes da região, conseguiu economizar cerca de 65% no uso de herbicidas aplicando tecnologia para gerar mapas específicos das lavouras.
A IA tem um papel semelhante, agindo como o "cérebro" das operações. Por exemplo, num projeto de pecuária, a tecnologia monitora o bem-estar do gado por meio de câmeras, resultando em um aumento de 11% no ganho de peso diário dos animais.
A sinergia entre empresas, universidades e governo
Um dos segredos do sucesso de Rio Verde é a colaboração eficaz entre diferentes setores. Universidades, empresas e o governo uniram forças em um modelo de trabalho conhecido como “Hélice Tripla”.
Instituições como a Universidade de Rio Verde (UniRV) e o Instituto Federal Goiano (IF Goiano) são fundamentais para fomentar o conhecimento, enquanto hubs de inovação, como o CEAGRE e o AgroHub UniRV, facilitam a conexão entre startups e grandes empresas, como BRF, Cargill e a cooperativa Comigo. Essa interação é vantajosa para todos: as grandes corporações trazem desafios reais e as startups oferecem soluções inovadoras.
Os próximos passos para o polo de agrotechs
Apesar de todo esse potencial, o polo de agrotechs de Rio Verde enfrenta alguns desafios. A velocidade das inovações trouxe à tona novos gargalos que precisam ser resolvidos.
Um dos principais obstáculos é a falta de mão de obra qualificada. A tecnologia avança rapidamente, mas a formação de profissionais que possam operá-la ainda está atrasada. Além disso, a conectividade no campo é uma questão crítica. Muitas inovações da chamada Agricultura 4.0 dependem de uma internet estável, que ainda é um desafio em várias áreas rurais. Superar essas barreiras é essencial para garantir que o polo continue sua jornada de sucesso.