IPCA e IPC: o que são, para que servem e como esses índices são calculados

No universo da economia brasileira, duas siglas aparecem com frequência nos noticiários e influenciam diretamente o bolso da população: IPCA e IPC. Ambos são índices de preços utilizados para medir a inflação, mas, apesar da semelhança na finalidade, possuem metodologias e abrangências distintas que geram consequências diferentes.

O acompanhamento desses indicadores é fundamental para a formulação de políticas econômicas, para as decisões de investimento e para a percepção do custo de vida. O aumento ou a queda desses índices reflete diretamente no poder de compra dos salários e na rentabilidade das aplicações financeiras, afetando a todos.

Enquanto um serve como a bússola oficial para as decisões do Banco Central (bcb.gov.br), o outro oferece um retrato mais específico do comportamento dos preços para determinados grupos de consumidores ou regiões. A confusão entre eles é comum, mas entender suas particularidades é essencial para uma análise mais precisa do cenário econômico.

A análise detalhada de como cada um desses índices é calculado, quem são os responsáveis por sua apuração e como eles impactam o dia a dia permite uma compreensão mais aprofundada sobre a dinâmica da inflação no país. Esse conhecimento é uma ferramenta valiosa para o planejamento financeiro pessoal e empresarial.

O que é o IPCA e qual seu objetivo na economia

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o indicador oficial da inflação no Brasil. Calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (ibge.gov.br), seu principal objetivo é medir a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumida por uma vasta parcela da população brasileira.

A abrangência do IPCA, como o próprio nome indica, é ampla. Ele considera os hábitos de consumo de famílias com renda mensal que varia de 1 a 40 salários mínimos, residentes nas principais regiões metropolitanas do país. Essa amplitude faz com que ele seja considerado o termômetro mais representativo da inflação para a sociedade como um todo.

Devido à sua relevância e abrangência, o IPCA é utilizado pelo Banco Central do Brasil como o principal balizador para a definição da política monetária. É com base na meta de inflação, medida pelo IPCA, que o Comitê de Política Monetária – Copom (bcb.gov.br/controleinflacao/copom) decide sobre os rumos da taxa básica de juros, a Selic, buscando manter a estabilidade dos preços.

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O que significa IPC e como ele é utilizado

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) é outro importante medidor da inflação, mas, diferentemente do IPCA, ele não é um índice único e oficial. Existem diversos IPCs calculados por diferentes instituições de pesquisa, como a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE (fipe.org.br) e a Fundação Getulio Vargas – FGV (portal.fgv.br), cada um com sua própria metodologia.

A principal característica do IPC é seu foco em um público ou em uma região específica. O IPC-FIPE, por exemplo, mede a variação do custo de vida exclusivamente no município de São Paulo para famílias com renda de 1 a 10 salários mínimos. Já a FGV calcula o IPC-Brasil, que também possui uma abrangência nacional, mas com uma cesta e ponderações diferentes das do IPCA.

Devido a essa especificidade, o IPC é amplamente utilizado como indexador em contratos privados. É comum que contratos de aluguel, planos de saúde e acordos salariais utilizem a variação de um IPC específico como base para o reajuste anual de seus valores, refletindo a inflação percebida por um determinado segmento da população.

Diferença entre IPCA e IPC: entenda os critérios de cada índice

A principal diferença entre o IPCA e os diversos IPCs reside na abrangência e na metodologia de cada um. O IPCA é um índice nacional, calculado pelo IBGE, e serve como a referência oficial para a política de metas de inflação do governo. Sua cesta de produtos e sua faixa de renda (1 a 40 salários) são as mais amplas.

Os IPCs, por sua vez, são mais segmentados. O IPC-FIPE, por exemplo, é um índice regional, focado na cidade de São Paulo, e considera uma faixa de renda mais restrita (1 a 10 salários). O IPC da FGV, embora nacional, também possui uma metodologia própria, com uma cesta de consumo e pesos distintos, o que pode levar a resultados diferentes dos do IPCA.

Essa diferença metodológica faz com que cada índice capture a inflação de uma maneira particular. Enquanto o IPCA oferece um panorama geral da economia brasileira, os IPCs podem fornecer uma visão mais precisa do aumento do custo de vida para um grupo específico de consumidores ou para uma determinada localidade, sendo mais úteis para análises setoriais.

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Como é feito o cálculo do IPCA pelo IBGE

O cálculo do IPCA é um processo metodológico rigoroso conduzido pelo IBGE. Mensalmente, pesquisadores coletam cerca de 430 mil preços em aproximadamente 30 mil locais, que incluem estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e concessionárias de serviços públicos, em diversas regiões metropolitanas do país.

