Caso Benício: CRM e Coren cassam registros de médica e técnica envolvidas em erro fatal
Decisão dos conselhos de classe impede que profissionais voltem a atuar na área da saúde após negligência em hospital.
O desfecho administrativo de um dos casos mais tristes da saúde pública recente no Rio de Janeiro finalmente aconteceu. O Conselho Regional de Medicina (CRM) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) decidiram pela cassação definitiva dos registros profissionais da médica e da técnica de enfermagem envolvidas no atendimento ao pequeno Benício.
Essa medida é considerada a punição mais severa que um conselho de classe pode aplicar. Na prática, isso significa que as duas estão proibidas de exercer suas profissões em qualquer lugar do país. A decisão reflete a gravidade das falhas que levaram à morte do bebê, que tinha apenas um ano e sete meses.
Para a família, embora nada apague a dor da perda, a notícia traz um sentimento de justiça no campo ético-profissional. O caso ganhou repercussão nacional pela sequência de erros e pela falta de suporte adequado em um momento de extrema urgência dentro da unidade de saúde.
É importante entender que esse processo correu de forma independente da esfera criminal. Enquanto a polícia e o Ministério Público cuidam da responsabilidade penal, os conselhos de classe julgam se a conduta das profissionais seguiu os padrões éticos exigidos para quem lida com vidas diariamente.
O que motivou a cassação dos registros profissionais
A investigação conduzida pelos conselhos apontou que houve uma clara negligência no atendimento. No dia do ocorrido, Benício entrou com um quadro que exigia atenção imediata, mas o que se viu foi uma série de decisões equivocadas que comprometeram o estado de saúde da criança de forma irreversível.
No caso da médica, o conselho entendeu que houve falta de zelo e omissão no diagnóstico e na supervisão direta do procedimento. Já para a técnica de enfermagem, o foco foi a execução incorreta de protocolos básicos que são ensinados logo no início da formação profissional.
Quando um profissional de saúde recebe a punição de cassação, o seu nome é retirado dos quadros ativos e um comunicado é enviado para todas as unidades da federação. Isso evita que elas tentem obter um novo registro em outro estado para continuar trabalhando.
Decisões como essa são raras e só acontecem quando a prova do erro é inquestionável. É uma forma de o próprio sistema de saúde dizer que não aceita comportamentos que coloquem a população em risco dessa maneira.
O impacto da decisão no processo judicial
Com os registros profissionais cancelados, a situação jurídica das envolvidas também tende a se complicar. Embora o julgamento do CRM e do Coren não defina a sentença de uma futura condenação criminal, ele serve como uma prova documental poderosa para a acusação.
Os juízes costumam olhar com muita atenção para os pareceres dos conselhos técnicos. Se os próprios pares das profissionais — outros médicos e enfermeiros — entenderam que houve erro crasso, fica mais difícil para a defesa sustentar que foi uma fatalidade ou um evento imprevisível.
Além da proibição de trabalhar, a cassação encerra qualquer vínculo que elas tivessem com órgãos públicos ou hospitais particulares. É uma mancha definitiva na carreira de quem dedicou anos ao estudo, mas falhou no compromisso mais básico da profissão: a preservação da vida.
A sociedade espera que casos como o de Benício sirvam de alerta para a urgência de treinamentos contínuos e fiscalização rigorosa dentro dos hospitais. A perda de um registro é um recado claro sobre a responsabilidade imensa que carrega quem veste um jaleco.
O que acontece agora com as investigadas
Mesmo com a perda dos diplomas profissionais, o processo na justiça comum continua seguindo seus prazos. Elas ainda podem ser levadas a júri ou responder por homicídio culposo ou doloso, dependendo da interpretação final dos tribunais sobre a intenção ou o nível de imprudência.
As defesas ainda podem tentar recursos administrativos em instâncias federais dos conselhos, mas as chances de reversão em casos de grande comoção e provas robustas são consideradas mínimas. O histórico de decisões anteriores mostra que, uma vez cassado pelo conselho regional, a decisão costuma ser mantida.
Enquanto isso, a família de Benício segue com o luto, mas agora com o alento de que as responsáveis pelo erro não poderão mais atender outras crianças. A segurança dos pacientes depende desse equilíbrio entre a confiança no profissional e a certeza da punição quando as regras são quebradas.
Informações como estas reforçam a importância de estarmos sempre atentos aos nossos direitos como pacientes e cidadãos. Acompanhar o desfecho de episódios graves é essencial para garantir que a transparência prevaleça no sistema de saúde brasileiro.