Sarah Biller fala sobre open banking e os benefícios dos dados abertos

JPMorgan e as Tarifas de Dados: Impactos no Setor Fintech

O banco JPMorgan está planejando implementar tarifas para o uso de dados, o que pode prejudicar o crescimento das fintechs, empresas que oferecem serviços financeiros baseados em tecnologia. Enquanto isso, muitos integrantes do setor, liderados pela Fintech Sandbox, acreditam que uma abordagem colaborativa pode beneficiar a todos.

Sarah Biller, cofundadora da Fintech Sandbox, conta que a ideia da empresa surgiu em 2012, quando ela trabalhava em Boston em uma plataforma de análise de risco. O objetivo era entender como fatores não financeiros influenciavam os mercados de crédito. Durante esse tempo, Biller e seus colegas se depararam com dificuldades no acesso a conjuntos de dados essenciais para suas pesquisas e inovações.

“Era quase impossível para nós acessar os dados que precisávamos. O custo era muito alto e o processo de aquisição demorava muito,” explicou Biller. Segundo ela, as equipes de vendas das empresas tradicionais preferiam atender grandes clientes, como fundos de investimento, do que pequenas startups.

Para resolver esse problema, Biller ofereceu uma proposta de baixo risco aos donos de dados: disponibilizar seis meses de dados para as startups e observar os resultados. Essa estratégia se mostrou eficaz. Empresas como a Thomson-Reuters e cerca de 50 grandes fornecedores de dados se uniram à iniciativa, permitindo que novos produtos e parcerias surgissem.

A Fintech Sandbox já ajudou mais de 400 empreendedores do setor, com uma taxa de sobrevivência impressionante: 82% ainda estão ativos ou foram adquiridos. Essas startups levantaram mais de 2,5 bilhões de dólares e estão presentes em 19 países, em todos os continentes.

A importância do acesso a dados é evidente nas inovações que podem ser geradas a partir dele. Biller ressaltou que muitas inovações estão surgindo em comunidades marginalizadas, especialmente na África e na América Latina, onde as fintechs estão superando barreiras impostas por sistemas financeiros tradicionais. “Se conseguirmos entregar dados a essas comunidades, elas poderão desenvolver soluções financeiras interessantes,” afirmou.

No entanto, empresas como o JPMorgan, que possuem acesso a vastos conjuntos de dados, estão relutantes em compartilhar essas informações com as fintechs, o que poderia atrasar o ciclo de inovação nos Estados Unidos. Biller compara a situação com o exemplo da Austrália, que está na vanguarda do open banking, permitindo uma melhor experiência bancária para pequenas empresas e cidadãos comuns.

“Se não pudermos dar acesso aos dados, fica difícil resolver as necessidades individuais. Como podemos desenvolver produtos e serviços que realmente ajudem as pessoas?” questionou Biller. Ela acredita que eliminar essas barreiras, mesmo que temporariamente, pode estimular a inovação.

Além disso, há soluções criativas sendo exploradas, como o uso de dados abertos para ajudar pequenos e médios negócios com crédito no ponto de venda ou oferecer serviços financeiros a grupos mais vulneráveis.

Com a evolução dos dados e da tecnologia, é essencial garantir a proteção dessas informações. Biller destacou que há novas soluções que podem permitir compartilhar dados de forma segura, como técnicas de anonimização.

Para o futuro, Biller acredita que é crucial discutir como proteger a identidade digital dos usuários e quais ferramentas estarão disponíveis para isso. O caminho é desafiador, mas as fintechs estão se posicionando na linha de frente para enfrentar essas questões e continuar promovendo inovações no setor financeiro.