China libera peixes no deserto do Taklamakan; resultados surpreendem
Um experimento curioso está transformando uma das regiões mais áridas da China em um novo polo de aquicultura. Em 2023, a província de Xinjiang, localizada no noroeste do país, soltou milhões de peixes em áreas desérticas do Taklamakan. Um ano depois, os resultados foram surpreendentes: a economia local teve um impulso significativo e novas possibilidades surgiram para a criação de alimentos.
Xinjiang é conhecida por sua geografia extrema, com montanhas, planícies secas e o deserto do Taklamakan, considerado um dos mais inóspitos do planeta. Menos de 10% da área é habitável e a cidade de Urumqi, a capital, é a mais distante do mar em todo o mundo. Mesmo com condições tão desafiadoras, a China se lançou em um projeto inovador de aquicultura.
A ideia era simples, mas ousada: soltaram cerca de 100 mil alevinos marinhos em tanques criados em áreas salinas e alcalinas, onde antes se acreditava que a água não poderia sustentar qualquer tipo de cultivo. O pulo do gato foi a adaptação da água, que recebeu uma mistura de íons de cálcio, magnésio e potássio, criando um ambiente propício para a sobrevivência dos peixes. O resultado? Uma impressionante taxa de sobrevivência de 99% e um crescimento acelerado de várias espécies.
Do solo árido ao berço de crustáceos e pérolas
Mas não parou por aí. Além dos peixes, como a dourada e o robalo, os tanques também passaram a receber caranguejos verdes, camarões e até ostras perlíferas. Um exemplo notável foi o lago Bostan, que em 2023 colheu mais de 4 mil toneladas de caranguejos. Além disso, 2 milhões de ostras foram introduzidas para o cultivo de pérolas, aproveitando a luminosidade intensa da região.
Atualmente, seis cooperativas estão focadas na produção de frutos do mar no deserto. No ano passado, Xinjiang alcançou uma produção de 184 mil toneladas de pescado, movimentando cerca de US$ 530 milhões. As projeções são animadoras: espera-se que esse setor chegue a US$ 3 bilhões até 2025, impulsionado por exportações e vendas online.
Curiosamente, mesmo com o clima seco, Xinjiang possui mais de 2 mil milhas quadradas de corpos d’água, como lagos e reservatórios, que proporcionam uma fonte natural de nutrientes para os peixes. Esse detalhe tem ajudado a reduzir os custos operacionais e a aumentar a eficiência da produção.
Resultados econômicos e projeções para o futuro
Essa revolução na aquicultura também trouxe benefícios diretos para os moradores locais. Em 2016, a renda média de pescadores na região era de cerca de R$ 2.300, superando muitos trabalhadores rurais. A expansão desse setor gerou milhares de empregos e ampliou o comércio eletrônico de pescados.
Em 2023, as vendas digitais de frutos do mar cresceram 106%, atingindo US$ 54 milhões. Os produtos agora abastecem não só restaurantes em diversas províncias da China, mas também chegaram a mercados internacionais, mostrando que a logística da região é surpreendentemente eficaz, mesmo longe do mar.
Essa história de inovação e superação ressalta como é possível criar vida marinha no coração do deserto, dando um novo rumo à economia local e abrindo portas para um futuro promissor.