Urna eletrônica brasileira apura votos de 155 milhões em horas

A urna eletrônica brasileira é uma verdadeira revolução na forma como fazemos eleições. Com capacidade para apurar votos de mais de 155 milhões de eleitores em poucas horas, ela se destaca internacionalmente por sua eficiência. Em muitos países desenvolvidos, o processo de contagem pode levar dias ou até semanas. Aqui, a velocidade é um forte aliado da nossa democracia.

Porém, mais do que rapidez, a história da urna é marcada pelo desejo de acabar com a corrupção que destruía a confiança nas eleições. Desde os anos 90, ela se firmou como um símbolo de transparência, embora ainda gere debates sobre sua segurança e funcionamento.

O fim da era das fraudes: por que o Brasil precisou da urna eletrônica?

A trajetória das eleições no Brasil não foi fácil. Durante muito tempo, práticas desonestas eram comuns, como o famoso “voto carneirinho”, onde o eleitor levava uma cédula já preenchida, ou a “urna grávida”, que permitia a inclusão de votos falsos antes da votação.

Um marco na história eleitoral brasileira ocorreu nas eleições de 1994 no Rio de Janeiro. As manipulações foram tão evidentes que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) precisou anular a votação para deputados. Esse evento matou qualquer esperança no sistema de apuração manual, criando a urgência por uma solução moderna e confiável.

A criação da urna nos anos 90

O projeto da urna eletrônica foi um esforço conjunto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob a liderança do ministro Carlos Velloso, e várias instituições respeitáveis, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Essa colaboração fez com que o Brasil desenvolvesse sua própria tecnologia, sem depender de soluções estrangeiras.

O resultado foi um controle total sobre o sistema desde o começo, garantindo que atendesse às nossas necessidades e desafios.

A implementação em etapas: de 1996 à universalização em 2000

A primeira aparição da urna eletrônica foi nas eleições municipais de 1996. Naquela época, 57 cidades, incluindo todas as capitais, utilizaram a nova tecnologia, abrangendo cerca de 32% do eleitorado. O sucesso foi tanto que, nas eleições gerais de 1998, o sistema foi ampliado para 537 municípios.

O grande momento de consagração veio em 2000, quando 100% dos municípios usaram o voto eletrônico, marcando a maior eleição informatizada do mundo até então.

Como funciona a segurança da urna eletrônica brasileira?

Um dos segredos da segurança da urna eletrônica é o isolamento físico. Essas máquinas são computadores de propósito único, sem conexão com a internet, Wi-Fi ou Bluetooth, o que as protege de ataques virtuais.

Além disso, mais de 30 camadas de segurança foram implementadas, como:

  • Software próprio: O sistema é desenvolvido integralmente pelo TSE, garantindo que não haja modificações não autorizadas.

  • Assinatura digital: Todos os arquivos possuem uma assinatura digital, que assegura sua integridade.

  • Criptografia: Os votos são embaralhados e criptografados, garantindo o sigilo e a integridade.

As múltiplas formas de auditoria do sistema

A confiança no sistema é reforçada por uma série de auditorias públicas. Antes das eleições, o código-fonte da urna é aberto para inspeção por várias entidades, incluindo partidos e universidades. O Teste Público de Segurança (TPS) é outra etapa, onde hackers éticos tentam invadir o sistema, o que ajuda a identificar e corrigir possíveis falhas.

No dia da eleição, um Teste de Integridade garante que urnas sorteadas sejam utilizadas em uma votação simulada, comparando os resultados eletrônicos com a contagem manual de votos em papel. Essa etapa sempre apresenta 100% de coincidência, o que é um ponto crucial para a confiança no sistema.

O debate do voto impresso e o reconhecimento internacional

Apesar das robustas medidas de segurança, a urna eletrônica frequentemente enfrenta discussões sobre a possibilidade de implementar o voto impresso. Em 2021, essa ideia foi rejeitada pelo Congresso, mas voltou à tona em 2024.

Os apoiadores da proposta acreditam que ter um comprovante em papel aumentaria a segurança e a transparência. Por outro lado, críticos, incluindo o TSE, alertam que isso poderia reabrir espaço para fraudes na contagem manual.

Mesmo com os debates internos, o sistema brasileiro é elogiado mundialmente. Missões de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) frequentemente destacam a eficiência, segurança e transparência do processo eleitoral no Brasil, colocando-o como modelo a ser seguido.