Benefícios do banho frio: impulsione sua imunidade e recuperação muscular

A prática de tomar banho frio, muitas vezes associada apenas a uma forma de se refrescar em dias quentes, tem ganhado cada vez mais adeptos como um hábito de saúde e bem-estar. Utilizada há séculos em diversas culturas, a exposição voluntária ao frio, ou crioterapia, é hoje objeto de estudos que buscam comprovar seus efeitos no organismo.

Longe de ser apenas uma questão de preferência pessoal, o contato com a água fria desencadeia uma série de respostas fisiológicas no corpo. Essas reações, que vão desde alterações na circulação sanguínea até a liberação de determinados hormônios, estão na base dos potenciais benefícios da prática para a saúde.

Entre as vantagens mais relatadas por praticantes e investigadas pela ciência estão o fortalecimento do sistema imunológico, a aceleração da recuperação muscular após exercícios físicos e o aumento da energia e do estado de alerta. No entanto, para obter esses resultados, é preciso adotar o hábito de forma correta e gradual.

A ciência por trás do hábito aponta para reações fisiológicas que vão da circulação à resposta imune. Os efeitos sobre o metabolismo e o estado de alerta mental, assim como a maneira correta de iniciar a prática, são os principais pontos de interesse para quem busca seus benefícios.

Como o banho frio age no seu corpo para fortalecer a imunidade

A teoria de que o banho frio pode fortalecer o sistema imunológico se baseia na ideia de que o choque térmico funciona como um pequeno estresse para o corpo. Essa exposição aguda ao frio ativaria o sistema nervoso simpático, que por sua vez poderia estimular um aumento na produção de glóbulos brancos, as células de defesa do organismo.

Um estudo notável realizado na Holanda e publicado em 2016 investigou os efeitos do banho frio na saúde e no trabalho. Os resultados mostraram que os participantes que terminaram seus banhos com um jato de água fria por 30 a 90 segundos relataram uma redução de 29% nas ausências por doença no trabalho, em comparação com o grupo de controle.

Embora o estudo não tenha encontrado uma diminuição no número de dias em que as pessoas se sentiram doentes, a redução na gravidade dos sintomas sugere que a resposta imune pode ter se tornado mais robusta ou eficiente. Os pesquisadores apontam que a prática pode induzir adaptações fisiológicas que preparam o sistema de defesa para responder de forma mais eficaz a infecções.

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A relação entre o banho frio e a redução de inflamações no organismo

Um dos efeitos mais imediatos e bem compreendidos da aplicação de frio no corpo é a vasoconstrição, que é o estreitamento dos vasos sanguíneos. Quando a pele entra em contato com a água fria, os vasos na superfície se contraem para reduzir a perda de calor e preservar a temperatura interna dos órgãos vitais.

Esse processo de vasoconstrição reduz o fluxo sanguíneo para as áreas periféricas do corpo, como os músculos e a pele. Em uma área que está inflamada, essa diminuição do fluxo sanguíneo pode ajudar a reduzir o inchaço (edema) e a atividade inflamatória, de forma semelhante à aplicação de uma bolsa de gelo em uma lesão.

É por esse mecanismo anti-inflamatório que atletas de alto rendimento frequentemente utilizam banhos de imersão em gelo após treinos ou competições intensas. A prática ajuda a controlar as microlesões e a inflamação que ocorrem nos músculos durante o esforço físico, sendo uma ferramenta para o manejo da dor e da recuperação.

Benefícios do banho frio na recuperação muscular pós-treino

A aplicação do banho frio no pós-treino está diretamente ligada à sua capacidade de reduzir a inflamação e a dor muscular. O exercício intenso causa microtraumas nas fibras musculares, o que desencadeia um processo inflamatório natural e a sensação de dor tardia, conhecida como Dor Muscular de Início Tardio (DMIT).

A vasoconstrição causada pelo frio ajuda a diminuir a resposta inflamatória e o inchaço no tecido muscular. Adicionalmente, acredita-se que a contração dos vasos sanguíneos possa auxiliar na remoção de subprodutos metabólicos acumulados durante o exercício, como o lactato, embora este não seja o principal causador da dor tardia.

O principal benefício percebido pelos atletas é a redução da percepção da dor muscular nos dias seguintes ao treino. Ao aliviar esse desconforto, o banho frio pode permitir uma recuperação mais rápida e um retorno mais breve aos treinamentos com a mesma intensidade.

