Eletrobras: a privatização da maior energia da América Latina

Em junho de 2022, um grande passo foi dado no setor energético brasileiro: a Eletrobras, a maior empresa de energia da América Latina, deixou de ser estatal. Essa mudança, impulsionada por uma privatização que movimentou R$ 33,7 bilhões, não foi simples. Na verdade, tratou-se de um elaborado processo de capitalização que diluiu o controle do governo, passando a transformar a empresa em uma corporação com ações mais distribuídas entre investidores.

A privatização foi defendida pelo governo como uma “faxina” necessária para reverter a crise que a companhia enfrentava. E, de fato, isso gerou lucros impressionantes. No entanto, não faltaram polêmicas, culminando em uma batalha judicial que se estendeu até 2025, definindo o futuro de uma das empresas mais estratégicas do Brasil.

O início da virada: a crise e a lei que permitiu a venda

A história da privatização da Eletrobras não começa de maneira fácil. Nos anos de 2014 e 2015, a empresa passou por um momento crítico, afetada pela Operação Lava Jato e enfrentando uma política de preços ruins, resultando em prejuízos astronômicos. Em 2015, foram registrados cerca de R$ 34,8 bilhões em perdas.

Com a capacidade de investimento estagnada, o governo acreditava que a única saída seria “desamarrar” a estatal. Assim, surgiu a Lei nº 14.182/2021, que autorizou um aumento de capital sem a participação da União, resultando na perda do controle acionário do governo sobre a empresa.

A megaoperação de R$ 33,7 bilhões: como a privatização da Eletrobras aconteceu em junho de 2022

A privatização da Eletrobras se destacou como uma das maiores operações da história do mercado brasileiro. No dia 9 de junho de 2022, a empresa fez uma oferta global de ações, com cada ação avaliada em R$ 42,00. O total movimentado alcançou aproximadamente R$ 33,7 bilhões. Um detalhe interessante foi a participação intensa de pequenos investidores e trabalhadores, que aplicaram R$ 6 bilhões do FGTS na compra das ações.

As polêmicas da privatização: o “preço de banana” e os “jabutis” no Congresso

A privatização, apesar de aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) com um placar de 7 a 1, não foi isenta de controvérsias. O único voto contrário, do ministro Vital do Rêgo, argumentou que a empresa foi vendida por um valor muito abaixo do esperado, comparando o preço a “banana”.

Outro ponto polêmico foram os “jabutis” incluídos na lei da privatização. Um deles exigiu a contratação de 8.000 MW de novas usinas termelétricas a gás, uma decisão considerada por especialistas como um custo excessivo que poderia elevar a conta de luz dos brasileiros em até R$ 52 bilhões.

Com a privatização, a Eletrobras passou a ser gerida como uma empresa privada. Sob a liderança do CEO Wilson Ferreira Jr., a companhia começou uma reestruturação para focar na eficiência e na redução de custos, apresentando um lucro de R$ 4,4 bilhões em 2023.

Entretanto, a mudança de governo trouxe novos desafios. Em maio de 2023, a administração de Lula moveu uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo era contestar a cláusula que limitava o poder de voto do governo a somente 10%, mesmo sendo o maior acionista, com 42% das ações.

O fim da novela e o futuro da empresa

A disputa judicial se arrastou por meses, criando uma maré de incertezas no mercado. A solução veio no final de fevereiro de 2025, quando um acordo entre o governo e a Eletrobras foi alcançado.

O governo concordou em manter o limite de 10% no poder de voto, mas ganhou o direito de indicar três dos dez membros do Conselho de Administração. Para a Eletrobras, o acordo significou uma grande vitória: a eliminação da obrigação de concluir a problemática usina nuclear de Angra 3, um passivo de risco elevado que voltaria a ser responsabilidade do governo.