Belém do Pará: a capital brasileira com mais de 2.800 mm de chuva

Quando falamos sobre a capital que mais chove no Brasil, muitos pensam imediatamente em Manaus, cercada pela floresta amazônica. Mas a verdadeira campeã da chuva é outra cidade amazônica: Belém, no Pará. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), essa metrópole é a que registra o maior volume de precipitação durante o ano.

Com uma média de mais de 3.000 mm de chuva por ano, a vida em Belém gira em torno das chuvas. Aqui, a água não é apenas um fenômeno natural; ela faz parte da cultura local, moldando o dia a dia e criando desafios relacionados à infraestrutura. Isso tudo acaba formando uma identidade única entre os belenenses, que demonstram uma admirável resiliência diante do clima.

Por que Belém é a capital onde mais chove no Brasil?

Os números falam por si. Estudos mais recentes, como uma análise do ICLEI de 2025, mostram que a precipitação média anual em Belém é de incríveis 3.308 mm. Isso coloca a cidade definitivamente no topo do ranking de chuvas no Brasil.

O clima em Belém se divide em duas estações principais: o “Inverno Amazônico” e o “Verão Amazônico”. Entre dezembro e maio, a cidade enfrenta o período mais chuvoso, com março sendo o mês de maior intensidade, chegando a quase 400 mm de chuva. Já de julho a novembro, as chuvas diminuem um pouco, mas ainda estão presentes.

Uma característica bastante peculiar de Belém é a chamada “chuva com hora marcada”. Quase todos os dias, no fim da tarde, nuvens carregadas se formam e trazem chuvas torrenciais, tornando-se parte da rotina dos moradores. Esse padrão é tão frequente que se entranhou na cultura da cidade.

A previsibilidade da chuva não é nova. Visitantes ilustres do século XVIII, como Henry Bates e Alfred Wallace, já faziam anotações sobre como a população se adaptava a esse fenômeno. Esse conhecimento prático ao longo do tempo permitiu que os belenenses moldassem suas atividades em função das chuvas.

Os desafios urbanos: alagamentos, infraestrutura e o impacto no dia a dia

Apesar de essas chuvas serem esperadas, elas trazem enormes desafios para a infraestrutura de Belém. Os alagamentos são comuns em vários bairros, como Cremação, Jurunas e Guamá. A baixa altitude da cidade e um sistema de drenagem ineficiente agravam ainda mais essa questão.

Em março de 2020, por exemplo, a cidade enfrentou um estado de emergência devido à combinação de chuvas intensas e marés altas, resultando em congestionamentos e danos a propriedades. A saúde da população também ficou comprometida, especialmente em áreas sem acesso ao saneamento básico adequado.

No entanto, a população de Belém desenvolveu uma incrível habilidade de adaptação. A chuva se tornou um símbolo cultural, afetando desde a música até o vestuário, tornando o guarda-chuva um item essencial.

A arquitetura local também reflete essa resiliência. As palafitas, por exemplo, são uma solução tradicional para enfrentar o aumento das águas. Os moradores, em um verdadeiro espetáculo de adaptação, ajustam suas rotinas à “hora da chuva”, buscando abrigo ou alterando seus horários para evitar os temporais.

Com a realização da COP-30 em Belém, prevista para novembro de 2025, surgem oportunidades e desafios. A cidade possui grande potencial para aproveitar a água da chuva, principalmente em áreas que, curiosamente, enfrentam escassez de água potável.

Contudo, há preocupações em relação aos investimentos para o evento. Projetos de infraestrutura têm sido criticados por priorizarem a especulação imobiliária ao invés de resolver problemas crônicos de drenagem e saneamento nas áreas periféricas. Assim, a verdadeira prova para a capital que mais chove no Brasil será transformar essa chance em um legado de desenvolvimento sustentável que beneficie a todos os seus cidadãos.