Crianças maias usavam piercings nos dentes há mais de mil anos, revelam arqueólogos

Descoberta inédita mostra que a tradição de incrustar pedras preciosas nos dentes também era praticada entre crianças da civilização maia.

Já pensou encontrar uma criança de dez anos com um piercing nos dentes? Pois foi exatamente isso que arqueólogos descobriram em fósseis da antiga civilização maia. Três dentes de crianças, datados do século 10 d.C., traziam incrustações de pequenas pedras de jade, revelando que a tradição de decorar o sorriso não era restrita apenas aos adultos.

Até então, essa prática havia sido confirmada apenas em adolescentes e adultos da Mesoamérica, mas nunca em crianças. A novidade chama atenção porque amplia o entendimento sobre os costumes e rituais maias, que davam grande importância às modificações corporais como parte da identidade social.

A tradição dos piercings dentários

Entre 250 d.C. e os últimos anos da civilização maia, era comum encontrar dentes modificados. Os arqueólogos já documentaram vários tipos de incrustações, gravuras e perfurações, geralmente preenchidas com jade ou obsidiana, duas pedras valorizadas pela cultura local.

As incisões eram feitas com ferramentas de pedra, um trabalho delicado que exigia habilidade, já que qualquer erro poderia fraturar o dente. Essas intervenções tinham tanto valor estético quanto ritual, indicando status social, maturidade ou ligação espiritual.

O estudo em crianças

Os três dentes recém-analisados — dois incisivos e um canino — fazem parte da coleção do Museu Popol Vuh, na Guatemala. Pertenciam a crianças de aproximadamente 8 a 10 anos, segundo avaliação liderada pelo dentista e arqueólogo Marco Ramírez-Salomón.

Apesar de não trazerem informações contextuais, como a localização original das ossadas ou o status da família, os pesquisadores acreditam que as pedras foram incrustadas quando as crianças ainda estavam vivas. Isso reforça a ideia de que os piercings poderiam estar ligados a algum tipo de rito de passagem.

Esses restos se juntam a uma descoberta anterior, feita em Belize: um dente de criança entre 3 e 4 anos também apresentava adornos. Nesse caso, no entanto, os indícios sugerem que a joia foi colocada após a morte.

Possíveis explicações

Mesmo sem um contexto arqueológico completo, os cientistas levantam hipóteses. Uma delas é que a prática poderia estar associada a tradições regionais específicas, o que explicaria a escassez de registros em outras áreas da América Central.

Outra possibilidade é que os piercings marquem uma espécie de transição para a vida adulta. Entre os maias, era comum que crianças, a partir dos 10 anos, passassem a assumir responsabilidades semelhantes às dos mais velhos. Nesse cenário, modificar os dentes poderia simbolizar essa mudança de condição social.

Piercings e identidade cultural

Na visão dos arqueólogos, os adornos dentários infantis ajudam a enxergar como os maias entendiam o corpo como uma tela de significados. Mais do que estética, as jóias refletiam inclusão em tradições, hierarquia e até espiritualidade.

Assim, a descoberta adiciona uma nova camada ao conhecimento sobre esse povo, mostrando que a cultura do enfeite corporal era abrangente e mais diversa do que se imaginava.