Estudantes se mobilizam contra modelo cívico-militar em Minas Gerais

Estudantes da Escola Estadual Presidente Dutra, localizada no bairro Horto Florestal em Belo Horizonte, estão se organizando contra a adoção do sistema cívico-militar na educação. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, um grupo de alunos, com idades variadas, critica a formação proposta por esse modelo. Eles ressaltam como a figura de autoridade pode ultrapassar limites e impor sua vontade.

Os jovens se reuniram em uma quadra poliesportiva e começaram a cantar a famosa música “Marcha soldado, cabeça de papel”. Com cartazes, eles questionam: “Para o governo, somos estudantes ou criminosos?” Essa provocação reflete a tensão em torno da implementação do sistema e suas implicações na vida escolar.

Um dos cartazes trazia a pergunta: “Quem educa: professores ou generais?” Outros reforçavam a ideia de que “Não se faz pedagogia com medo” e pediam por uma “educação libertadora” e por “autonomia de ensino”. Essas manifestações mostram o desejo dos alunos por um ambiente educacional onde o medo não faça parte do dia a dia.

A Escola Presidente Dutra também se preocupa com temas relevantes para o convívio social, promovendo encontros sobre letramento racial, respeito à comunidade LGBTQIA+, saúde mental e artes. Essa diversidade é um dos pilares para formar uma comunidade escolar mais unida e consciente.

Por outro lado, o governo de Minas Gerais decidiu realizar assembleias em 728 escolas para ouvir a comunidade escolar sobre a adoção do novo modelo. No entanto, na segunda-feira (14), o governador Romeu Zema suspendeu esse processo, alegando que a participação dos pais estava baixa devido às férias, o que gerou insatisfação entre algumas comunidades.

O plano do governo envolve a inserção do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar nas escolas, apresentando isso como uma “proposta inovadora” para fortalecer a educação pública. O governo acredita que essa mudança poderia promover um ambiente mais seguro e organizado, enquanto a Secretaria de Educação promete melhorias na formação estudantil, incluindo aspectos comportamentais e democráticos.

Contudo, especialistas da educação se opõem a essa abordagem. O Fórum Estadual Permanente de Educação de Minas Gerais (FEPEMG) lançou um relatório no ano passado, evidenciando que a militarização não resolve os reais problemas enfrentados pelas escolas, como a falta de políticas sociais e apoio familiar. O documento também aponta a falta de formação pedagógica para os militares que atuam nas escolas e questiona a eficácia desse modelo na redução da violência e na aprendizagem.

Além disso, foram registrados casos de agressões de militares contra estudantes com transtornos mentais. Esses relatos levantam preocupações sobre como o modelo pode impactar negativamente a saúde mental e o bem-estar dos alunos, especialmente em estados como São Paulo, onde o processo foi adiado para 2026.

Implementação

A implementação do sistema cívico-militar em Minas Gerais começou em 2020, com nove escolas operando sob suas diretrizes. Entre elas estão a E.E. Assis Chateaubriand e a E.E. Princesa Isabel em Belo Horizonte, além de outras em cidades como Contagem, Ibirité e Três Corações.

A Secretaria de Educação de Minas Gerais informa que a consulta pública feita nas escolas será registrada e que a adesão ao modelo dependerá de uma análise técnica, não ocorrendo de maneira automática. O número de instituições que adotará o novo modelo e os recursos destinados à sua implementação serão determinados após essa fase de consulta.

A Secretaria também foi contactada para esclarecer como atribui melhorias no ensino à mudança no sistema, sem considerar outros possíveis fatores que poderiam ter influenciado esses resultados.