Afinal, um santo pode perder o título na Igreja Católica?
Entenda como a Igreja revisou a lista de santos ao longo da história e o que aconteceu com figuras populares como São Jorge e São Cristóvão
Muita gente já se perguntou se um santo pode ou não perder o título dentro da Igreja Católica. A resposta não é tão simples, mas ajuda a entender como funciona o processo de canonização e como a própria Igreja lida com tradições e histórias que atravessam séculos.
O caminho para alguém se tornar santo é longo e cheio de etapas. Entre elas, estão as investigações sobre a vida da pessoa, a comprovação de milagres e a análise criteriosa da fé e devoção popular. Tudo isso existe justamente para garantir que não haja dúvida quanto à autenticidade da canonização.
Hoje, uma vez declarado santo, o título permanece. Porém, nem sempre foi assim. Houve épocas em que o processo era bem mais flexível e dependia de decisões locais, o que causava bastante confusão.
Como surgiram os primeiros santos
Nos primeiros séculos do cristianismo, não existia um processo formal para declarar alguém santo. Muitos deles eram mártires, lembrados pelas comunidades que guardavam suas histórias de fé e resistência. Cada região cultivava a própria devoção, e bastava a aprovação de um bispo local para que a festa fosse incluída no calendário litúrgico.
O problema é que, dessa forma, diversos nomes passaram a ser venerados sem que houvesse registros concretos de suas vidas. Com o tempo, o calendário da Igreja ficou sobrecarregado e até figuras que provavelmente nunca existiram ganharam espaço.
O processo atual de canonização
Para organizar melhor esse cenário, a Igreja oficializou um procedimento universal. Desde o século 13, passou a ser exigida a aprovação do papa para que alguém fosse reconhecido oficialmente como santo. O objetivo era dar mais consistência e evitar erros históricos.
Essa mudança trouxe rigor às investigações. Hoje, para ser canonizado, é necessário comprovar milagres e revisar minuciosamente toda a trajetória da pessoa. É por isso que as etapas são demoradas e podem durar décadas.
O caso de São Jorge e São Cristóvão
Mesmo com o novo procedimento, a Igreja ainda precisou revisar a história de alguns santos que já haviam sido incluídos no calendário oficial. Um exemplo marcante aconteceu em 1969, durante o pontificado de Paulo VI. O papa determinou uma revisão geral e removeu da lista oficial diversas figuras que apresentavam fortes indícios de lenda.
Nessa lista estavam nomes muito queridos dos brasileiros, como São Jorge e São Cristóvão. Isso não significa que deixaram de ser santos, mas sim que a celebração litúrgica deixou de ser obrigatória dentro da Igreja. Assim, cada comunidade pode manter ou não a devoção, de maneira facultativa.
Afinal, os fiéis podem continuar rezando para esses santos?
Sim. A decisão da Igreja não proíbe orações ou festas em honra a santos que perderam espaço no calendário oficial. Os fiéis podem continuar com as devoções, e em muitos lugares elas ficaram até mais fortes com o passar do tempo. No Rio de Janeiro, por exemplo, São Jorge é um dos santos mais populares, celebrado com grandes festas em abril.
O que muda, na prática, é o reconhecimento litúrgico universal. Ou seja, não há mais uma data obrigatória no calendário da Igreja, mas os devotos continuam livres para cultuar esses santos.
A devoção que resiste ao tempo
A experiência mostra que, mesmo quando a Igreja reorganiza o calendário, a fé popular cria raízes que dificilmente se perdem. É por isso que nomes como São Jorge e São Cristóvão seguem presentes em orações, capelas, imagens em casas e procissões — símbolos que fazem parte da vida de milhões de fiéis.