O maior parque do Brasil: o que aconteceu após a construção?
O Terra Encantada foi inaugurado em janeiro de 1998 como o maior parque de diversões do Brasil. Com um investimento pesado de US$ 235 milhões, o projeto recebeu apoio de grandes empresas como a Coca-Cola, Petrobras e o BNDES. A ideia era grandiosa: atrair 3,5 milhões de visitantes por ano e gerar uma bilheteria de US$ 70 milhões. Localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o parque oferecia mais de 85 atrações distribuídas por 300 mil m², trazendo um misto de diversão e cultura brasileira. Chamava a atenção o apelido de “Disney brasileira” que o parque ganhou.
Infelizmente, as coisas não começaram bem. A inauguração teve muitos atrasos e, em vez de 1997, aconteceu só em janeiro de 1998. Isso veio com várias atrações ainda inacabadas, sinalizações ineficientes e filas desorganizadas. A pressa para aproveitar a alta procura do verão prejudicou a experiência inicial e impactou diretamente o número de visitantes nos primeiros meses.
Nos primeiros dias, a insegurança também começou a ser um problema. Um dos incidentes mais tristes ocorreu logo em seguida à abertura, quando a atriz Isis de Oliveira sofreu uma queda grave na torre de queda livre “Kabum”, lesionando a coluna. O acidente gerou alarde e a preocupação com a segurança passou a ser uma constante. Nos anos seguintes, outros episódios negativos, como tumultos e até incêndios, continuaram a minar a confiança do público no parque.
A situação culminou em um trágico acidente em junho de 2010, quando Heydiara Lemos Ribeiro, de 61 anos, faleceu após ser projetada para fora da atração “Monte Aurora”. A perícia indicou que ela não estava devidamente presa. Isso levou o Ministério Público a fechar o parque de forma definitiva. Com a confiança do público abalada, o Terra Encantada não teve como voltar a funcionar e encerrou suas atividades no mesmo ano.
Após o fechamento, o que deveria ser um espaço de diversão virou um local de abandono. A vegetação tomou conta e o vandalismo escalou, deteriorando rapidamente as instalações. Em 2013, o terreno foi vendido por cerca de R$ 1,5 bilhão para construtoras e no lugar do parque surgiram condomínios de luxo. Nenhuma ação para preservar sua memória ou fazer um espaço cultural foi realizada.
O grande investimento de US$ 235 milhões que prometia um retorno financeiro positivo virou desilusão. O público nunca chegou ao número esperado e os altos custos operacionais tornaram a operação inviável. Cerca de 1.500 funcionários foram demitidos com o fechamento, afetando não só os ex-colaboradores, mas também os comerciantes locais que viviam do fluxo de visitantes.
Apesar de todos os problemas e da história trágica, o Terra Encantada deixou uma memória afetiva poderosa para muitas pessoas. Nas redes sociais, muitos compartilham lembranças de shows e atrações que marcaram a infância. Essa nostalgia mostra a falta de opções de lazer de qualidade no Brasil. O fracasso do parque levanta questões sobre como criar um espaço de diversão que realmente funcione e atenda às expectativas do público.
Os parques internacionais, como os da Disney, têm um modelo bem estruturado, com protocolos de segurança e constante investimento. A chamada “Disney brasileira” falhou principalmente na falta de padronização e manutenção. Não houve um planejamento de longo prazo e, quando as coisas começaram a dar errado, a gestão não soube se adaptar.
Outro erro foi tentar copiar modelos estrangeiros sem considerar a realidade do Brasil. O preço alto dos ingressos e a difícil acessibilidade em transporte público acabaram afastando muitos brasileiros.
O fracasso do maior parque de diversão do país traz lições valiosas. Criar uma megaestrutura não é o suficiente; é preciso priorizar segurança e ter um bom planejamento. A experiência do visitante deve ser o foco principal. Para que novos empreendimentos tenham sucesso, é fundamental evoluir com o tempo, escutando o público e mantendo padrões de qualidade.
A trajetória do Terra Encantada, que começou com grande promessa, acabou se transformando em um símbolo de desperdício. O que era para ser um espaço vibrante de lazer agora dá lugar a prédios de luxo. Contudo, a lembrança do parque permanece viva na memória de muitas pessoas, servindo de alerta sobre a necessidade de experiências culturais e de lazer que sejam realmente seguras e acessíveis no Brasil.