Rio Jaguaribe, o mais longo do Ceará, enfrenta grave subdesenvolvimento
O Rio Jaguaribe, o maior do Ceará, é um símbolo de transformação para o semiárido nordestino. Ele atravessa regiões que sofreram com a seca por anos, mas, com investimentos em infraestrutura hídrica, essas áreas se tornaram verdadeiros celeiros. O rio abastece cidades como Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Quixeré e Russas, além de Fortaleza, que depende do açude Castanhão para fornecer água a milhões de pessoas.
Em 2024, o Brasil bateu o recorde de exportação de carne de frango, atingindo mais de 5 milhões de toneladas. Mas no Ceará, outra estrela está brilhando no cenário internacional: as frutas tropicais irrigadas com a água do Jaguaribe. Essas frutas são cultivadas utilizando tecnologia avançada, mesmo em meio ao clima seco.
Castanhão: controle hídrico e produção agrícola intensiva
Inaugurado em 2003, o açude Castanhão, em Alto Santo, se tornou o maior reservatório do Brasil, com capacidade para 6,7 bilhões de metros cúbicos. Ele regula o fluxo do Jaguaribe e abastece cerca de 3 milhões de pessoas, garantindo a produção agrícola mesmo durante longas secas. O sistema adutor Eixão das Águas é parte fundamental dessa estrutura, permitindo que a Região Metropolitana de Fortaleza tenha água garantida.
No Vale do Jaguaribe, a fruticultura irrigada brilha com a produção de melão, banana, manga, mamão e uva. Apenas em 2023, o Ceará exportou mais de 200 mil toneladas dessas frutas, principalmente dessa região. As técnicas de irrigação por gotejamento, fertirrigação e monitoramento digital fazem a diferença, otimizando o uso da água e tornando o cultivo mais competitivo.
A face que não aparece: poluição e degradação crescente
Apesar dos avanços, o Rio Jaguaribe enfrenta sérios problemas ambientais. A ocupação desordenada de suas margens, o descarte de esgoto clandestino e a falta de fiscalização afetam diretamente a qualidade da água e o ecossistema do rio. Comunidades ribeirinhas, plantações e animais nas áreas urbanas e periurbanas já sofrem com a poluição.
Dados de órgãos ambientais mostram que vários afluentes do Jaguaribe têm níveis alarmantes de coliformes fecais e carga orgânica. Isso é resultado da ausência de saneamento básico e da falta de projetos para preservar nascentes. Essa degradação não só prejudica a fruticultura irrigada, mas coloca em risco a segurança hídrica das populações locais.
Desenvolvimento, empregos e fixação no campo
A fruticultura irrigada no Vale do Jaguaribe é também um motor de mudança social. Ela cria milhares de empregos diretos e indiretos, fortalece cooperativas, movimenta agroindústrias e ajuda a fixar famílias no campo. Municípios como Quixeré, Morada Nova e Icapuí estão vivenciando um novo ciclo de oportunidades econômicas, graças à combinação de água, tecnologia e planejamento.
Para garantir a sustentabilidade do Jaguaribe, são necessárias ações imediatas e integradas. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) sugere medidas como o controle de outorgas, o monitoramento por sensores remotos e o incentivo ao reuso de água. Iniciativas como o Cinturão das Águas do Ceará buscam aliviar a pressão sobre o rio, conectando bacias e distribuindo melhor os recursos hídricos.
Esses projetos de educação ambiental e assistência técnica para as comunidades são essenciais para manter o equilíbrio entre produção e conservação. A manutenção da produtividade no semiárido passa por um compromisso coletivo com o uso racional da água, preservação das nascentes e recuperação de áreas vulneráveis.
Jaguaribe: entre a abundância e o risco
O Rio Jaguaribe representa a dualidade do semiárido brasileiro. De um lado, sua capacidade de gerar riqueza e alimentar o mundo, mesmo sob um sol escaldante e chuvas escassas. Do outro, o crescente risco de um colapso ambiental, caso ações efetivas não sejam implementadas.
Proteger o Jaguaribe é assegurar que o sertão continue produtivo, exportador e socialmente equilibrado. A mesma água que hoje transforma vidas pode, se não cuidarmos, deixar um legado de escassez e degradação no futuro. É vital enxergar o rio não apenas como um recurso, mas como um elo essencial entre natureza, economia e o futuro do Nordeste brasileiro.