Em 1754, a cidade de Jundiaí foi palco de um caso curioso e tenso que envolveu a acusação de bruxaria contra duas mulheres: Thereza Leyte e sua filha, Escholástica Pinta da Silva. Ambas foram denunciadas à Justiça Eclesiástica, supostamente por usarem feitiços para causar a morte de Manoel Garcia, o marido de Escholástica, que já estava morto há oito anos.
Essa história não começou entre os moradores da cidade, mas sim entre os familiares de Manoel, que estavam mais interessados nos bens deixados por ele, incluindo indígenas escravizados. A denúncia e a acusação de bruxaria tinham, na verdade, o objetivo de garantir a posse desses recursos valiosos.
Uma figura interessante neste enredo foi Francisco, um homem negro escravizado. Ele veio a ser uma testemunha-chave nesse caso, trazendo à tona boatos de que Escholástica tinha o poder de ferir o marido apenas ao tocá-lo, e até de deixá-lo cego. Essas alegações estavam embasadas nas superstições da época, quando a Inquisição Portuguesa ainda exercia sua influência sobre a sociedade. Não é surpresa que, na colonização, acusações de feitiçaria se espalhassem com facilidade, principalmente em comunidades de pessoas que lutavam por poder e bens.
Apesar da seriedade da acusação, o processo não foi enviado para Lisboa, algo que poderia resultar em um julgamento formal. Em vez disso, as autoridades locais avaliaram o caso e chegaram à conclusão de que não havia provas suficientes para condenar Thereza e Escholástica. Assim, as duas mulheres evitaram punições severas.
Contudo, Francisco não teve a mesma sorte. Como o denunciador do caso, ele foi publicamente açoitado pelo pai de Escholástica, que era uma figura de autoridade local. A justificativa para a punição passou por uma acusação de calúnia, evidenciando como os laços familiares e o poder local estavam entrelaçados e influenciavam as decisões da justiça.
Esse episódio revela como, em tempos de disputa por bens e posições, a Justiça e a religião eram muitas vezes ferramentas utilizadas para controlar aqueles que tinham menos poder. O foco maior do ocorrido recaiu sobre quem estava em uma posição vulnerável, mostrando as dinâmicas sociais da época.