Celular à prova d’água: o que você precisa saber para não estragar o aparelho

A resistência à água tornou-se uma das características mais valorizadas e anunciadas nos smartphones modernos. A promessa de um aparelho que pode sobreviver a um mergulho acidental na piscina ou a uma chuva inesperada oferece uma grande sensação de segurança e tranquilidade para os consumidores.

Essa funcionalidade, geralmente indicada por uma certificação como a IP68, é resultado de um projeto de engenharia que utiliza vedações e adesivos para proteger os componentes internos do dispositivo. No entanto, existe uma grande diferença entre ser “resistente” e ser “à prova d’água”.

A falta de compreensão sobre os limites dessa proteção é uma das principais causas de danos em aparelhos que, teoricamente, deveriam resistir ao contato com líquidos. Fatores como o tipo de água, a profundidade e o tempo de submersão são determinantes para a integridade do celular.

A durabilidade dessa proteção depende de fatores que vão desde o tipo de água — doce, salgada ou clorada — até a integridade física do aparelho. A interpretação das certificações e a política de garantia das fabricantes são os pontos que definem os limites da resistência do dispositivo.

A diferença crucial entre “à prova d’água” e “resistente à água”

No mercado de eletrônicos, os termos “à prova d’água” e “resistente à água” são frequentemente usados de forma intercambiável, mas possuem significados técnicos muito distintos. Nenhum smartphone atualmente é considerado totalmente à prova d’água, no sentido de ser imune a danos por líquidos em qualquer condição.

O termo correto para descrever a proteção dos celulares modernos é “resistente à água”. Isso significa que o aparelho foi construído com barreiras físicas, como selos de borracha e adesivos, que dificultam a entrada de água em seus componentes internos, mas apenas sob condições específicas e controladas.

Essa resistência não é absoluta nem permanente. Ela é testada em laboratório, em condições ideais de água doce e sem pressão. Com o tempo e o uso, as vedações podem se degradar, e a capacidade do aparelho de resistir a líquidos diminui.

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Entenda a certificação IP68: o que ela realmente garante ao seu celular

A resistência de um celular a sólidos e líquidos é medida pela classificação de Proteção de Ingresso, ou Código IP. Esse padrão internacional é seguido por dois dígitos: o primeiro indica a proteção contra partículas sólidas, como poeira, e o segundo, a proteção contra líquidos.

O primeiro dígito “6”, presente em classificações como IP67 e IP68, representa o nível máximo de proteção contra poeira, indicando que o aparelho é totalmente vedado contra a entrada de partículas sólolas.

O segundo dígito “8”, da classificação IP68, indica um alto nível de proteção contra a imersão contínua em água. No entanto, diferentemente do nível 7 (que tem um padrão fixo de 1 metro por 30 minutos), o nível 8 exige que o fabricante especifique a profundidade e o tempo exatos suportados pelo aparelho, como, por exemplo, “1,5 metro de profundidade por até 30 minutos”. Isso significa que nem todos os celulares com IP68 possuem o mesmo nível de resistência.

Riscos que a água ainda oferece: piscina, água salgada e vapor

A certificação IP se refere exclusivamente a testes realizados em água doce e parada. A exposição do aparelho a outros tipos de líquidos pode anular a proteção e causar danos permanentes, mesmo que dentro dos limites de tempo e profundidade especificados.

A água salgada do mar é um dos maiores inimigos dos eletrônicos. O sal é altamente corrosivo e, se entrar em contato com os circuitos internos do celular, pode causar danos irreparáveis. Além disso, a água salgada pode cristalizar e danificar as vedações de borracha do aparelho.

Da mesma forma, a água de piscinas, que contém cloro e outros produtos químicos, também é agressiva para os materiais de vedação do celular. Outros riscos incluem a exposição a jatos de água de alta pressão ou ao vapor de água quente, como em um banheiro durante um banho, que podem forçar a entrada de umidade no dispositivo.

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O que fazer se seu celular molhar, mesmo sendo resistente à água

Se o seu celular resistente à água tiver um contato significativo com líquidos, especialmente se for água salgada ou com cloro, é fundamental tomar algumas medidas imediatas para minimizar o risco de danos.

A primeira recomendação dos fabricantes é enxaguar o aparelho suavemente com água doce corrente para remover resíduos de sal ou cloro. Em seguida, desligue o dispositivo imediatamente para evitar a possibilidade de curtos-circuitos caso alguma umidade tenha penetrado nos componentes internos.

Seque completamente o exterior do aparelho com um pano macio e que não solte fiapos. Para remover a água dos conectores, como a porta de carregamento, bata o celular levemente contra a mão, com o conector virado para baixo. Deixe o aparelho em um local arejado para secar completamente por várias horas antes de tentar ligá-lo ou carregá-lo novamente.

Celular à prova d'água o que você precisa saber para não estragar o aparelho
A garantia da maioria dos fabricantes não cobre danos por líquidos, mesmo em aparelhos com certificação de resistência à água, reforçando que a proteção é para acidentes, não para uso subaquático – Crédito: freepik / Freepik

Dicas essenciais para manter a vedação do seu celular intacta

A resistência à água de um smartphone depende da integridade de suas vedações internas. Qualquer dano físico ao aparelho, por menor que pareça, pode comprometer essa proteção.

Uma queda, mesmo que não quebre a tela, pode criar microfissuras na carcaça ou deslocar os adesivos de vedação, abrindo um caminho para a entrada de líquidos. Da mesma forma, uma tela trincada anula completamente a resistência à água do dispositivo.

O envelhecimento natural do aparelho e a exposição a temperaturas extremas também podem causar o ressecamento e a degradação das vedações de borracha. É importante notar que qualquer reparo que exija a abertura do celular, especialmente se realizado por assistências não autorizadas, provavelmente irá comprometer a vedação de fábrica.

Mitos e verdades sobre o arroz e outras soluções caseiras

Um dos mitos mais difundidos para secar celulares molhados é o de colocá-los em um pote de arroz cru. Embora o arroz tenha propriedades de absorção de umidade, sua eficácia para secar os componentes internos de um celular é muito baixa e o processo é lento.

Além da baixa eficácia, o método do arroz pode ser prejudicial. Partículas de amido e poeira do arroz podem entrar nos conectores do aparelho, como a porta de carregamento ou as saídas de áudio, causando novos problemas ou dificultando futuros reparos.

A recomendação dos especialistas é evitar o uso do arroz, assim como de outras fontes de calor, como secadores de cabelo, que podem danificar os componentes internos. A forma mais segura de secar um celular em casa é deixá-lo desligado em um local seco e bem ventilado, se possível com um ventilador direcionado para ele, para acelerar a evaporação.

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Como a garantia do celular funciona em casos de danos por líquidos

Este é um dos pontos que mais gera surpresa e frustração nos consumidores. Apesar de anunciarem a resistência à água como um grande diferencial, a maioria dos fabricantes, incluindo Apple e Samsung, deixam claro em seus termos que a garantia padrão não cobre danos causados por líquidos.

Os smartphones são equipados com pequenos indicadores internos de contato com líquidos (LCIs). Esses indicadores, que são brancos quando secos, mudam de cor, geralmente para vermelho ou rosa, quando entram em contato com a umidade. Ao receber um aparelho para reparo, a primeira verificação feita pela assistência técnica é a desses sensores.

Se o LCI estiver ativado, o reparo em garantia será negado, e o consumidor terá que arcar com o custo total do conserto ou da substituição do aparelho. Por essa razão, a certificação IP deve ser encarada como uma proteção contra acidentes, e não como um convite para o uso subaquático do celular.