Os preços coletados são comparados com os do mês anterior para se obter a variação de cada item. A cesta de produtos e serviços analisada é extensa e dividida em nove grandes grupos: Alimentação e Bebidas, Habitação, Artigos de Residência, Vestuário, Transportes, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas Pessoais, Educação e Comunicação.

A composição dessa cesta e o peso de cada item no cálculo final são definidos pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), também realizada pelo IBGE. Itens que têm um peso maior no orçamento das famílias, como aluguel e alimentação, têm uma influência maior no resultado do IPCA, garantindo que o índice reflita o custo de vida real.

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A variação nos preços dos combustíveis tem um peso significativo no cálculo dos índices de inflação, afetando diretamente o custo de vida – Crédito: Jeane de Oliveira / pronatec.pro.br

Quem calcula o IPC e quais os parâmetros considerados

Diferentes instituições calculam o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), e cada uma utiliza seus próprios parâmetros. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) é uma das mais conhecidas, sendo responsável pelo cálculo do IPC-FIPE, que se tornou uma referência para o mercado, especialmente em São Paulo.

A metodologia da FIPE envolve a coleta de preços de uma cesta de produtos e serviços específica para famílias paulistanas com renda entre 1 e 10 salários mínimos. A pesquisa de preços é realizada de forma contínua, e o índice é divulgado semanalmente (IPC-S) e mensalmente, refletindo as particularidades do consumo na maior metrópole do país.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) é outra instituição de renome que calcula diversos índices de preços, incluindo o IPC-Brasil e o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), que também contém um componente de preços ao consumidor. Cada um desses índices possui uma cesta, uma ponderação e uma abrangência geográfica próprias, servindo a diferentes propósitos de análise econômica.

Como o IPCA e o IPC afetam os preços e o poder de compra

Tanto o IPCA quanto o IPC são termômetros que medem a febre da economia, ou seja, a inflação. Quando esses índices sobem, significa que, na média, os preços dos produtos e serviços estão mais altos. Essa alta corrói o poder de compra da população, pois o mesmo salário passa a comprar menos coisas do que antes.

A inflação afeta o dia a dia de forma direta. O aumento no preço dos alimentos, do aluguel, da gasolina e da energia elétrica, que são itens com grande peso nos índices, é sentido imediatamente no orçamento familiar. As famílias de menor renda são as mais prejudicadas, pois gastam uma proporção maior de seus rendimentos com itens básicos.

O acompanhamento desses índices, portanto, permite que o consumidor entenda por que seu dinheiro está “valendo menos”. Ele também serve de base para que as pessoas possam negociar reajustes salariais e para que o governo e as empresas possam tomar decisões que busquem preservar o poder de compra da moeda.

Relação entre os índices e a política de juros do Banco Central

A relação entre o IPCA e a política de juros do Banco Central é intrínseca. O IPCA é o índice que guia o sistema de metas de inflação do Brasil. O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece uma meta anual para o IPCA, e a principal missão do Banco Central é utilizar seus instrumentos para manter a inflação dentro dessa meta.

O principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação é a taxa básica de juros, a Selic. Quando o IPCA está subindo e ameaça ultrapassar o teto da meta, o Banco Central tende a aumentar a taxa Selic. Juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo e, com o tempo, ajudam a frear a alta dos preços.

Em contrapartida, quando o IPCA está baixo e controlado, o Banco Central tem espaço para reduzir a taxa Selic. Juros mais baixos barateiam o crédito, incentivando o consumo e os investimentos, o que ajuda a aquecer a atividade econômica. Portanto, as decisões sobre a Selic são uma resposta direta ao comportamento do IPCA.

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IPCA e IPC influenciam o reajuste de salários e benefícios?

Sim, tanto o IPCA quanto os IPCs exercem influência sobre o reajuste de salários e benefícios, embora de maneiras diferentes. O IPCA, por ser o índice oficial de inflação, serve como uma referência importante nas negociações salariais entre sindicatos de trabalhadores e empresas, especialmente nas discussões sobre a reposição das perdas inflacionárias.

No entanto, para o reajuste do salário mínimo e de benefícios previdenciários, como aposentadorias e pensões, o índice mais utilizado pelo governo é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também calculado pelo IBGE. O INPC é semelhante ao IPCA, mas foca em uma faixa de renda menor (1 a 5 salários mínimos), refletindo melhor a inflação para a população de menor renda.

Já os IPCs, como o IPC-FIPE, são frequentemente utilizados como indexadores em acordos e convenções coletivas de trabalho de categorias específicas ou em contratos individuais. A escolha do índice a ser utilizado em um reajuste depende do que foi acordado entre as partes, mas todos eles servem como um balizador para a manutenção do poder de compra.