Corpos congelados no Everest: o código que obriga alpinistas a deixar colegas
Subir o monte Everest, que tem impressionantes 8.849 metros, é um desafio extremo que vai além do físico. Todos os anos, pessoas de diversos lugares tentam chegar ao topo dessa gigante montanha, mas nem todos conseguem retornar. É triste, mas mais de 330 alpinistas perderam a vida nessa jornada, e cerca de 200 corpos continuam expostos ao frio, congelados, por conta da dificuldade de resgate. Isso é algo que muitos já ouviram falar, mas nem sempre se dá a devida importância. Para os montanhistas, existe um código não escrito: os mortos ficam para trás. Essa escolha, por mais chocante que possa parecer, é marcada por respeito, sobrevivência e uma pitada de pragmatismo.
Por que os corpos ficam para trás?
A dificuldade de resgatar os corpos no Everest é assustadora. Acima de 7 mil metros, na famosa “zona da morte”, o ar é rarefeito e qualquer operação de resgate se torna extremamente arriscada. O oxigênio disponível se reduz a apenas um quarto do que o corpo precisa para funcionar. Essa combinação de frio intenso e terreno traiçoeiro transforma até mesmo esforços simples em tarefas quase impossíveis. Cargar um corpo, mesmo que por poucos metros, pode custar a vida de quem tenta ajudar.
Um dos corpos mais conhecidos é o de Tsewang Paljor, que ficou famoso como "Botas Verdes". Encontrado no caminho para o cume, ele se tornou um triste ponto de referência, lembrando os perigos envolvidos na escalada.
Um testemunho que traz a realidade do Everest
Bonita Norris, uma alpinista britânica, alcançou o topo do Everest aos 20 anos, em 2010. Em uma entrevista, ela compartilhou suas experiências e as lições que aprendeu ao enfrentar essa dura realidade. Para Bonita, a “regra oculta” de deixar corpos para trás é uma questão de vida ou morte. “Quando você está na zona da morte, resgatar alguém pode colocar mais pessoas em risco”, diz ela, lembrando de como foi resgatada em estado crítico. Para ela, o objetivo principal não é alcançar o topo, mas sim voltar para casa em segurança.
A zona da morte: um desafio para corpo e mente
Na altitude extrema, o corpo passa por uma intensa falta de oxigênio, o que pode resultar em problemas sérios, como ataques cardíacos e derrames. O médico Jeremy Windsor, que já escalou o Everest, explica que a pressão atmosférica nessa região é tão baixa que o oxigênio disponível é apenas um quarto do que temos ao nível do mar. Isso se transforma em um verdadeiro teste para a resistência humana.
A situação gera um dilema cruel: ajudar alguém em perigo pode apenas aumentar o risco de sua própria sobrevivência. Por isso, a decisão de deixar corpos para trás, mesmo que difícil, é um aspecto da escalada que visa proteger os vivos.
O que essa “regra” revela sobre a escalada
Essa prática, embora dolorosa, é um reflexo da experiência de encarar o Everest. Cada dia na montanha é uma luta pela sobrevivência, e permitir que alguns corpos fiquem ali se torna uma decisão que busca preservar vidas. Bonita enfatiza essa perspectiva, dizendo que a montanha ensina muito sobre prioridades e a realidade da situação: “O importante não é o topo, é voltar para casa.”
Contexto e atualizações sobre a segurança na escalada
Nos últimos anos, o número crescente de alpinistas escalando o Everest levantou preocupações sobre segurança. O fluxo intenso de pessoas nas trilhas dificultou resgates e gerou uma série de situações complicadas. Recentemente, iniciativas têm se concentrado em melhorar os equipamentos de oxigênio e comunicação, o que pode aumentar as chances de resgates mais rápidos. Entretanto, a difícil escolha entre ajudar ou priorizar a própria sobrevivência ainda permanece.
O preço da aventura no teto do mundo
Para muitos, escalar o monte Everest é o auge de uma conquista pessoal, uma verdadeira luta contra seus limites e contra a natureza. Mas esse desejo pode custar muito caro. O código que leva os alpinistas a deixar corpos para trás é tanto uma questão prática quanto uma dolorosa lição sobre o valor da vida em um ambiente tão extremo.