Quarteto Fantástico enfrenta desafios na polarização política

Em agosto de 1961, a Alemanha Oriental começou a construção do Muro de Berlim, o que simbolizou a divisão global durante a Guerra Fria. No mesmo mês, uma revista em quadrinhos da Marvel chegava às bancas americanas, apresentando um grupo de quatro cientistas que se arriscavam em uma missão espacial. Um deles dizia que, se não aceitassem a proposta, “os comunistas vão ganhar”. Essa narrativa espelhava a tensão da corrida espacial, que era uma parte crucial da rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética. Durante essa missão, os cientistas são atingidos por raios cósmicos e obtêm poderes, mas com consequências inesperadas. Esse enredo foi revisitável no filme "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos", que estreou recentemente nos cinemas.

Na nova versão da história, os heróis não estão mais focados em derrotar soviéticos, mas sim em buscar conhecimento. Diante de uma ameaça vindo do espaço, os Estados Unidos se unem a nações do mundo todo, promovendo um esforço conjunto para salvar o planeta. Essa mudança reflete a nova realidade do enredo, em que não há mais a Guerra Fria, mas ainda há mudanças significativas promovidas pelo diretor Matt Shakman. Em uma era de valorização feminina, a Mulher Invisível, interpretada por Vanessa Kirby, tem um papel mais relevante, enquanto o Tocha Humana, interpretado por Joseph Quinn, é mostrado como um personagem que, apesar de seu passado de conquistar mulheres, não está mais envolvido em comportamentos inadequados.

Os super-heróis costumam refletir as inquietações da sociedade e, assim, se adaptam ao longo das décadas. A polarização política e o extremismo atuais representam um desafio para os estúdios de Hollywood, que precisam agradar ao maior número possível de espectadores e evitar desgostos. É vital que eles não enfrentem críticas de figuras políticas, como Donald Trump, e de seus apoiadores, que se opõem a temas de diversidade e direitos das minorias.

Antes mesmo de sua estreia, "Quarteto Fantástico" já era alvo de críticas nas redes sociais por parte de grupos de direita, que o tacharam de "woke", um termo associado a ideias progressistas. Além das mudanças nos personagens, chamou atenção a escolha de Pedro Pascal, um defensor dos direitos dos transgêneros, para o papel de Senhor Fantástico. As críticas também se intensificaram com o novo filme do Superman, que foi rotulado como "Superwoke" por um canal conservador devido ao seu retrato do herói como um imigrante bondoso. O diretor James Gunn destacou essa narrativa como uma crítica à política anti-imigração. Nos quadrinhos e filmes, o personagem já desafiou o presidente americano em várias oportunidades, destacando temas de aceitação e resistência contra a intolerância.

O filme atual do Superman não só defende todos, independentemente de sua origem, mas também aborda questões de conflito internacional, fazendo alusão à situação entre Israel e Gaza. O filme teve um sucesso comercial, arrecadando mais de 400 milhões de dólares em apenas duas semanas.

A Marvel, por sua vez, tenta se afastar da imagem de neutralidade. Lançado em fevereiro, "Capitão América: Admirável Mundo Novo" teve baixo desempenho, pois evitou discutir assuntos importantes como racismo. A versão atual do Capitão América, interpretada por Anthony Mackie, não conseguiu réplica do sucesso de sua primeira edição, quando, em 1941, o personagem já lutava contra os nazistas. Naquela época, a Marvel vendeu milhões de cópias, provando que heróis com causas relevantes ressoam com o público e, consequentemente, geram lucro.

Momentos de Engajamento Político dos Super-Heróis

  1. Antinazismo: O Capitão América surgiu em 1941 como um símbolo patriótico, esmurra Hitler na capa da sua primeira HQ.

  2. Direitos Civis: Em 1963, os X-Men abordaram a luta pela igualdade racial, refletindo as tensões sociais da época, com personagens inspirados em líderes de direitos civis.

  3. Guerra Fria: A Viúva Negra, interpretada por Scarlett Johansson, foi inicialmente uma vilã, mas se tornou uma heroína ao abandonar seu passado ligado à espionagem russa.

Os super-heróis continuam a evoluir e a se adaptar ao contexto social e político, mostrando que, mais do que entretenimento, eles têm um papel significativo nas conversas sobre as realidades do mundo.