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Como o choque térmico melhora a circulação sanguínea

O banho frio promove um verdadeiro “exercício” para o sistema circulatório. O contato inicial com a água fria causa uma contração rápida dos vasos sanguíneos na pele e nos músculos (vasoconstrição), o que desvia o fluxo de sangue para as partes mais centrais do corpo.

Assim que a exposição ao frio termina e o corpo começa a se aquecer novamente, ocorre o processo inverso, a vasodilatação. Os vasos sanguíneos se dilatam para permitir que o sangue rico em oxigênio volte a fluir para as extremidades, gerando uma sensação de aquecimento e, por vezes, vermelhidão na pele.

Esse ciclo de contração e dilatação forçada dos vasos pode, com a prática regular, melhorar a elasticidade e a capacidade de resposta do sistema vascular. Uma circulação mais eficiente significa um melhor transporte de oxigênio e nutrientes para todas as células do corpo, contribuindo para a saúde cardiovascular geral.

Benefícios do banho frio impulsione sua imunidade e recuperação muscular
Para atletas, o banho frio ou a imersão em gelo é uma prática comum para acelerar a recuperação muscular, reduzindo a inflamação e a dor após o exercício intenso – Crédito: Vidar Nordli-Mathisen / Unsplash

Banho frio e o metabolismo: ele ajuda na queima de calorias?

A exposição ao frio pode, de fato, estimular o metabolismo, pois o corpo precisa gastar energia para manter sua temperatura interna estável em torno de 37°C, um processo conhecido como termogênese.

O corpo humano possui um tipo especial de tecido adiposo, a gordura marrom, cuja principal função é gerar calor. Estudos sugerem que a exposição regular ao frio pode ativar essa gordura marrom, fazendo com que ela queime calorias para produzir calor e aquecer o corpo.

No entanto, é importante ter uma perspectiva realista sobre esse efeito. Embora o banho frio possa causar um aumento temporário na taxa metabólica, a quantidade de calorias queimadas é relativamente pequena. A prática não deve ser considerada uma estratégia primária para a perda de peso, mas sim um possível complemento a uma dieta equilibrada e à prática regular de exercícios.

Impacto do banho frio na energia e no estado de alerta mental

A sensação de vigor e de alerta mental após um banho frio é um dos efeitos mais relatados pelos praticantes. Essa resposta é desencadeada por uma série de reações fisiológicas ao choque térmico.

O contato com a água fria provoca um reflexo de respiração profunda e rápida, o que aumenta a captação de oxigênio. Simultaneamente, a frequência cardíaca se eleva para bombear o sangue de forma mais eficiente. Essa combinação aumenta a oxigenação do cérebro e do corpo.

Adicionalmente, o choque de frio estimula a liberação de neurotransmissores como a noradrenalina e a dopamina, que estão diretamente ligados ao estado de alerta, ao foco e à motivação. A liberação de endorfinas também pode contribuir para uma sensação de bem-estar e de humor elevado após o banho.

Como começar a tomar banho frio de forma segura e gradual

Para quem não está acostumado, a ideia de entrar diretamente em um banho de água gelada pode ser intimidante. A melhor abordagem é a da adaptação gradual, para permitir que o corpo se acostume com o estímulo sem gerar um desconforto excessivo.

Uma técnica eficaz é o chamado “banho de contraste”. Comece o banho com a água na temperatura normal, morna, e ao final, gire o registro para a água fria por um período curto, de 15 a 30 segundos. Após alguns dias, pode-se aumentar gradualmente o tempo de exposição ao frio.

Outra opção é diminuir a temperatura da água progressivamente ao longo do próprio banho, começando morno e terminando frio. O importante é escutar os sinais do corpo e não forçar a exposição além de um limite de conforto razoável, especialmente nas primeiras semanas.

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Quanto tempo e qual a frequência ideal para o banho frio

Não existe uma regra única sobre a duração ideal de um banho frio, e a resposta pode variar de acordo com o objetivo e a tolerância individual. No entanto, a maioria dos estudos e dos relatos de praticantes sugere que os benefícios podem ser obtidos com exposições relativamente curtas.

Um período de dois a cinco minutos em água fria costuma ser suficiente para desencadear as respostas fisiológicas de circulação, alerta e recuperação muscular. Períodos muito mais longos não necessariamente trazem benefícios adicionais e podem aumentar o risco de hipotermia.

Quanto à frequência, a consistência é mais importante do que a intensidade. A prática diária ou em dias alternados é o que permite que o corpo se adapte e que os benefícios de longo prazo, como a melhora na resposta imune, possam se manifestar.