Neil Gaiman enfrenta dilemas éticos em The Sandman da Netflix

Problemas durante a produção da segunda temporada de The Sandman

A produção da segunda temporada da série The Sandman, da Netflix, enfrentou grandes problemas depois que o autor Neil Gaiman foi acusado de assédio sexual e abuso por cinco mulheres. As alegações foram divulgadas durante o podcast Master, da Tortoise Media, e se referem a comportamentos que Gaiman, famoso por sua obra baseada em quadrinhos, alega que ocorreram em relacionamentos consensuais de BDSM.

Essas acusações também foram corroboradas por um artigo da revista New York, onde mais quatro mulheres se pronunciaram contra Gaiman. Elas relataram um padrão de assédio, coação e atividades de BDSM não consensuais, além de mencionar que acordos de confidencialidade foram usados para silenciá-las. Gaiman nega todas as acusações.

Esse episódio trouxe à tona uma discussão antiga: é possível separar a arte do artista? Apesar de as ações de criadores influentes impactarem suas imagens, raramente isso resulta em consequências legais ou financeiras duradouras. Por exemplo, muitos artistas continuam a ter sucesso mesmo após acusações graves, como é o caso de Woody Allen e Donald Trump.

David S. Goyer, um dos criadores de The Sandman, comentou sobre a situação, ressaltando que a Netflix se preocupou em proteger os atores e a equipe envolvidos na série. Se a produção tivesse sido interrompida imediatamente após as alegações, muitos profissionais poderiam ter ficado sem trabalho e sem remuneração.

Para as vítimas, ver Gaiman ter seu trabalho exaltado mesmo após as declarações de assédio é um processo doloroso. Muitas pessoas reavaliam sua relação com artistas envolvidos em polêmicas e, em algumas situações, isso gera um conflito interno. Um exemplo disso é o tratamento da música de Michael Jackson e das obras de Kanye West, cujas legados foram marcados por controvérsias.

O cenário também é complexo quando consideramos artistas falecidos. Algumas pessoas acreditam que o interesse por suas obras é moralmente justificado, já que eles não lucram mais com isso. Contudo, há debates sobre se suas famílias e heranças ainda se beneficiam de suas criações.

Recentemente, a nova série de TV de Harry Potter também gerou controvérsia, especialmente em função das declarações de J.K. Rowling, autora dos livros. O envolvimento de novos atores no projeto foi criticado por grupos da comunidade LGBTQIA+, que veem a franquia como associada a pontos de vista transfóbicos.

Rowling, que tem uma influência significativa no projeto, ganhou milhões com os direitos autorais de Harry Potter, mesmo após suas declarações controversas sobre direitos trans. Assim, o ato de consumir produtos relacionados à franquia, como ingressos para parques temáticos ou a nova série, é visto como um apoio direto às suas posições.

Além disso, muitas produções estão cada vez mais dependentes de reboots e adaptações de obras antigas, que frequentemente carregam controvérsias. O reboot de Buffy, A Caça-Vampiros, que será feito sem a participação de Joss Whedon, que enfrenta acusações de má conduta, ainda contará com personagens que ele criou.

A situação de Gaiman e as reações do público fazem parte de um debate amplo sobre a responsabilidade do público em relação ao consumo de cultura. Cada escolha, como assistir a uma série ou ir ao cinema, é vista como uma forma de expressar apoio ou desaprovação.

Assim, enquanto The Sandman continua sua produção, os desafios éticos ao redor das obras de artistas controversos persistem, colocando o público em uma posição de reflexão sobre suas escolhas.