Receita Federal vai taxar motoristas de aplicativo em 26,5%? Checamos a informação
O debate sobre a regulamentação dos motoristas de plataformas digitais gerou confusão sobre os valores reais de impostos e contribuições.
Nos últimos meses, mensagens e vídeos nas redes sociais acenderam um alerta entre os motoristas da Uber, 99 e outros serviços de transporte: a suposta criação de uma taxa de 26,5% sobre os ganhos pela Receita Federal a partir de 2026. No entanto, após uma checagem detalhada das propostas de regulamentação do trabalho por plataformas, a realidade é bem menos alarmante do que as publicações sugerem.
A confusão começou com a tramitação da Reforma Tributária, que prevê a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Embora a alíquota padrão estimada para esses novos impostos seja de fato próxima a 26,5%, ela se aplica ao consumo e ao valor agregado, e não diretamente sobre o faturamento total bruto do trabalhador como se fosse um Imposto de Renda.
Além disso, o projeto de lei que regulamenta a profissão de “trabalhador autônomo por plataforma” foca em contribuições previdenciárias para garantir direitos como aposentadoria e auxílio-doença, com percentuais muito distantes dos 26,5% citados nos boatos.
O que diz o projeto de regulamentação real
O projeto que está em discussão no Congresso Nacional estabelece regras específicas para a categoria, focadas em transparência e seguridade social, e não em uma nova carga tributária de consumo para o motorista. Os pontos centrais são:
- Contribuição ao INSS: A proposta prevê que o motorista contribua com 7,5% sobre o “salário de contribuição” (que não é o faturamento total, mas uma parte dele destinada a representar a renda líquida).
- Parte das empresas: As plataformas (como a Uber) passariam a contribuir com 20% sobre esse mesmo valor, sem descontar do motorista.
- Ganhos mínimos: O projeto estabelece um valor mínimo por hora trabalhada para cobrir custos operacionais e garantir uma remuneração digna.
Portanto, a taxa de 26,5% não se aplica como um desconto no extrato semanal do motorista. Ela é uma estimativa de alíquota para produtos e serviços na economia em geral após a reforma, e a forma como ela impactará o preço final das corridas para o passageiro ainda está sendo calculada, mas não representa uma “taxação de renda” para quem dirige.
Diferença entre Imposto, Contribuição e Reforma
É importante que o motorista saiba distinguir os diferentes tipos de cobranças para não cair em desinformação. A taxa de 26,5% da Reforma Tributária visa substituir impostos atuais (como PIS, Cofins, ICMS e ISS). Para o motorista de aplicativo, que muitas vezes atua como MEI ou pessoa física, as regras de tributação de renda continuam seguindo tabelas específicas.
A maioria dos motoristas de aplicativo hoje se enquadra no MEI ou na faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. Nenhuma das propostas enviadas pelo governo ao Legislativo altera essa faixa de isenção para criar uma cobrança fixa de 26,5% sobre o trabalho autônomo.
O que está em jogo para 2026 é a formalização da proteção social. O objetivo é que o motorista deixe de ser um trabalhador sem qualquer amparo e passe a ter direitos previdenciários, utilizando uma alíquota de contribuição reduzida (7,5%) em relação aos 20% que um autônomo comum pagaria normalmente.
Como se proteger da desinformação
Mensagens que trazem valores redondos e assustadores, como “taxa de 26,5% para todos”, costumam ser projetadas para gerar engajamento por meio do medo. Sempre que receber esse tipo de informação, verifique se o valor citado refere-se ao faturamento bruto , ao lucro líquido ou a um imposto de consumo .
O setor de transporte por aplicativos passará, sim, por mudanças estruturais até 2026, mas elas visam equilibrar a relação entre empresas e trabalhadores. Ficar atento aos canais oficiais do Ministério do Trabalho e da Receita Federal é a melhor forma de planejar o seu futuro financeiro sem sustos.
A recomendação para o motorista é continuar acompanhando o andamento do PLP 12/2024, que é o projeto que realmente dita as regras de quanto será descontado para a previdência e como serão calculados os ganhos mínimos.